Todas as emoções têm uma função e a tristeza não é uma exceção à regra. É natural que tenha tendência para pensar que estar triste é algo negativo, até porque tende a vigorar uma regra social segundo a qual o normal é estarmos sempre alegres e bem-dispostos. Se quer aprender a lidar com a tristeza, comece por rejeitar esta ideia. Esse é o primeiro conselho de Vítor Rodrigues, psicólogo clínico e ex-presidente da Eurotas - Associação Transpessoal Europeia.
Estar triste não só é natural, toda a gente já se sentiu triste alguma vez, como é uma reação saudável, desde que não se prolongue excessivamente no tempo. Na prática, o seu organismo está a pedir-lhe que pare e dê atenção a si próprio. A tristeza é uma chamada de atenção para algo que se passa connosco a um nível mais profundo. É um convite ao isolamento e à introspeção. Não a negue nem a ignore. Não fuja nem tenha vergonha de se sentir assim.
Use esse estado, antes, para se conhecer melhor, para aprender sobre o mundo que o rodeia e para evitar repetir alguns erros. Tente ser o mais honesto possível, baixe as suas defesas interiores e escreva as respostas que encontrar para as seguintes perguntas-chave:
- Por que estou triste?
- O que é que a tristeza me diz?
Esse é o primeiro passo, mais introspetivo, a seguir. Perceber o que se passa consigo e o que é que está a acontecer à sua volta que lhe esteja a causar tristeza. O segundo é passar à prática, adotando uma postura mais interventiva. "Busque momentos de isolamento, de interioridade, de reflexão e de autoconhecimento", recomenda o psicólogo clínico Vítor Rodrigues. Observe o que sente como se fosse espetador de si próprio, sem se deixar embrulhar na negatividade.
O plano de ação que deve implementar
Perceba as sensações que despertam em si e a forma como o seu corpo, energia e memória reagem. Procure atividades tranquilas que lhe são agradáveis, como visitar um museu, ler um livro ou dar um passeio. Salvo se estiver muito deprimido, a sua tristeza será atenuada por acontecimentos agradáveis, ainda que com curtos momentos de contentamento. Não se deixe dominar por situações de alegria que não apreciaria realmente mesmo antes de estar triste.
Rodeie-se de amigos ou de pessoas com quem se sente à vontade para conversar ou, pura e simplesmente, estar em silêncio. Embora a tristeza seja uma emoção primordial, quando se arrasta há, por exemplo, mais de duas semanas e parece excessiva, desproporcionada ou muito difícil de gerir pode significar que mergulhou de tal modo em si próprio que precisa de ajuda para se libertar desse estado. A tristeza prolongada pode ser sintoma por exemplo de depressão.
Nalguns casos, a existência de perturbações neurológicas também pode provocar sintomas psicológicos. A tristeza pode ser secundária a problemas onde o lado fisiológico e psicológico se conjugam, como quando há um acidente, um receio maior, um trauma, uma doença grave que ameaça a vida ou que lhe retira qualidade e assim por diante... Tanto num caso ou noutro, deve recorrer a ajuda especializada, nomeadamente um psicólogo ou até mesmo um psiquiatra.
Texto: Rita Miguel com colaboração e revisão científica de Vítor Rodrigues (psicólogo clínico e ex-presidente da Eurotas - Associação Transpessoal Europeia)
Comentários