
Back to garden near the sea (que em português significa "de regresso ao jardim perto do mar") é o tema da coleção apresentada por Maria Gambina. A estilista com raizes em Oliveira de Azeméis, e que sempre foi um dos nomes de referência do panorama da moda nacional, deu o pontapé de arranque do primeiro dia de Portugal Fashion com um formato alternativo. Uma vez que o esforço e investimento financeiro que uma linha de moda, feita com seis meses de antecedência, deixou de fazer sentido para a sua marca, decidiu trocar as passerelles por uma projeção de imagens.
"Eu já investi muito em 33 anos de carreira. Sinto que já não tenho de provar nada a ninguém, não é que alguma vez sentisse isso, mas acho que neste momento estou mais focada no meu negócio", diz, referindo-se à sua loja que tem morada no centro do Porto há quase 30 anos e onde vende as criações da sua autoria.

Maria Gambina elogia a abertura do certame de moda nacional - que comemora 30 anos de existência - em dar oportunidade aos estilistas de divulgar as suas criações à sua maneira. Nesta 54.ª edição, em vez das propostas para o próximo outono/inverno 2025/26, decidiu mostrar a coleção de verão 2025, que já está disponível na sua loja e online, através de uma série de fotografias e vídeos que surgem projetados nas paredes da cave de envelhecimento dos vinhos Dow's, construída em 1896, localizada na Quinta do Bomfim, em Alijó.
"É uma nova forma de poder apresentar a coleção, que ainda tenho dois meses para vendê-la, por isso, faz todo o sentido", afirma sobre este projeto que pôs os manequins a posar por entre as vinhas verdejantes da quinta localizada no distrito de Vila Real. "As fotografias que fizemos, que não têm o formato de roupa e de produto que está no site, têm um bocadinho mais de vida e que transmite também um bocado a essência da coleção".

O seu amor pelo campo e pelo mar reflete-se nestas propostas através do uso da cor, das flores, das riscas azuis e brancas, dos elementos náuticos e dos detalhes divertidos que lhe conferem uma vibe mais descontraída e campestre. "Esta coleção reflete um bocadinho a vontade que eu tenho de cada vez estar mais próxima da natureza", salienta sobre os serões passados em família, em Cerveira e Moledo, que serviram de inspiração.
A par do algodão orgânico reciclado que sempre utilizou nas suas criações, esta temporada tentou inovar através de novos materiais, como é o caso dos tricots e dos jacquards, que dão asas ao seu lado divertido ao conjugar pinguins, barcos e cerejas na mesma peça e que podem ser vistos em camisolas de manga curta, comprida e casacos. "Está assim uma mistura entre ambientes que quase parecem peças de tricot mais vintage, mais delicadas, mais femininas". Estes juntam-se a blusões muito leves, confecionados em materiais mais técnicos, com um ligeiro acabamento brilhante.

Visando minimizar o desperdício têxtil, a designer – que em 1992 e 1993 venceu o concurso Sangue Novo promovido pela ModaLisboa - explica que a malha de algodão utilizada para confecionar os vestidos com motivos florais e alças franzidas nasceu de um rolo de tecido em fim de vida e que reaproveitou para criar parte dos looks de verão. "Há muitos materiais que eu utilizo nesta coleção que são materiais que eu tinha e que nunca tinha utilizado, mas acho que a minha maior preocupação é não fugir daquilo que a marca é".
A propósito do regresso do Portugal Fashion, que teve uma interrupção em 2024 e está de volta em 2025 com apenas uma edição anual, diz que as paragens fazem parte da vida e pega no seu exemplo pessoal. "Eu também parei cinco anos e estou aqui. Por isso, às vezes é preciso parar para se começar de outra forma".

Recorde-se que Maria Gambina – que já foi professora de Nuno Baltazar, Katty Xiomara, Ricardo Andrez, David Catalán e de Gonçalo Peixoto – deixou de desenhar coleções entre 2013 e 2018, uma época da sua vida em decidiu voltar-se exclusivamente para o ensino, onde atualmente exerce funções de coordenadora da Licenciatura em Design de Moda na ESAD – Escola Superior de Artes e Design, em Matosinhos. Para si, essa pausa foi importante porque a ajudou a libertar-se "do peso do passado" que culminou com a doação de 300 peças do seu espólio pessoal ao MUDE – Museu do Design e da Moda, em Lisboa. Com isso renasceu uma Maria Gambina diferente, que procura desenhar de forma mais consciente, privilegiando modelos de roupa mais práticos e vendáveis.
"Claro que eu posso ter peças para museu, mas eram peças muito pesadas, que não eram confortáveis. Eram muito criativas, mas não eram fáceis de usar, como aquelas saias todas rodadas que eu fazia, com sobreposições, cheias de elásticos e atacadores", recorda.

A criatividade a fervilhar leram-na a cometer o que, nas suas palavras, foram "verdadeiras loucuras" em nome do amor à moda. "Mandei fazer sapatos para um desfile a pagar três mil euros, que nunca vendi porque são tamanhos maiores, tamanhos só 40. Hoje em dia nunca faria uma coisa dessas, evidentemente. Acho que antes tinha muita vontade de mostrar", conclui.
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