Se já ficou longas horas acordado(a), a pensar sobre situações embaraçosas ou dolorosas, poderá estar familiarizado com este tipo de processo denominado de ruminativo. A ruminação envolve o foco passivo nos sentimentos negativos e um questionamento das suas causas e consequências. Não raras vezes, torna-se um círculo vicioso.
A ruminação é caracterizada por:
- Intensificar emoções, sobretudo tristeza, raiva e ansiedade.
- Interferir com a nossa capacidade de resolução de problemas, ao tornar a pessoa mais pessimista e menos capaz de perspetivar uma solução para as dificuldades sentidas.
- Condicionar a nossa concentração e sensibilidade ao ambiente.
- Afetar a nossa saúde física, estando associada a maior vulnerabilidade para problemas cardíacos, obesidade, dor crónica, entre outros.
- Interferir com comportamentos ativos, afetando a nossa motivação para nos envolvermos em atividades positivas, diminuindo a nossa confiança nestas e aumentando comportamentos de evitamento.
Em termos ambientais, diversos fatores poderão contribuir para a ruminação, tais como experiência de situações adversas na infância (por exemplo, maus-tratos parentais, abuso emocional ou experiências de bullying), o estilo parental experienciado (filhos de pais superprotetores são mais suscetíveis a ruminar), o stress interpessoal e vivência de adversidades (como problemas socioeconómicos, alterações significativas na vida e abuso) e fatores sociais e expectativas socioculturais (por exemplo, a socialização para uma identidade de género tradicional e estereotipicamente feminina e, como tal, caracterizada por um maior foco nas emoções e na passividade pode aumentar o risco de ruminação).
A ruminação é um fator de risco para o desenvolvimento e manutenção de problemas de saúde mental, desde episódios depressivos, ansiedade, insónias, bulimia e abuso de substâncias. Esta relação entre ruminação e perturbações mentais verifica-se não só na idade adulta, mas também em crianças e adolescentes.
Sendo um fator de risco associado a problemas de saúde mental mais graves, a sua intervenção e prevenção são fulcrais. Há três estratégias a que podemos recorrer para atenuar a ruminação:
- Distração: isto implica redirecionar propositadamente a atenção para atividades prazerosas ou neutras em vez de emoções negativas. Um exemplo prático é ler um livro ou falar com um amigo, para evitar a ruminação.
- Resolução de problemas: envolve o processo ativo de gerar e aplicar soluções para o mal-estar. Uma pessoa pode ponderar sobre atividades que lhe trazem prazer e realizar uma delas. A longo-prazo, esta estratégia de redução de mal-estar é a mais eficaz.
- Atenção plena: esta estratégia requer um foco propositado no momento presente, onde aceitamos os acontecimentos mentais negativos e, em vez de permitirmos que os nossos pensamentos ruminem sobre estes, procuramos aceitá-los e, deste modo, ultrapassá-los.
Se estas estratégias não são suficientes, isso pode significar que uma intervenção especializada é necessária. A intervenção psicológica perante a ruminação intensa é habitualmente focada em técnicas de mindfulness e em técnicas cognitivo-comportamentais. Aqui, o objetivo é alterar o estilo de pensamento, levar à adoção de pensamentos mais concretos e específicos ou restruturar o pensamento de forma mais positiva e construtiva.
Ponha um travão na ruminação, para garantir uma melhor qualidade de vida. Não está sozinho(a).
Um artigo dos psicólogos clínicos Mariana Moniz e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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