«Tristeza, falta de motivação, fadiga intensa, perda de apetite, três horas para conseguir mergulhar no sono, a impressão de ser um fardo para quem está à volta, prisioneira dos pensamentos, dor moral intensa: eis o que eu vivia quotidianamente», pode ler-se.
No livro Os Segredos dos Psis, a psiquiatra Stéphany Orain-Pélissolo relata a sua experiência.
Está habituada a lidar com a de depressão, incluindo a relutância inicial em procurar ajuda. Este é um traço comum que retarda o diagnóstico, hipotecando as melhores hipóteses de tratamento. Superá-la é o primeiro passo para a recuperação e só pode ser dado por quem está a sofrer. A nós, cabe-nos dizer-lhe a quem recorrer e o que pode (ou não) fazer só por si, esperando que lhe sirva de incentivo para partir, decididamente, em busca de um final feliz.
O diagnóstico
A depressão é uma doença e tem tratamento. O diagnóstico é essencial para a superar. Pode ser feito por um médico de medicina geral e familiar. «Os médicos de família têm o historial do doente e sua família. Em função do tipo de depressão e da gravidade, podem fazer o tratamento, encaminhar para a especialidade (psiquiatria) ou, se houver boa articulação dos serviços, pedir o seu apoio e supervisão», explica o psiquiatra Vítor Cotovio.
Este processo baseia-se na avaliação de sinais e sintomas, nomeadamente de tristeza, sensação de vazio, pessimismo, desesperança, culpa, irritabilidade, fadiga, perda de apetite sexual, alterações do padrão de sono e alimentar são alguns dos mais comuns.
A avaliação da história pessoal e familiar
É essencial fazer uma análise. Saber se há situações de perda, se houve episódios de depressão, quando, como foram tratados, entre outros. Podem ser pedidos exames complementares (análises ao sangue ou urina, ecografia, raio-x) para despistar causas orgânicas de queixas físicas. «Algumas vezes, sobretudo os homens, queixam-se de dores físicas porque têm dificuldade em falar de sintomas da alma», revela o psiquiatra.
Depois do diagnóstico
Com a depressão diagnosticada, e como investigação, podem ser pedidos exames (estudo do sono, avaliação do líquido cefalorraquidiano) para a caracterizar e determinar a medicação.
Tipos de depressão
Há várias formas de depressão:
- Major (é a mais intensa)
- Minor (pós-parto)
- Sazonal
- Distimia (menos intensa e mais prolongada)
As causas de depressão também variam. «Umas têm características mais biológicas ou endógenas (química cerebral), outras são mais reativas a acontecimentos de vida», distingue Vítor Cotovio.
«Numa depressão com maior profundidade há sempre uma mistura de aspetos psicológicos e biológicos», já que «uma causalidade psicológica irá condicionar uma resposta química deficitária» e vice-versa. Por isso, «normalmente o modelo de tratamento com mais êxito é o que combina e integra as várias intervenções terapêuticas, nomeadamente antidepressivos e psicoterapia», considera o psiquiatra.
Mitos que a mantêm doente
«É normal sentir tristeza perante acontecimentos tristes. Mas, quando se junta a outros sintomas e adquire um caráter de intensidade, persistência, disfuncionalidade e sofrimento, pode transformar-se num estado, numa doença que se trata»
«Estou só triste»
«Sou forte»
«A depressão não é um sinal de fraqueza, é um momento de suscetibilidade, cruzando uma situação biológica com fatores psicossociais que, num certo momento, fazem com que a resiliência da pessoa não esteja»
Como ajudar as pessoas depressivas
Estes são alguns dos comportamentos que pode ter para minorar o sofrimento psicológico de quem sofre deste tipo de doença:
- Debata ideias-feitas. A doença não é fraqueza ou insanidade, apenas disfuncionalidade temporária.
- Sensibilize para a possibilidade de tratamento, tanto melhor quanto mais cedo for iniciado.
- Desdramatize a procura de ajuda médica e incentive- a, sem forçar.
- Ofereça apoio emocional, compreensão pelo sofrimento, paciência, encorajamento, conversa, um ouvido atento, acompanhamento nas consultas.
- Convide para atividades. Não deixe de o fazer, mesmo perante recusas, mas não tente forçar.
- Resista a fazer julgamentos e a dar conselhos banais sobre o que a pessoa devia fazer.
- Recorde-a de que, com o tempo e o tratamento, se sentirá melhor.
- Não ignore comentários sobre suicídio e reporte-os ao médico.
Texto: Rita Miguel com colaboração e revisão científica de Vítor Cotovio
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