
No entanto, a conhecida irreverência de Demna Gvasalia também esteve presente, com uma série de homens a usar fatos oversized, botas e óculos escuros, apesar de o desfile ter feito parte da Semana de Alta-Costuma feminina (coleção outono-inverno 2025).
O estilista georgiano, que irá para a Gucci, tinha de se despedir da maison com um último aceno provocador, que já faz parte da sua marca registada há mais de uma década.
Isabelle Huppert, Naomi Campbell, Kim Kardashian e Eva Herzigova desfilaram para o estilista.
Fatos em preto-azeviche, justíssimos na cintura, volumosos nas ancas e com ombreiras tipo Nosferatu deram destaque a rostos sérios e às vezes cadavéricos das modelos maquilhaadas para a ocasião.
Também houve espaço para a cor, como no sumptuoso casaco brilhante de rosas e no conjunto amarelo-canário. Ou no grande vestido branco, rendado dos pés à cabeça que, com uma saia ampla e muito rígida, dava uma aparência quase sagrada à modelo.
"O que o Demna trouxe para a moda, a Balenciaga e o sucesso do grupo é imenso. A sua força criativa é exatamente aquilo que a Gucci precisa", disse François-Henri Pinault, responsável pelo grupo de luxo Kering, no comunicado onde anunciou a transferência do estilista para a marca italiana, sem dúvida a mais aguardada pelo mundo da moda nos últimos meses.
Os boatos sobre a sucessão de Sabato De Sarno, que partiu em fevereiro após ter estado apenas dois anos à frente da Gucci, privilegiavam Maria Grazia Chiuri, que na ocasião estava prestes a deixar a direção artística das coleções femininas da Dior, ou Hedi Slimane, que deixou a Celine em outubro de 2024.
Esta nomeação surpresa pretende reativar a marca italiana, que tem vindo a perder impulso.
A Gucci representava 44% da faturação da Kering (dona da Saint Laurent, Bottega Veneta...), que viu as suas receitas recuarem 12% em 2024 para 17,19 mil milhões de euros, enquanto os seus lucros líquidos caiu aproximadamente 64%.
Durante a sua passagem pela Balenciaga, Demna impôs peças como o casaco "bomber" nas passerelless ou o calçado de plástico Crocs.
Os ténis da Balenciaga são uma referência entre os fashionistas e os fãs de itens de luxo, algo impensável na vida do estilista espanhol.
No entanto, este prodígio da moda às vezes foi longe demais, como no escândalo provocado pelo lançamento de uma campanha publicitária em 2022 onde crianças surgiam a mostrar acessórios de inspiração sado-masoquista.
Plumas em forros e nas cabeças de modelos

A dupla holandesa Viktor and Rolf voltou a recorrer à ironia com um desfile onde apresentou 15 pares de vestidos pretos com pregas e acompanhados de capas de tecidos (tule, crinolina,...), num estilo que remetia para os rígidos vestidos do século XIX.
Cada par de peças era exatamente igual, mas uma delas era decorada com plumas falsas.
"Queríamos mostrar que uma coisa pode ser a mesma e de diferentes maneiras. E gostamos da ideia das plumas porque estão muito vinculadas à alta-costura. Ao mesmo tempo, são um símbolo de liberdade. Temos vindo a explorar esta ideia de transformação várias vezes na nossa carreira, mas nunca de forma tão enérgica como agora", explicou Viktor Horsting à AFP.
As modelos usaram plumas coloridas na cabeça, sozinhas ou na forma de coroas ou chapéus.
Estas plumas foram uma criação de Stephen Jones, o chapeleiro inglês, foi tema de uma retrospectiva recente no Museu da Moda parisiense.
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