O que é um tumor da órbita e quais são os principais sinais de alerta?
A órbita, ou região orbitária, corresponde ao espaço que rodeia o olho, e embora o seu volume seja relativamente pequeno concentra uma elevada diversidade de estruturas incluindo o nervo óptico, os nervos e músculos responsáveis pelos movimentos do globo ocular, a glândula lacrimal, gordura, artérias e veias. Qualquer um destes tecidos pode tornar-se o ponto de partida para o crescimento anormal de uma lesão.
É importante não desvalorizar algumas manifestações, que justificam uma observação especializada que não deve ser adiada.
- olho saliente
- palpação de uma massa anormal
- dor
- visão dupla (imagem a dobrar)
- queda da pálpebra superior
- diminuição da visão
- progressão rápida dos sintomas
No panorama atual a deslocação às instituições de saúde poderá provocar alguma apreensão, o que se pode vir a acentuar nos meses de inverno dada a possibilidade de uma segunda vaga da Covid-19. Esse receio torna-se um desafio para a detecção e tratamento de várias patologias, entre as quais os tumores da órbita. Adiar a ida a um especialista poderá fazer a diferença entre um diagnóstico e tratamento precoces e o diagnóstico em fases mais avançadas, com possível perda irreversível da visão e risco para a própria vida.
Que tipos de tumores de órbita existem e com que frequência ocorrem?
Tumor não é sinónimo de cancro, é um termo que define o crescimento anormal de um tecido numa determinada região do corpo, podendo ser benigno ou maligno.
Os tumores da órbita são raros e a maioria tem um carácter benigno. Cerca de 85% dos casos desenvolvem-se primariamente a partir de um tecido desta região, sendo que os restantes crescem a partir de zonas adjacentes (como os seios perinasais ou crânio) ou propagam-se a partir de zonas longínquas do corpo formando metástases.
Os tipos de tumores mais comuns variam com a idade, e considerando a sua origem podemos dividi-los em tumores vasculares (crescem a partir dos vasos sanguíneos), neurogénicos (que incluem os tumores do nervo óptico), linfomas (secundários a uma proliferação descontrolada de linfócitos), tumores da glândula lacrimal, entre outros.
Os tumores da órbita podem ocorrer na infância?
Sim podem, mas são habitualmente distintos daqueles que se desenvolvem em idade adulta. Os tumores mais frequentes em crianças estão associados a alterações do desenvolvimento e são benignos, englobando sobretudo lesões vasculares como hemangiomas infantis, quistos dermoides, ou lesões inflamatórias. Nesta faixa etária os tumores malignos são mais raros. Importa realçar que numa criança o crescimento de uma lesão ou a evidência de um olho mais saliente, sobretudo com uma progressão rápida, deverão ser imediatamente investigados.
Como se manifestam estes tumores?
Os sinal mais comum é a assimetria da posição dos olhos, em que um deles se torna mais saliente (chamamos a este sinal proptose ou exoftalmos). Uma lesão que cresce numa cavidade óssea inextensível inevitavelmente “empurra” os órgãos adjacentes, incluindo o globo ocular. Por vezes este sinal passa despercebido durante muito tempo, o que não é incomum em tumores de crescimento lento. Noutras situações, contudo, a progressão é muito rápida e pode associar-se a outros sintomas, aspetos importantes quando tentamos determinar se uma lesão é benigna ou maligna.
Outros sinais a considerar são a dor, visão dupla (imagem a dobrar), o desvio progressivo do olho (estrabismo), a queda progressiva da pálpebra superior ou perda de visão. Quando o tumor é anterior pode inclusive ser visível e palpável durante a observação. Convém sublinhar que um olho mais saliente não é sinónimo de tumor orbitário. Nalguns casos a proptose, sobretudo quando associada a dor, olho vermelho e/ou visão dupla, pode ser causada por um quadro inflamatório, não neoplásico. É comum ser utilizado neste contexto o termo “pseudotumor”, uma vez que se apresenta de forma muito similar a um verdadeiro tumor. Esta distinção terá implicações terapêuticas e prognósticas importantes e deverá ser feita por um especialista com experiência em doenças orbitárias.
Que exames são importantes para o diagnóstico? Como posso saber se um tumor é benigno ou maligno?
O primeiro passo será uma observação detalhada por um especialista com experiência na área. Essa avaliação permitirá identificar eventuais repercussões oftalmológicas e selecionar os exames complementares mais apropriados. Habitualmente são pedidos estudos de imagem – que podem incluir uma tomografia computorizada e/ou ressonância magnética- com o objetivo de identificar, localizar e caracterizar de forma mais exata uma eventual lesão, bem como o seu efeito nas estruturas adjacentes. As características radiológicas do tumor, associadas à observação feita em consulta, a idade do paciente e a forma de apresentação permitem com frequência apontar um diagnóstico mais provável. Alguns casos exigem uma colheita e análise de uma amostra da lesão (biópsia), para um diagnóstico preciso e uma adequada orientação terapêutica.
Como se tratam?
O tratamento depende do tipo de tumor e cada caso deverá ser analisado individualmente. Consoante o diagnóstico a decisão poderá passar pela vigilância regular (em tumores benignos sem repercussão funcional), cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou imunoterapia. Com frequência torna-se necessária uma abordagem multidisciplinar, sendo importante a existência de equipas que integrem especialistas de Oftalmologia, Neurocirurgia, Otorrinolaringologia, Oncologia, Hematologia, Radioterapia, entre outros, que possam dar uma resposta mais adequada a cada situação.
Por tudo isto, adiar uma observação por um especialista perante um ou mais sinais de alerta não deve fazer parte da equação - hoje as unidades de saúde têm implementados vários protocolos e circuitos de forma a garantir condições de segurança quer a doentes quer a profissionais de saúde. Se identificar qualquer um dos sintomas descritos não hesite em procurar ajuda médica.
Um artigo da médica Ana Filipa Duarte, oftalmologista da Unidade de Órbita do Hospital CUF Descobertas.
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