Esta ferramenta emergiu como uma abordagem cientificamente fundamentada para que as pessoas possam explorar as suas emoções, pensamentos, atitudes, desejos e uma série de outras informações e fenómenos que podem estar a condicionar as suas vidas. Alicerçada na ideia de que expressar emoções por escrito pode ser catártico, esta prática pode trazer diversos benefícios (ex., físicos, psicológicos, emocionais), tais como os que apresento de seguida.
1. Redução do sofrimento psicológico. São inúmeros os estudos que demonstram o alívio de sintomas de sofrimento psicológico através da escrita. Ao encorajar as pessoas a expressarem as suas emoções por escrito, é possível processar e compreender sentimentos complexos. O trabalho de investigadores como Pennebaker e Beall demonstrou que confrontar e expressar emoções por escrito pode levar a uma redução percetível nos sintomas associados à depressão e ansiedade, por exemplo.
2. Facilitação do processamento emocional. Uma das vantagens fundamentais da escrita terapêutica reside na sua capacidade de facilitar o processamento emocional e de promover uma compreensão mais profunda dos sentimentos, contribuindo para o crescimento emocional e bem-estar. Além disso, permite aumentar o conhecimento sobre as emoções e respetivos impactos e manifestações no nosso corpo. Vários autores destacaram a importância da revelação emocional por escrito na melhoria dos resultados de saúde, enfatizando o papel da escrita na cura emocional.
3. Melhoria do sistema imunitário. Além do seu impacto na saúde mental, a escrita terapêutica foi associada a melhorias na saúde física, especialmente na função do sistema imunitário. Foram conduzidos estudos que mostraram que a escrita pode influenciar positivamente parâmetros imunitários. Esta fascinante conclusão sugere uma possível ligação entre a expressão emocional e a resistência fisiológica.
4. Alívio de sintomas de Stress Pós-Traumático. A escrita terapêutica tem mostrado dados promissores no contexto da recuperação de traumas, especialmente na redução de sintomas associados ao transtorno de stress pós-traumático (PTSD). Psicólogos que se dedicaram ao estudo dos efeitos da escrita terapêutica descobriram que procedimentos estruturados através da escrita foram eficazes na diminuição dos sintomas agudos, oferecendo uma abordagem terapêutica valiosa para indivíduos que enfrentam traumas.
5. Processamento cognitivo e flexibilidade cognitiva. Os benefícios cognitivos da escrita terapêutica estendem-se a melhorias no processamento cognitivo e flexibilidade cognitiva (i.e., conseguir perspetivar um determinado fenómeno de formas diferentes). Vários estudos destacaram o impacto positivo da escrita nas funções cognitivas, enfatizando o seu papel na promoção da flexibilidade cognitiva e influência nos esquemas cognitivos (que resultam da organização e processamento de estímulos e perceções de um indivíduo acerca de uma determinada situação, tendo por base as suas experiências e aprendizagens anteriores), sugerindo que o ato de escrever pode contribuir para mudanças positivas na forma como pensamos.
6. Melhoria na Qualidade do Sono. O sono, um componente fundamental do bem-estar, também foi explorado no contexto da escrita terapêutica. Investigações mais recentes sugerem que a escrita pode contribuir para melhorias na qualidade do sono. Ao reduzir pensamentos intrusivos e a ativação emocional, a escrita terapêutica emerge como uma aliada potencial na promoção de um sono reparador.
À medida que a exploração científica da escrita terapêutica avança, as evidências que respaldam as suas vantagens para o bem-estar emocional continuam a crescer. Desde a redução do sofrimento psicológico até a melhoria da função do sistema imunitário, à facilitação do processamento emocional e alívio de sintomas de traumas, os benefícios desta prática são diversos e reveladores.
No entanto, muito embora a escrita terapêutica tenha múltiplas vantagens, a verdade é que nem todas as pessoas conseguem experienciar todos esses benefícios. Por vezes, mostram resistência a esta ferramenta, havendo crenças e esquemas que dificultam a integração da escrita e que o profissional poderá trabalhar com o cliente na desconstrução das mesmas. Além disso, nem todos os exercícios são adequados a todas as pessoas. A ideia é a mesma dos livros de autoajuda: por que é que não ajudam efetivamente toda a gente? A resposta é semelhante em ambos os casos. A prescrição de qualquer exercício (ou livro, como parte integrante do processo terapêutico) deve considerar as especificidades de cada pessoa.
A boa notícia é que existem vários exercícios de escrita terapêutica que irão variar em função da fase da terapia em que se encontra, do seu gosto pela escrita, da capacidade de se expressar, da sua idade, entre outras variáveis. No entanto, mediante o perfil de cada pessoa, há sempre formas de introduzir a escrita terapêutica para que ela possa ser promotora de mudanças e de um aumento geral do bem-estar. Num próximo artigo, falarei de outros benefícios e de como pode integrar esta prática no seu dia a dia.
Se considera que beneficiaria de acompanhamento psicológico para se autoconhecer, aprender a regular as emoções ou a mudar determinados comportamentos ou pensamentos que o/a fazem sentir sem rumo ou estagnado/a, não hesite em procurar ajuda profissional.
Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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