Geralmente, as pessoas com esta perturbação tendem a interpretar mal as funções normais do organismo, como sendo sinais de doença. Mesmo depois de testes e exames médicos que mostram resultados normativos, estas pessoas continuam preocupadas com a ideia de que estão seriamente doentes e que, apesar de os exames não revelarem nenhuma anomalia, têm algo que ainda não foi diagnosticado. E esta ideia persistente acaba por interferir com as relações interpessoais, o trabalho e a vida, no sentido geral.

Estima-se que cerca de 1% a 5% da população geral tenha esta perturbação, afetando tanto homens como mulheres. Alguns dados referem uma prevalência entre 4% a 9% nas consultas de clínica geral em Portugal.

Uma pessoa que sofra desta perturbação encaixa geralmente numa de duas categorias:

  1. Os que procuram de cuidados de saúde, passando imenso tempo num contexto hospitalar, procurando múltiplos especialistas e testes médicos para chegarem a um diagnóstico;
  2. Os que evitam os cuidados de saúde, por não confiarem nos profissionais e acharem que os seus sintomas não são levados a sério, criando ainda mais ansiedade.

Ainda não são inteiramente conhecidas as causas desta perturbação, mas vários estudos têm demonstrado que existe uma maior predisposição se existir um histórico de trauma na infância (como por exemplo abuso e/ou negligência), stresse extremo, problemas de ansiedade na família, doenças graves na família, problemas mentais, entre outros.

As pessoas com esta perturbação têm um medo irrealista, mas contínuo, de que estão seriamente doentes. No entanto, as doenças sobre as quais se preocupam podem mudar regularmente, levando a uma busca incessante por um diagnóstico.

Importa salientar que algumas pessoas com esta perturbação podem até ter sido diagnosticadas com uma condição física e, por essa razão, pensar que a condição é mais grave do que realmente é, escalando os seus níveis de ansiedade.

Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição ou DSM-5, os principais sintomas podem incluir:

  1. Evitar pessoas ou lugares devido ao medo de apanharem doenças;
  2. Pesquisar constantemente sobre doenças e sintomas;
  3. Exagerar sintomas e a sua gravidade (por exemplo, uma tosse pode ser interpretada pela pessoa com esta perturbação como sinal de cancro do pulmão);
  4. Ter níveis elevados de ansiedade sobre a sua saúde;
  5. Ter uma obsessão com funções vitais como o batimento cardíaco ou a respiração;
  6. Partilhar excessivamente os sintomas com outras pessoas;
  7. Procurar constantemente sinais de doença, como verificar a pressão sanguínea ou a temperatura;
  8. Procurar o apoio de pessoas queridas sobre os seus sintomas e falar sempre do mesmo;
  9. Inquietação sobre funções corporais normativas como a sudorese e/ou a flatulência.

Um enorme problema que pode aumentar ainda mais a ansiedade das pessoas que padecem desta perturbação é a desinformação sobre a perturbação e o perigo dos autodiagnósticos, muitas vezes feitos através do “Dr. Google” ou de consultas de livros de saúde e de autoajuda (ver artigo sobre esta última temática aqui). Apesar de as pessoas poderem ter os sintomas acima descritos, o diagnóstico deve ser feito por um profissional qualificado para a verificação de um diagnóstico diferencial, já que existem perturbações que têm alguns critérios semelhantes.

O tratamento da Perturbação de Ansiedade de Doença pode ser feito através de antidepressivos e de Terapia Cognitivo-Comportamental, por forma a que as pessoas possam falar abertamente dos seus medos e ansiedades, sem julgamentos, sem o receio de serem mal interpretados ou não serem levadas a sério, bem como aprenderem estratégias eficazes e personalizadas para lidarem com as suas dificuldades.

Esta perturbação pode levar as pessoas a sentirem-se severamente deprimidas e terem, inclusivamente, ideação suicida. Se pensarmos nas repercussões imediatas, como problemas financeiros devidos a contas médicas exacerbadas na procura de um diagnóstico, as faltas ao trabalho, a realização de testes desnecessários e que podem levar a complicações reais, conseguimos perceber o impacto grave que esta perturbação pode ter na vida das pessoas que dela padecem e das pessoas que estão ao redor e que não sabem como ajudar.

A Perturbação de Ansiedade de Doença é uma condição crónica e contínua. A pessoa pode passar por períodos em que tem pouca ou nenhuma ansiedade relacionada à saúde/doença, mas acaba por regressar. Daí, a importância de um acompanhamento consistente.

Viver com esta perturbação causa exaustão, mas é possível aprender estratégias de enfrentamento para ajudá-lo/a a ter uma maior qualidade de vida. Além do seu médico, procure um psicólogo para que, num espaço seguro, concretize mudanças comportamentais eficientes.

Um artigo da psicóloga cínica Laura Alho, da MIND - Psicologia Clínica e Forense.