O burnout, também conhecido como Síndrome de Burnout, é uma resposta à exposição recorrente e prolongada a stressores físicos e emocionais, contextualizados ao local de trabalho, que resultam num estado de exaustão e para o qual o indivíduo não tem estratégias adaptativas para lidar. O burnout não desaparece por si só e, se não for tratado, pode levar a graves doenças físicas e psicológicas, como depressão, doenças cardíacas e diabetes.
Embora possa acontecer em qualquer atividade profissional, há algumas que parecem estar mais predispostas à sua ocorrência, nomeadamente as que impliquem um contacto diário com pessoas (por exemplo, professores, profissionais de saúde), tendo em conta a exigência e as responsabilidades implicadas nessas práticas profissionais, que mexem com a estrutura da saúde emocional. Devido à elevada prevalência, o burnout é classificado na 11.ª revisão da CID (Classificação Internacional de Doenças, da Organização Mundial de Saúde) que entrará em vigor em 2022.
De acordo com a investigação, existem três estágios de evolução do burnout, designadamente a exaustão emocional, a despersonalização ou desumanização e a eficácia profissional reduzida. A exaustão emocional caracteriza-se pela sensação de desgaste e de acumulação emocional, que se traduz em cansaço físico e emocional. A pessoa deixa de ter energia para concretizar as suas funções e tudo passa a ser penoso.
A despersonalização/desumanização diz respeito à tomada de uma atitude relacional mais impessoal e sem afetividade. A pessoa torna-se menos empática e humanizada com o outro. É uma fase onde existem barreiras (cognitivas e emocionais) em relação ao trabalho e às pessoas com quem lida diariamente e que são o motivo dessa sobrecarga.
Finalmente, a eficácia profissional reduzida traduz-me numa sensação de descontentamento e desmotivação com o trabalho, que conduz à perceção de perda de sentido e de interesse. O trabalho passa a ser mais do que uma obrigação, um fardo, e como consequência o investimento é cada vez menor.
O burnout não aparece de rompante, vai dando sinais
Existem vários sinais que valem a pena conhecer e aos quais deve estar atento(a). Por vezes, passam completamente despercebidos, até chegar a um momento sem retorno:
1. Ambições excessivas. É algo comum em pessoas que iniciam um novo emprego ou realizam uma tarefa nova. No entanto, demasiada ambição pode levá-lo(a) a trabalhar mais do que é suposto e levá-lo(a) ao esgotamento.
2. Negligencia as suas próprias necessidades. Começa a sacrificar a sua rotina de descanso, de relaxamento e de lazer em prol do trabalho.
3. Deslocamento de conflito. Em vez de reconhecer que está no seu limite, começa a culpar os seus superiores, a exigência do seu trabalho ou os colegas pelos seus problemas.
4. Negação. Nega que algo que está mal consigo e impacienta-se com aqueles que o rodeiam. Em vez de assumir a responsabilidade dos seus comportamentos, culpa os outros pela sua sensação de fracasso e de exaustão.
5. Negligencia o seu círculo social e começa a afastar-se dele. Começa a afastar-se da família e dos amigos. Tudo o que envolva sair de casa, ir a jantares ou fazer programas simples começam a parecer uma tortura, em vez de serem agradáveis.
6. Começa a sentir um grande vazio interior e/ou ansiedade. E para colmatar esse vazio, pode recorrer substâncias, a jogos de azar ou a ter comportamentos alimentares desadequados e exagerados.
7. Depressão. A vida parece perder significado e a pessoa começa a sentir-se desesperançada e entra num estado apático.
8. Colapso mental ou físico. Nesta fase, a ajuda profissional e a eventual medicação são inquestionáveis e imprescindíveis.
Estes sinais têm implicações claras a nível afetivo (tristeza, irritabilidade desânimo, apatia, humilhação, fúria, preocupação), cognitivo (dificuldades de atenção e de concentração, dificuldades de memória, diminuição da autoconfiança, do autoconceito, da autoestima e da autoimagem) e físico (sintomas psicossomáticos, como falta de ar, coração acelerado, sintomas gastrointestinais, fadiga, hipertensão arterial). A estes acrescentam-se as alterações comportamentais e a atitude em relação ao trabalho, caracterizada por uma forte desmotivação e, consequente diminuição de entusiasmo, empenho e eficácia profissionais.
Como prevenir e ultrapassar uma situação de burnout?
1. Comece o dia com um ritual de relaxamento. Medite, escreva ou simplesmente leia algo inspirador para começar o seu dia.
2. Estabeleça limites. Aprenda a dizer “não”. Assim, tem tempo para o que realmente importa.
3. Faça uma pausa das tecnologias. Durante algumas horas, desconecte-se das redes sociais e dedique tempo para si para os que lhe são importantes.
4. Aprenda a gerir a ansiedade e o stresse. Aprender técnicas de gestão de stresse permite restabelecer o equilíbrio que necessita.
5. Exercite-se e tenha as suas horas de descanso. Não precisa necessariamente de ir para ginásios, precisa só de vontade e de meia hora por dia!
6. Peça ajuda. Durante períodos stressantes, é importante procurar ajuda. A psicoterapia tem múltiplos benefícios que se repercutirão em todas as áreas da sua vida.
Como ajudar os seus amigos ou familiares com burnout?
1. Oiça as dificuldades da pessoa amiga ou membro da família. Ter alguém com quem conversar pode fazer toda diferença. Muitas vezes, as pessoas precisam de alguém para testemunhar o seu stresse e sofrimento, e uma escuta eficiente pode ser o primeiro passo.
2. Valide os sentimentos e as preocupações da outra pessoa. Quando alguém com burnout lhe confidencia algo, não desvalorize dizendo que “melhores dias virão”. Valide os sentimentos da pessoa, dizendo algo como “estás a trabalhar tanto que consigo entender por que te sentes tão exausto(a)".
3. Ofereça tipos específicos de ajuda. Pessoas que se sentem esgotadas estão demasiado cansadas para fazer as tarefas mais simples do dia a dia. Em vez de perguntar como é que pode ajudar, ofereça-se para fazer uma refeição, ir às compras, levantar uma encomenda. Em casos mais graves, ofereça-se para pesquisar ajuda profissional e acompanhe a pessoa à consulta marcada.
4. Tenha gestos amáveis. Uma mensagem de texto, um cartão, ou um mimo qualquer, pode lembrar amigos e familiares de que não estão sozinhos. Como costumam trabalhar durante muitas horas, as pessoas com burnout podem sentir-se sozinhas e subestimadas, por isso pequenos gestos de bondade e de amor podem ser estimulantes e reconfortantes.
Embora ainda haja um estigma associado à procura de ajuda profissional, o mesmo deve ser combatido e quebrado, pois procurar ajuda no momento certo evita situações clínicas mais graves e tratamentos mais prolongados. Da mesma forma que deve cuidar do seu corpo e da sua saúde física, deve cuidar da sua saúde mental.
As recomendações são de Laura Alho, Psicóloga Clínica e Forense da Mind – Psicologia Clínica e Forense (www.mind.com.pt)
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