Um dos grandes estigmas sobre a procura de ajuda psicológica é que só os “malucos” a procuram, porque têm motivos evidentes. Este é um mito antigo e, como qualquer mito, é irreal e deve ser ultrapassado para bem da nossa saúde mental. Para muitas pessoas, a decisão de procurar um psicólogo, pela primeira vez, é algo muito difícil, porque sentem que vão ter que expor as suas vulnerabilidades e resistem a estar nessa posição pelo desconforto que lhe causa. Na maioria das vezes, as pessoas esperam demasiado tempo e isso faz com que os seus problemas tomem proporções maiores e mais nefastas.
A saúde mental continua a ser negligenciada e colocada para último plano, pois aparecem sempre outras “prioridades” que requerem atenção e investimento e que fazem com que as pessoas descurem o que é realmente importante. Para ajudá-lo(a) a entender o momento em que pode procurar um acompanhamento psicológico estruturado, deixo-lhe dez sinais a que deve estar atento.
- Tarefas do dia a dia parecem ser difíceis e desgastam-no(a) muito. Se tarefas rotineiras como tomar banho, vestir-se, tratar dos afazeres domésticos, tratar das refeições, lhe parecem consumir muita energia, então é preciso ser algum cuidado porque pode representar sintomas existentes em vários quadros clínicos.
- Procrastina em tudo. A procrastinação está ligada a uma série de problemas. Quando vê a sua “check-list” diária e apercebe-se da quantidade de coisas que tem para fazer, começa a sentir um desgaste e uma sensação de querer evitar o que tem para fazer a todo o custo. Isto pode fazer com que não cumpra prazos ou desmarque encontros com amigos, se esqueça de coisas importantes. A ansiedade começa a tomar conta de si e inicia-se um processo de rutura que, se não intervencionado, poderá levar para condições mais sérias.
- Tem noites agitadas e não consegue ter um sono reparador. Se se deita preocupado(a), se tem dificuldades em adormecer e se acorda muitas vezes durante a noite ou até dorme toda a noite, mas acorda mais cansado(a) do que se deitou, então o seu sono está a sofrer perturbações e deve procurar ajuda.
- Está constantemente a pensar em muitas coisas e não se consegue focar. Ainda o dia vai a meio e já se sente sem energia e sem recursos suficientes para fazer o seu trabalho. Os seus pensamentos tornam-se descontrolados e acaba por não conseguir manter o foco até em coisas relativamente simples.
- Sente-se incapaz de tomar decisões, por mais básicas que possam parecer, e sente que está, de alguma forma, a perder o controlo da sua vida.
- Sente-se sozinho(a) e as pessoas à sua volta começam a perceber que algo não está bem. Se as relações mais significativas começam a ressentir-se, é altura de procurar ajuda.
- Sente-se infeliz e apetece-lhe desistir de tudo. Cancela planos, começa a pensar ponderar faltar ao trabalho, evita tudo o que lhe causa stresse (mesmo que seja uma perceção irrealista) e não tem paciência para as pessoas à sua volta.
- Sente-se sempre irritado ou afetado com o que se passa à sua volta. Reage de forma intensa e desproporcionada às situações. Por vezes, pode estar sozinho(a) e ter essa sensação de irritação constante.
- Está sempre a boicotar as coisas boas e sente que não tem valor. Começa por desvalorizar as coisas que lhe costumavam dar algum prazer, passando a ignorar as coisas que consegue fazer e os objetivos que consegue atingir e fica focado nas falhas. Se não houver intervenção, acaba por escalar estes sentimentos e começar a achar que não tem valor enquanto profissional ou enquanto pessoa.
- Sente a necessidade de estratégias para lidar com um evento stressante ou uma simples vontade de falar com alguém que não o julga. Falar com um profissional de saúde mental deve ser a solução mais imediata, pois previne problemas mais sérios no futuro.
Os benefícios de um acompanhamento psicológico estruturado podem ser preventivos e interventivos. Preventivos no sentido de não deixar que se desenvolvam perturbações mais sérias, e interventivos quando a perturbação já existe. Com ou sem psicopatologia, seguramente, pode beneficiar de ganhos significativos, por exemplo, no seu autoconhecimento, na melhoria geral das suas relações, na superação de limites, no equilíbrio emocional e na aquisição de competências variadas.
Não negligencie os sinais de alerta, pois eles podem custar-lhe a sua saúde mental e a qualidade da sua vida.
Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Psicologia Clínica e Forense.
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