Suponhamos que o(a) leitor(a) trabalha numa empresa renomada e está num cargo importante há alguns meses e, quando as pessoas o chamam pelo seu título formal, sente-se uma fraude porque não domina essa posição. Ou, então, imagine que ganhou um prémio no seu local de trabalho, mas sente que nada fez para merecê-lo e foi uma questão de sorte. 

Não raras vezes, deparamo-nos com situações em que nos sentimos uns verdadeiros impostores, não merecedores do reconhecimento que nos está a ser atribuído.  Esta sensação pode ser intensa e levar a pessoa a pensar que seja uma fraude. Mas, calma. O facto de se sentir como tal, não significa que o seja realmente. Vamos perceber o que é a Síndrome do Impostor.

Esta síndrome é uma experiência psicológica interna na qual a pessoa acredita que não é tão competente quanto os outros percebem, ainda que tenha, de facto, evidências do seu sucesso nessa área. Isto significa que a pessoa pode ter esta síndrome, mesmo em áreas em que se destaca naturalmente, só que em vez de reconhecer as suas capacidades – bem como os seus esforços para atingir resultados –, muitas vezes atribui o seu sucesso a causas externas ou transitórias como a sorte. 

A síndrome do impostor não é uma doença mental diagnosticável reconhecida no Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5), mas é bastante comum. Na década de 70, as psicólogas Suzanna Imes e Pauline Rose Clance usaram a expressão “Síndrome de Impostor” pela primeira vez e este fenómeno tem sido objeto de estudo ao longo do tempo. Segundo os investigadores Sakulku e Alexander (2011), estima-se que 70% das pessoas experimentarão pelo menos um episódio desta síndrome em algum momento da vida, que se reflete em níveis de inquietação e nervosismo intensos, assim como numa narrativa interna negativa. Sintomas de ansiedade e depressão acompanham, geralmente, a síndrome do impostor.

Algumas características deste estado interno incluem: a incapacidade de avaliar realisticamente as suas competências; a atribuição do seu sucesso a fatores externos; a desvalorização do seu desempenho; o medo de não corresponder às expectativas; a autossabotagem; o questionamento constante das suas ações; o estabelecimento de metas desafiadoras ou irrealistas; e a deceção por sentir que ficou aquém do pretendido.

A síndrome do impostor pode ser dividida em cinco tipos:

  1. O Perfeccionista. Esse tipo de síndrome envolve acreditar que poderia ter feito sempre melhor. A pessoa sente-se uma impostora porque os seus traços perfeccionistas fazem acreditar que não é tão boa quanto os outros pensam que é (ver artigos sobre perfeccionismo). 
  2. O especialista. O especialista sente-se um impostor porque acredita que não sabe tudo o que há para saber sobre um determinado assunto ou tópico, ou não domina todas as etapas de um processo. Para este tipo de pessoa há sempre coisas para aprender, sentindo que nunca chega a dominar nada para atingirem o nível de "expert".
  3. O Génio Natural. Aqui a pessoa pode sentir-se uma fraude simplesmente porque não acredita que é naturalmente inteligente ou competente. Se não acertar algo na primeira tentativa ou demorar mais para dominar uma competência ou resolver algum problema, sente-se um impostor.
  4. O Solista. Também é possível sentir-se um impostor se tiver de pedir ajuda para atingir um determinado nível, cargo ou estatuto. Como sente que não conseguiria chegar lá sozinho, questiona as suas competências e conhecimento, achando que não é merecedor, mesmo que os outros achem que seja.
  5. A Superpessoa. Esse tipo da síndrome do impostor envolve acreditar que se deve ser o trabalhador mais dedicado ou alcançar os mais altos níveis de realização possíveis e que, se não o fizer, será uma fraude. Uma espécie de super-herói que lhe trará apenas dissabores e não superpoderes.

Se costuma sentir-se uma fraude ou um impostor, pode ser útil procurar ajuda profissional. O pensamento negativo, a dúvida e a autossabotagem, que geralmente caracterizam a síndrome do impostor, podem afetar diversas áreas da sua vida e merece ser alvo de uma intervenção estruturada. Não se sinta sozinho(a).

Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.