A depressão é uma das doenças do foro mental que tem o poder de se tornar mais incapacitante, mais difícil de intervir e reverter, se perdurar no tempo. Isto acontece porque quando entramos no domínio da depressão, entramos também no domínio da inação, do vazio e do sofrimento profundo.
A depressão implica, muitas vezes, o sentimento de se estar desintegrado quer do contexto familiar, quer do contexto social, quer muitas vezes de si próprio. E este é o lado mais difícil da depressão, porque por muito que se olhe em volta parece não haver uma saída, parece não haver uma rede capaz de suportar a dor interna de quem vivencia a depressão.
Em fim de linha a própria pessoa sente que não consegue suportar a sua própria dor, e é a partir daí que, quando a depressão se agudiza surgem muitas vezes as ideações suicidas, que dão a ideia a quem vivencia a depressão de que, morrendo a dor termina e se pode — finalmente — ficar em paz.
A verdade é que quando estamos perante depressões de fim de linha é mais fácil que a estrutura de apoio se una para garantir que a pessoa tem o suporte de que precisa e que tudo aquilo que está a provocar dor seja minimizado. No entanto, só se chega às depressões de fim de linha, através de fases mais leves de depressão que se vão instalando e que vão consecutivamente sendo ignoradas, quer por quem vivencia a depressão, quer por quem está à sua volta!
É por isso urgente que todos procuremos mobilizar-nos em fases mais leves da depressão em que a probabilidade de sucesso das terapias sejam elas psicológicas ou farmacológicas são muito mais elevadas e em que as consequências da depressão se tornarão menos severas para todos aqueles que estão envolvidos nesse processo.
Para o fazermos precisamos de ficar atentos aos sinais, precisamos de trabalhar o nosso autoconhecimento, para que, quando os sinais surgem, possamos olhar para eles de frente e possamos procurar revertê-los. Neste cenário, não nos esqueçamos que sempre que há uma alteração do nosso estado de humor geral devemos estar alerta, sendo que o primeiros sinais de depressão passam por:
- sensação de não reação a estímulos que nos davam prazer anteriormente;
- sensação de uma certa inação e desmotivação;
- tristeza persistente, por vezes, sem motivo aparente;
- sentimentos persistentes autodepreciativos e de inutilidade;
- cansaço permanente, mesmo após períodos de descanso efetivo.
Perante tudo isto, nunca nos esqueçamos que a depressão precisa de visibilidade, precisa de ser tida em consideração como uma situação grave que é e, por isso mesmo, precisa que lhe demos espaço para existir, pois só com espaço para existir se pode intervir e se pode impedir a instalação dos quadros depressivos de forma sólida e robusta a longo prazo pelo decurso da vida.
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
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