O stalking é, à semelhança de qualquer comportamento humano complexo, consequência de uma série de influências psicológicas, sociais e culturais. O conceito remete para uma constelação de comportamentos caracterizados por intrusões repetidas e indesejadas, infligidas por uma pessoa a outra, de forma a promover o medo e/ou angústia da vítima. São vários os motivos para ser perpetrado, entre os quais, a vingança, a tentativa de reconciliação e/ou o desejo de iniciar uma relação íntima.

Os comportamentos surgem, geralmente, sob a forma de comunicações indesejadas, tanto por mensagens ou chamadas telefónicas, como através de e-mails e redes sociais (Instagram, Facebook, Whatsapp, entre outras). Em alguns casos, assumem também a forma de contactos indesejados, incluindo a perseguição, o controlo e até a abordagem. Podem surgir associadas outras formas de imposição, incluindo danos à propriedade, roubo, uso malicioso da Internet, ameaças e agressão. 

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Nos últimos anos, têm surgido indicadores de que as taxas de stalking entre jovens são semelhantes às observadas em adultos. Esta é uma questão preocupante, especialmente considerando a fase crucial de desenvolvimento social e emocional em que este fenómeno ocorre. O fracasso em reconhecer a seriedade do tema pode refletir o desejo de evitar a patologização de determinados comportamentos juvenis. Porém, é importante reconhecer que existe um continuum de comportamentos que vão desde tentativas falhadas de reatear uma relação terminada, ou esforços inadequados para estabelecer contacto, até formas persistentes e prejudiciais de assédio e perseguição.

As consequências prejudiciais deste fenómeno têm recebido uma atenção sistemática ao longo da última década, atraindo, sobretudo, o interesse dos profissionais de saúde mental. É reconhecido um efeito negativo na saúde psicológica de todos os intervenientes, o que nos deve alertar para a necessidade de uma maior consciencialização, em particular, quando ocorre entre adolescentes.

O impacto dos comportamentos no funcionamento psicossocial de vítimas adolescentes assemelha-se ao comummente observado em vítimas adultas, com elevados níveis de ansiedade e/ou medo face à possibilidade da sua integridade física ser posta em risco. Nos casos em que a vítima e o stalker frequentam a mesma escola, estando sujeitas/os a perseguição por colegas e ex-parceiros/as, apresentam geralmente maior dificuldade de concentração em contexto de aulas. Conforme expectável, o absentismo e/ou declínio no desempenho escolar são consequências igualmente associadas à vitimização.

Os esforços devem ser também dirigidos para uma intervenção precoce, que poderá promover uma oportunidade de reduzir a reincidência e impedir qualquer progressão para formas mais graves de violência interpessoal. Por exemplo, violência no namoro ou agressão sexual. Este tipo de reforma, centrada na justiça juvenil e na saúde mental, é urgentemente necessária, não apenas para a recuperação funcional dos jovens, mas também para o desenvolvimento de uma abordagem mais preventiva.

As explicações são de Mauro Paulino e Rodrigo Dumas-Diniz, da MIND – Psicologia Clínica e Forense