A depressão pós-parto (DPP) é uma condição clínica pouco falada e, por vezes, chega mesmo a ser desvalorizada devido à desinformação das pessoas ou a estigmas sociais relacionados com a doença mental, no sentido lato. A DPP é caracterizada por sentimentos de tristeza prolongados, perda de interesse em atividades diárias, ansiedade e irritabilidade. Afeta entre 10 e 35% das mães e pode surgir um pouco antes do parto e/ou durante o primeiro ano após o parto, sendo mais frequente nos primeiros meses.
Os sintomas são semelhantes aos de uma depressão major, incluindo: irritabilidade e choro fácil; tristeza prolongada (mais de duas semanas); falta de energia; incapacidade de realizar tarefas do dia a dia; desinteresse pelo bebé ou ansiedade exagerada pelo seu estado de saúde; baixa autoestima e perda de confiança; sensação de culpa; vergonha ou fracasso; dificuldade de concentração, atenção e memória; alterações do apetite e do sono; e ideias de morte ou suicídio.
Se a DPP não for devidamente tratada, a mãe pode faltar aos exames pós-parto e não seguir as instruções do médico, ao mesmo tempo que sente uma enorme dificuldade em relacionar-se com o seu bebé e adaptar-se à amamentação. Pode, inclusivamente, negligenciar os cuidados básicos que o bebé necessita (alimentação, higiene, vacinas, consultas de rotina). Consequentemente, o bebé pode sofrer problemas de saúde imediatos e, mais tarde, pode ter problemas de aprendizagem, comportamento e desenvolvimento, incluindo problemas de saúde física e mental.
As causas da DPP podem ser variadas, não havendo fatores exclusivos, mas uma combinação de vários, designadamente fatores biológicos, psicológicos, familiares e socioeconómicos. Sabe-se hoje que um dos principais precursores da depressão pós-parto é a ansiedade que está associada à gravidez. Por norma, os primeiros sinais de depressão pós-parto começam durante a gravidez, pelo que se deve ter em conta estados de ansiedade e história psiquiátrica da mulher antes e durante a gravidez.
Existem fatores de risco que aumentam a probabilidade de ocorrência de DPP. No entanto, ter fatores de risco não significa que a mulher irá desenvolver DPP, mas aumenta a probabilidade, pelo que é importante conversar com o médico que a acompanha.
Alguns dos fatores de risco para PPD incluem a existência de depressão durante a gravidez ou a existência de depressão grave ou de outro problema de saúde mental no passado; abuso físico ou sexual; problemas com o parceiro, incluindo violência doméstica; luto; circunstâncias sociais (desemprego, baixos rendimentos, suporte familiar inexistente ou fraco); gravidez não planeada ou indesejada; uso de substâncias, álcool ou tabaco, entre outros.
No que concerne ao tratamento, existem algumas abordagens terapêuticas que têm revelado eficácia. A primeira é a Terapia Cognitivo-Comportamental, que ajuda a mãe a gerir pensamentos negativos, mudando a maneira como pensa e alterando alguns padrões comportamentais. Esta abordagem trabalha nas crenças disfuncionais (exemplo: “sou uma péssima mãe”) e promove a regulação emocional, bem como estabelece objetivos a curto-prazo e realiza planos de ação personalizados.
Outra abordagem, que também se tem revelado útil, é a Terapia Interpessoal. Esta abordagem ajuda a mãe a identificar e a lidar com condições e problemas na sua vida pessoal, como o relacionamento com seu parceiro e com a sua família, situações no trabalho ou na vizinhança, existência de algum problema de saúde ou a perda de um ente querido. Algumas estratégias passam pela dramatização, responder a perguntas abertas e observar atentamente como é feito o processo de tomada de decisões e de comunicação.
A terceira abordagem é a farmacológica, que deve ser concomitante a qualquer abordagem psicológica, sendo fundamental para a estabilização de humor e o controlo de sintomas agudos. Por si só, não é suficiente para resolução do problema. A desconstrução de crenças e a promoção de fatores protetores (criação de redes de suporte, alteração de rotinas, desenvolvimento de mecanismos de coping) só podem ser concretizados por abordagens psicológicas. A combinação de ambas (psicologia e psiquiatria) é o desejável para superar a DPP.
Se considera que tem fatores de risco para o desenvolvimento de DPP, ou se sofre de DPP, não hesite em falar com o seu médico ou com alguém da sua confiança, no sentido de procurar ajuda psicológica. O silêncio, potenciado pela vergonha ou por crenças irrealistas sobre a maternidade, faz com que muitas mulheres sofram sozinhas, levando a um estado profundo de sofrimento e de incompreensão. Não há nada mais doloroso do que tentar ultrapassar por uma condição desta natureza sem suporte e sem a intervenção adequada. Estamos aqui para si.
Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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