O regime comunista, que é acusado de ter escondido informação crucial durante as primeiras semanas após a doença ser detetada em Wuhan, epicentro do Covid-19, passou a referir a possibilidade de o vírus ter origem no exterior, apesar da ausência de evidências.

"As forças armadas dos EUA podem ter levado a epidemia para Wuhan", defendeu hoje o porta-voz da diplomacia chinesa Zhao Lijian, através da rede social Twitter, que está bloqueada na China. "Os Estados Unidos devem-nos uma explicação", assegurou. 

Recomendações da Direção-Geral da Saúde (DGS)

  • Caso apresente sintomas de doença respiratória, as autoridades aconselham a que contacte a Saúde 24 (808 24 24 24). Caso se dirija a uma unidade de saúde deve informar de imediato o segurança ou o administrativo.
  • Evitar o contacto próximo com pessoas que sofram de infeções respiratórias agudas; evitar o contacto próximo com quem tem febre ou tosse;
  • Lavar frequentemente as mãos, especialmente após contacto direto com pessoas doentes, com detergente, sabão ou soluções à base de álcool;
  • Lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar ou tossir;
  • Evitar o contacto direito com animais vivos em mercados de áreas afetadas por surtos;
  • Adotar medidas de etiqueta respiratória: tapar o nariz e boca quando espirrar ou tossir (com lenço de papel ou com o braço, nunca com as mãos; deitar o lenço de papel no lixo);
  • Seguir as recomendações das autoridades de saúde do país onde se encontra.

Para apoiar as suas suspeitas, Zhao citou dois artigos da Global Research, um portal conhecido pelas suas teorias da conspiração.

No entanto, Pequim designou, no início do ano, um mercado de marisco situado nos subúrbios de Wuhan como o berço da epidemia, apontando que o vírus tinha sido transmitido inicialmente através de uma espécie animal.

"Identificamos os animais vivos vendidos no mercado de marisco como a fonte do vírus", defendeu então o chefe do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças Gao Fu, no final de janeiro, depois de Wuhan ter sido colocado em quarentena, com entras e saídas bloqueadas.

O vírus responsável pela doença Covid-19 "era desconhecido antes da epidemia que começou em Wuhan, em dezembro de 2019", apontou a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Países geograficamente próximos da China, como o Vietname, Taiwan ou Mongólia, que depois de a doença ser conhecida barraram a entrada a quem tivesse estado no país 14 dias antes, registam hoje menos casos que Portugal ou qualquer país europeu.

Análises genéticas de amostras do novo coronavírus em vários países revelam uma fonte comum na China, apontou Christl Donnelly, professor de epidemiologia estatística do Imperial College de Londres.

"Não se trata de atirar pedras a um país em particular", enfatizou.

Para o investigador Yun Jiang, da Universidade Nacional da Austrália, "ao semear dúvidas na mente das pessoas sobre a origem do vírus, Pequim procura escapar à responsabilidade pela epidemia".

Médicos chineses em Wuhan alertaram desde dezembro para os perigos do surto de um novo coronavírus, mas foram silenciados pelas autoridades, que os obrigaram a assumir publicamente esses avisos como "rumores infundados".

"As informações falsas divulgadas por departamentos relevantes [de que a doença era controlável e não era infeciosa entre seres humanos] deixaram centenas de médicos e enfermeiros no escuro, que fizeram tudo ao seu alcance para tratarem pacientes sem conhecerem a doença", apontou o chefe de um dos departamentos do Hospital Central de Wuhan, citado pela revista Caixin, uma das raras publicações independentes na China.

"E mesmo aqueles que adoeceram não puderam denunciar. Não puderam alertar os seus colegas e o público a tempo, apesar do sacrifício", disse. "Essa é a perda e a lição mais dolorosas".

Entretanto declarado pela OMS como uma pandemia mundial, a epidemia provocou forte descontentamento popular na China, com as redes sociais do país a encherem-se críticas diretas ao regime e apelos por liberdade de expressão, num fenómeno inédito no país asiático, onde ativistas ou dissidentes são frequentemente condenados por "perturbação da ordem pública" ou "subversão do poder do Estado".

Comentários da diplomacia chinesa acusaram Washington e a imprensa estrangeira de usar o termo "vírus chinês" para "implicar uma origem sem fundamento ou qualquer evidência".

"Certos meios de comunicação claramente querem colocar o chapéu na China", disse Zhao Lijian, em 4 de março.

Segundo certas teorias que circulam nas redes sociais chinesas, a delegação norte-americana que participou nos Jogos Mundiais Militares, disputada em outubro passado, em Wuhan, poderia ter trazido o vírus para a China.

Teorias semelhantes estão a florescer nas redes sociais chinesas.

"Os norte-americanos usaram as pessoas do mundo como ratos de laboratório para experiências de bioquímica viral?", pergunta um internauta no Weibo, rede social chinesa.

Em Washington, o conselheiro de segurança nacional Robert O'Brien acusou a China na quarta-feira de "despedaçar o mundo em dois meses".

Pequim considerou as observações "imorais e altamente irresponsáveis".

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde comunicou hoje que o número de pessoas infetadas subiu para 112.

O surto de COVID-19 foi detetado em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.600 mortos em todo o mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou pandemia na quarta-feira. O número de infetados ultrapassou as 125 mil pessoas, com casos registados em cerca de 120 países e territórios.

Portugal ordenou o encerramento de todas as escolas a partir de segunda-feira, bem como outras medidas. Esta semana já tinha sido anunciado a suspensão de todos os voos de e para Itália.

DGS fez na quinta-feira novas recomendações à população.

Face ao avanço da pandemia, vários países têm adotado medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena inicialmente decretado pela China na zona do surto. Vários países na Europa, como Itália, Noruega, Irlanda, Dinamarca, Lituânia, França e Alemanha, encerram total ou parcialmente escolas, universidades, jardins-de-infância e outras instituições de ensino.

Nos últimos dias, Itália tornou-se o caso mais grave de epidemia fora da China e o Governo em Roma decidiu na segunda-feira alargar a quarentena, imposta inicialmente no norte do país, a todo o território italiano.

Na quarta-feira, as autoridades italianas voltaram a decretar medidas de contenção adicionais e ordenaram o encerramento de todos os estabelecimentos comerciais à exceção dos de primeira necessidade, como supermercados ou farmácias.

Acompanhe aqui, ao minuto, todas as informações sobre o novo coronavírus em Portugal e no mundo.

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