O mindfulness e a meditação têm sido conceitos muito estudados no mundo ocidental há várias décadas. Com a pandemia COVID-19, estas práticas tiveram uma maior visibilidade e suscitaram o interesse das pessoas. As redes sociais foram invadidas por vídeos de incentivo à meditação e a simplicidade com que algumas pessoas conseguiam fazê-lo, trouxe frustração para a grande maioria. Porquê? Não é porque a meditação não seja para toda a gente, mas o tipo de meditação pode diferir de pessoa para pessoa. Aliás, isso é o mais natural (e expectável) que aconteça, porque cada um de nós tem as suas particularidades.
São inúmeras as pesquisas e publicações sobre os benefícios da meditação – ajuda as pessoas a lidarem com dores crónicas e doenças diversificadas, auxilia no controlo da ansiedade ou da depressão, melhora a atenção e a eficiência, estimula a criatividade e permite ter pensamentos mais organizados. Neste ponto, creio que a maioria de nós tem a noção dos benefícios desta prática.
Paradoxalmente sabemos que a meditação é boa para nós e a ciência corrobora. Podemos até já ter sentido o benefício da meditação nas nossas próprias vidas em algum momento.
Então, porque não meditamos regularmente?
Eis algumas justificações possíveis, com respetivas formas de ultrapassá-las:
1. Desinformação. Existem muitas crenças, como “não sou do tipo que medita”, “não consigo meditar porque tenho PHDA”, “não tenho tempo para isso”, “não consigo ficar sentado por muito tempo” e, a minha favorita, “não consigo não pensar em nada”. Não é suposto com a meditação não pensar em nada, aliás, isso seria contranatura.
Qualquer pessoa pode meditar, por qualquer período de tempo. Não é obrigatório sentar-se e estar em posições desconfortáveis. Pode praticar a atenção plena enquanto faz o jantar, cuida das plantas, aprecia uma paisagem fabulosa, ou faz uma caminhada. A formalidade da meditação (regras, filosofias, mudras, posições corporais, tipos de respiração) podem potenciar os seus efeitos, mas, para quem está a começar, não é necessário nada disto. O básico será: estar num sítio preferencialmente calmo, livre de distrações, numa posição confortável e a respirar regular e profundamente (exemplo da respiração diafragmática).
2. Meditar é difícil. Sentar-nos sem distrações não é uma tarefa fácil, especialmente para aqueles que lidam com dores físicas ou emocionais. Nestes casos, é preciso ter a disposição de estar presente para a dor emocional que pode surgir - pensamentos, crenças, memórias difíceis - bem como, perceber qualquer dor física que possa estar presente.
O melhor antídoto é a preparação mental e uma boa dose de gentileza. Preparar-nos mentalmente pode exigir a procura de ajuda. Testar várias técnicas de meditação, com ajuda profissional de um psicólogo, pode ser altamente benéfico. Primeiro, porque nos permite desconstruir crenças sobre a meditação e aprender a analisar os sinais do nosso corpo, e, segundo, porque testamos várias técnicas, optando pelas que são adequadas à nossa situação particular.
Se estabelecermos expectativas realistas com antecedência – de que a meditação não se destina a ser um canal para o relaxamento ou para o sono, mas é, na verdade, um trabalho que exige consistência – poderemos ter maior probabilidade de criar uma prática sustentável. Se a palavra “meditação” parecer muito assustadora ou repulsiva, tente substituí-la pela expressão “atenção plena” e aja sempre com autocompaixão quando sentir que está a ficar frustrado ou a experienciar outras emoções desagradáveis.
3. Não ter tempo para meditar. Temos muitas demandas concorrentes no nosso quotidiano e todas exigem a nossa atenção, porque ninguém as faz por nós. Pode parecer um contrassenso estarmos a meditar e, de repente, a nossa mente trazer-nos todos os pensamentos sobre o que devemos fazer assim que terminarmos de praticar a meditação: lavar roupa, fazer o jantar, responder a e-mails, preparar as marmitas para os miúdos, entre uma lista infindável de outras atividades. Para muitas pessoas, o estar sentado sem fazer nada, sabendo o quanto precisa de ser feito, pode ser uma experiência frustrante.
Numa vida cada vez mais ocupada, permitir-nos reservar um tempo para nos sentarmos e simplesmente sermos, não fazendo nada, pode funcionar como uma barreira. Não só isso, mas também o alimentar de ideias populares de como a meditação nos pode levar à iluminação, que, a meu ver, é uma ideia incrivelmente chata e irrealista, fazendo-nos criar o pensamento de que nunca seremos iluminados. Nem precisamos, deixemos isso para os monges!
No entanto, a meditação promove insights e aumenta o nosso autoconhecimento e esses benefícios, por si só, já deveriam ser o suficiente para lhe darmos uma hipótese.
Se consegue identificar que tem crenças sobre a meditação, não seja perentório a rejeitá-la. Olhe para ela com curiosidade e dê pequenos passos diários. Questione-se de onde vem tanta resistência e procure ajuda para a resolver. Aprender a trabalhar a resistência e a desenvolver estratégias de regulação emocional, passa também por aplicar mecanismos de atenção plena no seu dia a dia. Não tem de tornar-se um ser superior com a meditação, mas, seguramente, será uma melhor versão de si próprio com o tempo!
Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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