"Não me devo sentir deprimido porque não sou um profissional da linha da frente".  “Não tenho o direito a queixar-me”. “Tenho que ser produtivo”. “Devo apenas sentir-me grato por me pedirem para ficar em casa".

A positividade tóxica é o incentivo extremo a uma mentalidade exclusivamente positiva, algo que parece estar disseminado na cultura Instagram. Nas redes sociais, somos atingidos por várias citações motivacionais que nos dizem para "persistir" ou "continuar a sorrir". Também nos pedem para escolher se queremos ser felizes ou deprimidos. Este tipo de declarações reforçam o estigma da doença mental e do sofrimento psicológico.

É claro que a  positividade é algo bom para se ter na vida, mas devemos reconhecer que não se trata de ser feliz 24 horas por dia, 7 dias por semana. É impossível. No mundo de hoje existe uma espécie de aversão a emoções negativas. Esquecemos que todos os sentimentos são válidos e nos tornam inteiros, vivos, reais e, no fundo, humanos. Ajudam-nos a construir relações honestas com os outros, dão-nos a oportunidade de conhecer pessoas ou de ter oportunidades que não teríamos se permanecêssemos positivos todo o tempo.

Que abordagens devemos evitar?

  1. Minimizar experiências das pessoas afirmando que "está tudo na cabeça delas".
  2. Comparar as experiências de alguém, em vez de as validar.
  3. Envergonhar outros por expressarem emoções negativas (raiva, frustração ou tristeza).
  4. Ensinar as crianças (especialmente rapazes) que não se deve chorar.

A positividade tóxica pode ter um impacto psicológico negativo em pessoas, incluindo o facto de não serem autênticas, de não processarem inteiramente os sentimentos e de evitarem a validação das experiências emocionais, sendo envergonhados ou castigados por terem pensamentos negativos.

É, assim, importante falar-se em validação, isto é, quando reconhece e identifica as experiências de uma pessoa (ou as suas próprias) como compreensíveis e aceitáveis. Isso não significa necessariamente concordar com a experiência ou sentimento, mas apenas reconhecer que esta pode ser a verdade da pessoa, por enquanto. A validação é também ver a pessoa e aceitá-la como ela é. É bom quando alguém nos reconhece e diz "Vejo que se sente impotente", "Parece que está a ter um dia difícil" ou "O que está a sentir é normal". Estes são exemplos de declarações de validação. Por sua vez, a empatia surge quando se compreende e se partilha o mesmo sentimento com a outra pessoa.

Em vez disto…Ofereça o seguinte…
Pensa positivo!Compreendo que neste momento seja difícil sentirmo-nos felizes. Estou aqui para ti!
Não sejas negativo!É normal sentirmo-nos negativos de vez em quando. O que posso fazer hoje que ajude?
Não te preocupes com isso!Isto deve ser extremamente difícil para ti. O que precisas neste momento?
Nunca desistas!Parece-me que estás a sentir-te em baixo. Vamos perceber o que está a correr mal e fazer algumas mudanças.
Eu não deixaria que isso me incomodasse.Compreendo como te sentes. Não há problema em reconheceres os teus sentimentos e aceitá-los. O que gostarias de fazer neste momento?

Todos nós temos dias e momentos em que simplesmente não conseguimos ser positivos. Esses dias e esses momentos não só são aceitáveis, como fazem parte da vida e, em particular, de uma época pandémica recente.

Seja gentil, nunca se sabe o que os outros estão a passar.

  • Amigos e familiares não se podem reunir pessoalmente para funerais, velórios e outras formas de lidar tipicamente com a perda.
  • Outros são pressionados pelas suas situações pessoais.
  • Há pessoas que estão presas em países onde não vivem.
  • Nem todos têm grande acesso à Internet em casa.
  • Algumas pessoas estão a viver relações tóxicas e violentas de anos.
  • Algumas pessoas não lidam bem com as mudanças.

Pergunte sobre o bem-estar dos outros, de preferência com cuidado, e esteja preparado para ajudar. Mas não o faça de uma forma toxicamente positiva. A autenticidade nas relações vai levá-lo muito mais longe.

As explicações são dos psicólogos Mauro Paulino e Rodrigo Dumas-Diniz da MIND - Psicologia Clínica e Forense.