O humor é uma estratégia bem conhecida e eficaz de enfrentar a realidade, que nos permite despertar a consciência para questões sobre as quais a sociedade prefere ainda não discutir abertamente, entre as quais as doenças mentais.

Os memes (isto é, imagens ou vídeos difundidos rapidamente pela Internet, tipicamente de natureza humorística) e as comunidades ao seu redor oferecem um espaço seguro para abordar temas como a depressão e a ansiedade, ainda que nem sempre de forma construtiva. No entanto, a cultura de memes tem desempenhado um papel importante na promoção de conversas honestas em redor da saúde mental, o que pode contribuir para uma maior sensibilização e uma rede de apoio, algo que as gerações anteriores não tiveram oportunidade de construir.

Uma das características de um meme é, evidentemente, o humor.

No entanto, apenas alguns tipos de humor conseguem ser adaptativos ou benéficos:

  • O humor associativo, centrado em experiências comuns, promove sentimentos de pertença (algo genérico como, "Ser adulto é pesquisar no Google como fazer as coisas")
  • O humor de autoajuda, consiste em rir-nos de nós próprios, das nossas falhas e circunstâncias (tais como “Eu sou muito parecido com o COVID-19, as pessoas tentam anular-me mantendo-se à distância, mas assim que se sentem à vontade eu volto a aparecer”, ou questionar "Quem precisa de namorar? Eu tenho pizza" após uma separação).

Outras formas de humor são, na sua maioria, prejudiciais:

  • Humor agressivo, que visa a humilhação ou insultos contra terceiros. Frequentemente utilizado por bullies ou comediantes mais agressivos.
  • Humor autodestrutivo, que envolve o próprio humilhar-se para ganhar simpatia (algo do género: "Talvez ninguém queira namorar comigo porque nem eu quereria namorar comigo").

Existem inúmeros estilos humorísticos que são abordadas pela cultura meme, mas, na sua maioria, os princípios gerais do humor “offline” continuam a ser aplicáveis. Para ser engraçado, o seu conteúdo deve ser surpreendente, o que muitas vezes resulta a que se limite a ser arriscado ou inadequado. O humor oferece uma libertação emocional coletiva. Além disso, existe outro fator que alimenta a viralidade do humor, a identificação do espectador com o conteúdo. Para que um meme seja partilhado, o seu significado deve ser descodificável para um grande número de pessoas. Por este motivo, as dificuldades e obstáculos quotidianos são temas influentes a serem retratados, por mais dolorosos que realmente sejam. Os memes sobre temas sérios, tais como doenças mentais, têm uma propensão acrescida para se tornarem virais, na medida em que são cómicos e aberrantes ao mesmo tempo em que se referem a experiências partilhadas pelo seu público.

Memes relacionados com a saúde mental parecem enquadrar-se nesta convenção. A forma de o conseguir é principalmente através da incorporação de temas sérios em imagens e textos leves. A maioria dos memes parecem consistir na abordagem a um aspeto positivo, mas de forma ostensivamente artificial ou infantil, para encobrir outra parte mais honesta de dificuldades pessoais. Este tipo de humor pode dar ao espectador a capacidade de se desligar temporariamente dos seus próprios sentimentos. Tais memes descrevem normalmente as dificuldades diárias de pessoas que sofrem de depressão, fadiga, sentimentos de impotência ou hábitos pouco saudáveis, tais como dormir ou comer em excesso. Muitas vezes, descrevem dificuldades nas interações com pessoas que não têm consciência de questões de saúde mental.

O contexto socioeconómico e psicológico da nova geração de utilizadores da Internet é essencial para compreender porque razão estes memes se tornaram um fenómeno cultural discernível. Tendo em consideração os aspetos social e cultural da Geração Z (pessoas nascidas entre 1995 e 2010), os aspetos complexos das tendências da cultura meme tornam-se mais evidentes. De facto, não é possível olhar para os atuais desenvolvimentos sem considerar as circunstâncias sociais e psicológicas desafiantes em que a geração nascida após 1995 se insere, sendo a sua característica mais proeminente a proficiência digital. Esta geração foi a primeira da história com acesso generalizado a computadores e à Internet desde a infância.

Porém, existe um tom mais sério para esta geração da cultura digital. De acordo com a Associação Americana de Psicologia, a geração Z é o grupo demográfico mais suscetível de relatar preocupações de saúde mental. Muitas vezes, a pressão, a falta de compreensão e o estigma em torno da doença mental impedem que estes jovens sejam tratados eficazmente. Em situações semelhantes, as redes sociais, largamente anónimas, gratuitas e disponíveis, proporcionam um refúgio necessário e, para alguns, o único possível. Porém, existe o risco, através dos memes e dos detalhes explícitos da depressão e da ansiedade, de que o fator de alguém compreender ou sentir simpatia pelo conteúdo não se traduza necessariamente em ajuda. Rir sobre temas de depressão pode ser útil para pessoas com um risco relativamente baixo de ideação suicida; contudo, para aqueles que se encontram no lado mais sério do espectro, pode ser perigoso.

O humor tem sem dúvida uma propensão para se tornar viral, mas a razão mais importante e sociológica pela qual os memes sobre saúde mental se tornaram populares é que um grande grupo de pessoas consegue identificar-se com o seu conteúdo, em que muitas das quais pertencem a uma geração mais jovem. Por muito que os memes nunca possam substituir a ajuda profissional, podem, dependendo do seu conteúdo, difundir uma preciosa sensibilização em matéria de saúde mental, mostrando ao seu público que não estão sozinhos.

Alguns exemplos de memes atuais:

Alguns exemplos de memes atuais