O acesso ao léxico clínico pode também trazer algumas confusões sobre o funcionamento psicológico, caindo-se por vezes num excesso de diagnósticos pouco fundamentados e até pouco úteis para a melhoria dos indicadores de saúde mental. É o exemplo da depressão, que parece ter ganho um lugar de destaque, e atualmente, tem sido utilizada para descrever diversas experiências emocionais, tornando a expressão quase banal. Com isto, o sentido clínico da palavra pode perder-se no meio de tantos significados e crenças erradas que as pessoas vão desenvolvendo.

Essas falsas ideias não só desvalorizam a depressão, como podem mesmo comprometer o diagnóstico acertado e atempado. Ouvir coisas como “apanhei depressão”, “estou deprimido porque me dizem que estou” ou “sinto-me triste, devo estar deprimido”, faz pensar que ainda há alguns aspetos sobre a depressão que merecem ser esclarecidos. Até para não ser confundida com um vírus altamente contagioso ou com situações transitórias e ditas “normais”, como a tristeza (que é uma vivência saudável e necessária para o bem-estar psicológico).

A primeira coisa importante é clarificar os conceitos. Afinal o que se entende por tristeza e como a podemos distinguir de estados depressivos?

Um dos sintomas da depressão é a tristeza patológica e prolongada, por isso é comum as pessoas dizerem que estão deprimidas, quando na realidade podem apenas estar tristes com algo difícil que lhes aconteceu. Geralmente, a pessoa que está triste apresenta um motivo para tal tristeza, na depressão, no entanto, essa causa nem sempre é determinada, estando a pessoa triste sem motivo aparente, mesmo em momentos que deveriam ser de felicidade.

Sendo assim, a tristeza é um sentimento natural do ser humano, geralmente causado por deceções, frustrações ou coisas desagradáveis que acontecem no dia-a-dia. Um bom exemplo para ilustrar a diferença entre tristeza e depressão é a relação com o luto. Quando a depressão coexiste com a tristeza pela perda de um familiar ou parceiro, a tristeza não diminui após algumas semanas, como é esperado, e a pessoa não consegue retomar suas atividades ou funcionar como antes, já que nesse caso, a tristeza se torna patológica. Essa tristeza patológica que surge nos casos de depressão instala-se durante vários dias, semanas ou até meses e não passa tão depressa como a tristeza “normal”, somando-se a falta de prazer e motivação em várias áreas da vida. Na depressão, mais do que tristeza, as pessoas experienciam um sentimento de vazio.

Podemos resumir alguns aspetos que ajudam a distinguir situações de tristeza de casos de depressão:

Duração: a tristeza reativa e de curta duração é expectável e desejável, mas na depressão a tristeza é considerada patológica por ser um sentimento constante, que se manifesta durante quase todo o dia, diariamente e por um período mínimo de duas semanas.

Intensidade: a tristeza não chega a afetar sua produtividade, já no caso da depressão, o sentimento de tristeza e vazio prolongado compromete diferentes áreas da vida (saúde, trabalho, relacionamentos, vida social).

Causas: a tristeza surge a partir de um acontecimento específico (desemprego, luto, etc.) e a depressão envolve outros fatores ambientais, genéticos e de personalidade.

A verdade é que, ao contrário da tristeza, a depressão não vai simplesmente “passar com o tempo”. Sabemos que o impacto das depressões não tratadas, a médio e longo prazo, é enorme e que pode alastrar a outras áreas de vida para além da saúde mental. Daí ser tão importante saber identificar quando é altura de pedir ajuda.

O diagnóstico de depressão é feito a partir da história clínica, analisando as queixas do paciente e o seu histórico individual, social e familiar. Se tem dúvidas sobre a sua capacidade de regulação emocional, mais concretamente se não sabe se a sua tristeza é normal ou patológica, peça ajuda a um profissional de saúde mental. Além dos psiquiatras e psicólogos, os médicos de família podem também avaliar e encaminhar para o tratamento mais indicado para cada pessoa.

E lembre-se: embora não seja muito agradável, estar triste faz parte das vivências emocionais saudáveis! Preocupante é quem nunca está triste ou quem desvaloriza situações patológicas como a depressão, confundindo-a com tristeza normal e transitória.

Sintomas de depressão:

  • No humor: tristeza prolongada; perda de interesse ou prazer em atividades que antes eram apreciadas; choro fácil ou apatia; irritação; mau humor.
  • Na autoimagem: sentimentos de culpa, vazio ou inutilidade; solidão; baixa autoestima; sensibilidade à rejeição; desamparo; desesperança.
  • Nas funções cerebrais: dificuldade para executar as tarefas do dia a dia, tomar decisões; problemas de memória e concentração.
  • Nos pensamentos: pessimismo; visão distorcida da realidade; ideias frequentes de morte e/ou de suicídio; pessimismo; pensamentos negativos persistentes (ruminações como "eu não vou conseguir", "eu sou um fracasso", "as pessoas estariam melhor sem mim").
  • No comportamento: falta de energia; fadiga; inquietação; agitação psicomotora; lentidão nos movimentos e/ou na fala; mobilidade reduzida; isolamento; perda de libido; dificuldade de receber ou transmitir afeto; aumento ou perda de apetite; uso de álcool e drogas (para tentar obter alívio).
  • No sono: dificuldade para dormir, despertares noturnos, acordar muito antes da hora de costume ou dormir demais.
  • No corpo: aumento ou perda de peso; sensação de peso nos braços ou nas pernas; dores ou problemas digestivos sem causa aparente e/ou que não melhoram com tratamento; baixa imunidade.

Um artigo de Taís Andrade, Psicóloga na Clínica Teresa Rebelo Pinto, e Teresa Rebelo Pinto, Psicóloga e Fundadora da Clínica Teresa Rebelo Pinto.