Existe uma crescente preocupação sobre a saúde mental dos adolescentes. Desde ansiedade, a depressão aos comportamentos suicidas, assistimos a uma maior incidência de jovens com problemas desta índole. 

Em Portugal, um estudo recente com 3500 adolescentes concluiu que cerca de 15% destes apresenta sintomatologia depressiva moderada ou grave, dimensões que se revelam agravadas na era pós-pandémica que vivemos. Estes sintomas vão ter consequências ao nível do comportamento dos jovens, como vimos num artigo passado, que indica que mais de 20% dos adolescentes portugueses já se automutilou. 

Estes valores significativos tornam claro que estamos perante uma crise de saúde mental nos adolescentes. É agora importante compreender que fatores são responsáveis por estes níveis de mal-estar psicológico, onde é que estes níveis podem levar e o que podemos fazer para os atenuar.

Em primeiro lugar, importa compreender que a adolescência é uma fase de desenvolvimento marcada por mudanças físicas, cognitivas, emocionais, sociais e comportamentais, acompanhadas por uma maior autonomia face aos pais e dependência dos pares. A vivência de tantas mudanças torna os adolescentes particularmente vulneráveis ao desenvolvimento de problemas de saúde mental, sobretudo se estiverem presentes fatores de risco que os potenciem. 

Os fatores de risco para o desenvolvimento de ansiedade, depressão e ideação suicida em adolescentes incluem características pessoais do jovem (por exemplo, personalidade) e incapacidade para lidar com stress de forma adequada. Tentativas de suicídio passadas, experiências de perda, sentimentos de solidão, discriminação, términos de relações e existência de doença crónica são também outros exemplos de fatores que podem fomentar problemas do foro psicológico em adolescentes. 

Estes níveis de mal-estar psicológico são mais intensos em jovens da comunidade LGBT+, onde sentimentos de solidão, isolamento social e rejeição são mais frequentes.

Os constrangimentos psicológicos vividos pelos jovens têm consequências a curto e longo-prazo. Adolescentes com sintomatologia ansiosa e depressiva têm maiores dificuldades académicas, mais problemas comportamentais (por exemplo, comportamentos violentos) e maior probabilidade de adotar estilos de vida de risco (por exemplo, envolvimento sexual sem proteção, uso e dependência de substâncias ilícitas). 

A longo-prazo, podem vir a desenvolver outros problemas psicológicos e comportamentais (como a perpetração de crimes), com consequências a nível da sua qualidade de vida (maiores índices de desemprego e baixo nível socioeconómico).

Para evitar o desenvolvimento destes problemas psicológicos e comportamentais, é importante reforçar os fatores protetores destes jovens: trabalhar as suas relações familiares e comunicação com os pais ou ajudar os jovens a envolver-se em atividades prossociais, como a leitura, são alguns exemplos de formas como podemos ajudar os adolescentes na aquisição de outras competências relevantes. 

A nível de intervenção psicológica, a mais frequentemente utilizada por psicólogos passa por técnicas cognitivo-comportamentais, onde se ajudam os adolescentes a encontrar estratégias para lidar com o seu ambiente, desafios, stress e outras emoções que os assolam.

A prevenção é, porém, fulcral, e cabe aos adultos estar atentos aos sinais que possam apontar para problemas psicológicos nos adolescentes que os rodeiam, para um mais atempado pedido de ajuda.

Se conhece algum jovem atualmente a debater-se com problemas desta natureza, procure ajuda. Não está sozinho(a).

Um artigo dos psicólogos clínicos Mariana Moniz e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.