Saí do consultório, depois de um dia de trabalho normal e fui para casa a pensar no que um dos clientes me havia dito na consulta: “não sei por que razão as pessoas estão preocupadas com o novo ano, 2021 vai ser a extensão deste ano atípico”. Estas palavras ecoaram na minha cabeça e, enquanto conduzia, tentei desconstruir este pensamento partilhado por tantos.

De facto, este ano, que está quase a chegar ao seu termo, foi um ano atípico e pôs-nos a todos à prova. Embora nos tenha apanhado desprevenidos, não nos afetou a todos da mesma maneira. E, sim, não adianta tapar os olhos com a peneira e pensar positivo, enquanto milhares de pessoas lutam para subsistir.

Enquanto uns protestam que o Natal não vai ser o mesmo, outros nem sequer vão ter Natal. Basta olhar à nossa volta, para perceber que pouco mudou e que a procura da normalidade faz com que muitos tenham comportamentos que nos põem a todos em risco.

Esta quadra não vai ser igual, quanto mais não seja pelo mindset que as pessoas estão a adotar, de forma mais ou menos consciente, de que nada será vivido com o mesmo prazer pré-pandemia. Uma espécie de contágio emocional que nos assoma a todos, em maior ou menor grau, levando-nos a desvalorizar a época.

Enquanto conduzia, pensei que os rituais que todos temos na altura de fim de ano vão continuar a ser os mesmos. Não me refiro a viagens, festividades coletivas e aos excessos comuns, mas ao momento quase inevitável de ponderação sobre o que aconteceu este ano e o que esperamos que o próximo ano nos traga. E quando se pensa nisso, alguns mantêm a esperança e procuram ver sempre o lado positivo, enquanto outros se recusam a achar que alguma coisa vai mudar, permanecendo num estado pessimista, amiúde designado de “realista”.

As emoções estão à flor da pele. Vejo isso dentro e fora do consultório. As pessoas estão mais autocentradas, mais ansiosas e a necessidade de purgarem as preocupações presentes e futuras são frequentemente acompanhadas por choro, frustração, sentimento de injustiça, revolta, desesperança e muita angústia. As competências de gestão emocional começam a fraquejar porque o estado de espírito é negativo e entrou-se num ciclo vicioso de pensamento que geralmente só é interrompido com ajuda profissional.

O nosso cérebro tem a capacidade de incrível de, quando estimulado, sair da sua zona de conforto e ver a realidade numa perspetiva macro e holística. Quando estamos centrados no problema (perspetiva micro), estamos centrados nas emoções e nos pensamentos cíclicos que nos impedem de agir.

Numa altura como a que vivemos, precisamos de adaptar-nos com frequência. Por isso, antes de pensar no próximo ano e nas suas típicas resoluções, liberte-se das emoções que o estão a impedir de pensar com clareza.

Siga as próximas dicas de gestão emocional:

  1. Técnica do controlo respiratório. Quando começar a sentir uma emoção negativa, tenha consciência da alteração da respiração. Para a normalizar pode, por exemplo, respirar profundamente durante 4 segundos, suster a respiração durante 4 segundos e expirar durante 4 segundos. Se for cansativo, diminua o tempo até se sentir confortável e o seu ciclo respiratório começar a normalizar.
  2. Técnica STOP para interromper um pensamento negativo e repetitivo. Quando se aperceber desses pensamentos, aplique a técnica anterior e visualize um sinal de STOP. Diga para si próprio que o pensamento é apenas um pensamento e que pode substituir por outro, verbalizando, por exemplo, uma frase que legitime o que está a pensar, mas que o faça sentir mais leve e sob controlo. Por exemplo “eu sei que me estou a sentir preocupado(a), mas vou focar-me solução em vez do problema. Sei que sou capaz”.
  3. Técnica do volume da emoção. Agora que aplicou as técnicas anteriores, é altura de pôr em prática esta. Imagine que a sua mente está com ruído como se estivesse mal sintonizada e que existe um botão para que possa sintonizá-la, como se fosse um rádio. Quando se sintonizar numa emoção (exemplo: ansiedade), vá ao botão do volume e baixe a sua emoção até começar a sentir que tem novamente o controlo.

O nosso cérebro não distingue o que é real do que é imaginado, ele simplesmente executa os comandos que lhe damos. Pratique estas técnicas até elas se tornarem rotineiras e ver efeitos com elas.

Quando já estiver num estado mental tranquilo, então é hora de pensar no que gostaria de realizar em 2021, sem medos limitadores. Todas as crises são ameaçadoras, mas também nos permitem criar novas oportunidades. Não se deixe contagiar pelo pessimismo geral e crie objetivos que quer atingir.

Sempre que iniciamos um ano ou um ciclo novo, nunca sabemos o que vai acontecer. Portanto, se a situação está mal agora, existe sempre a possibilidade de melhorar essa realidade. A pandemia alterou-nos muita coisa, mas não a competência de criarmos e recriarmos a nossa realidade. Um ano atípico não tem necessariamente que ser mau.

Se não consegue pensar com clareza porque se sente assoberbado pelas emoções e pensamentos automáticos, procure a ajuda de um psicólogo. Terá múltiplos benefícios na sua vida.

As explicações são da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Psicologia Clínica e Forense.