No último artigo que escrevi sobre perfeccionismo, partilhei com o leitor que esta característica envolve uma tendência a estabelecer padrões elevados que não podem ser atendidos ou que são alcançados com grande dificuldade. Enquanto a maioria das pessoas acredita que é importante tentar fazer o melhor e não cometer erros – aceitando o erro como algo inevitável –, os perfeccionistas tendem a acreditar que nunca devem cometer erros e que cometê-los significa que são um fracasso.

Tendo em conta que esta característica causa sofrimento e pode conduzir a quadros clínicos diversos (e.g., depressão, ansiedade), deixo-lhe algumas dicas para entender e lidar com o perfeccionismo, que devem ser conduzidas por um profissional. Caso contrário, caímos no padrão dos artigos e dos livros de autoajuda que não levarão a lugar nenhum.

1. Qualidade dos Pensamentos

A primeira coisa a ser trabalhada em psicoterapia é a análise dos pensamentos recorrentes do perfeccionista. Depois, é importante trabalhá-los por forma a que se desenvolva:

a) O pensamento realista. Como os perfeccionistas costumam ser muito críticos consigo próprios, uma das maneiras mais eficazes é substituir pensamentos autocríticos por declarações realistas. Para tal, será importante que o profissional apresente técnicas de mudança da narrativa interna.

b) A mudança de perspetiva. Os perfeccionistas também tendem a ter dificuldade em ver as coisas do ponto de vista de outra pessoa. Ou seja, tendem a não pensar em como os outros podem ver uma situação (por exemplo, o leitor acreditar que é preguiçoso porque só consegue exercitar-se 1 hora em vez de 2 horas, todos os dias). Aprender a ver as situações como outras pessoas podem vê-las pode ajudá-lo a mudar algumas dessas crenças disfuncionais.

c) A visão geral. Os perfeccionistas prendem-se a detalhes e passam muito tempo a preocuparem-se com “pequenas coisas” (por exemplo, qual fonte usar num e-mail). Uma estratégia útil para se preocupar menos com detalhes é fazer a si mesmo as seguintes perguntas: Isto realmente importa? Qual é a pior coisa que poderia acontecer? Se o pior acontecer, vou sobreviver? Se fosse outra pessoa, ela faria o mesmo que eu?

d) O compromisso. As distorções cognitivas (formas de processamento da informação enviesadas) estão presentes nos perfeccionistas (ver artigo sobre algumas das distorções cognitivas) e uma forma de trabalhá-las é através do compromisso. Comprometer-se envolve estabelecer padrões mais realistas ou ser mais flexível com padrões pré-estabelecidos.

2. Alterar comportamentos

Ter um problema com o perfeccionismo é como ter uma “fobia” de cometer erros ou ser imperfeito. Enfrentar os medos de forma gradual e consistente é a maneira mais eficaz de superar as fobias, e é chamado de “exposição”. Superar o perfeccionismo passa por fazer exatamente o mesmo – cometer erros de forma gradual e propositada. A partir daí, você pode tentar chegar a padrões mais razoáveis ​​que esteja disposto a aceitar, fazendo-o gradualmente, por etapas, e com a ajuda do seu psicólogo.

3. Trabalhar a procrastinação

Muitos perfeccionistas costumam lidar com o medo de cometer erros, procrastinando. Para evitar a procrastinação:

  • Crie cronogramas realistas. Divida tarefas maiores em etapas gerenciáveis. Lembre-se, o objetivo é completar a tarefa, não torná-la perfeita!
  • Defina prioridades. Priorize as suas tarefas decidindo quais são as mais importantes a serem realizadas e quais são menos importantes. E lembre-se: está tudo bem em não dar 100% em todas as tarefas.
  • Recompense-se. Como é difícil enfrentar os seus medos e mudar maneiras de fazer as coisas, recompense-se por todos os ganhos terapêuticos que está a ter.

Apesar das estratégias que aqui apresento, saliento a importância de haver acompanhamento para lidar com o perfeccionismo, por forma a que os resultados sejam a longo-prazo e não representem apenas o efeito-placebo de uma mudança psicológica ineficiente e autoconduzida. Não se sinta sozinho, procure ajuda estruturada.

Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.