A gestão emocional está presente no quotidiano de qualquer pessoa, seja ela criança, adolescente, adulta ou mais velha. Sendo as emoções, por vezes, difíceis de gerir para qualquer faixa etária, ainda mais difícil é para uma criança, cujas capacidades de entendimento e autorregulação estão, compreensivelmente, menos desenvolvidas. Por vezes, tendemos a prestar maior atenção e investir mais no desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, desvalorizando o emocional, quando este é crucial para as suas vidas. Enquanto pais, educadores, irmãos, ou simplesmente pessoas mais velhas, importa compreender como podemos ajudar os mais novos, desde pequenos, a gerir o seu mundo emocional.

Primeiramente, assim como referido no texto sobre a importância da vinculação no desenvolvimento, devemos manter uma relação saudável e segura para potenciar o desenvolvimento emocional. Destaque-se ainda a necessidade de compreender que não existem “emoções más”, fazendo todas elas parte de um repertório emocional saudável de qualquer pessoa. Isto é relevante porque, muitas vezes, assistimos a uma hipervalorização das “emoções positivas” nas crianças (por exemplo, a alegria, o entusiasmo). Define-se o estar triste ou chateado como “emoções negativas”, pois são incómodas e socialmente conotadas como más. Entenda que não é saudável o “nunca estar triste ou chateado”, mesmo que isso seja incómodo para os pais.

Neste sentido, pode ser importante tomar algumas medidas que podem facilitar o desenvolvimento emocional:

  1. Não satisfazer todos os pedidos das crianças imediatamente, dando apoio, e, simultaneamente uma oportunidade de a criança resolver uma determinada situação. Fazer isto dá também espaço para a criança sentir frustração (também necessária) e aprender a geri-la.
  2. Atribuir responsabilidades pode também contribuir para a criança se sentir cada vez mais capaz e ganhar alguma autoconfiança.
  3. Estimular a criança a praticar uma atividade de equipa. Atividades em equipa proporcionam momentos de respeito pelas normas/autoridades, trabalho em equipa e tolerância à frustração. Para além disso, no caso do desporto coletivo, contribuem para uma boa saúde física, ou, no caso de artes performativas (dança, música ou de outro tipo), contribuem também, por exemplo, para desenvolvimento cognitivo.
  4. Jogar jogos de regras com as crianças, em que existem normas e turnos bem definidos, contribuem para momentos de gestão emocional e respeito pelas regras. O esperar a vez é essencial para o desenvolvimento de uma criança.

Seguir estes pontos vai, certamente, proporcionar momentos de emoções mais difíceis de lidar para as crianças, por exemplo, quando a criança quer alterar as regras da atividade. Nestes momentos, é importante ajudar a criança a identificar as suas emoções, expressá-las e geri-las.

Pensando no quotidiano das crianças, devemos evitar expressões como “os meninos bonitos não choram”, ou simplesmente “não chores”, “não tenhas medo”. Devemos sim ajudar a criança a compreender o que está a sentir e ajudá-la a desconstruir esses medos, nunca desvalorizando as suas emoções. Também histórias, filmes e circunstâncias em que os próprios pais têm dificuldades em gerir as emoções podem servir como momentos de aprendizagem. Por exemplo, “O pai estava tão chateado com o senhor do carro que gritou. Tive dificuldade em me controlar”.

É necessário compreender que este processo é um trabalho de equipa, no qual as figuras parentais ensinam, educam, corrigem, mas também crescem junto da criança, aprendendo cada vez mais sobre si próprio, sobre a criança, e sobre a relação pai/mãe-filho(a). Os(as) filhos(as) não vêm com manuais de instruções, pelo que por vezes é difícil saber o que fazer. Caso esteja a ser um processo difícil para si, saiba que pode pedir ajuda especializada. Não está sozinho(a).

Um artigo dos psicólogos clínicos Samuel Silva e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.