Michael Slepian, psicólogo e autor de diversos artigos científicos e livros sobre a psicologia dos segredos, com destaque para a mais recente obra A Vida Secreta dos Segredos (The Secret Life of Secrets, 2022), aponta que, em média, as pessoas guardam cerca de 13 segredos ao longo da sua vida, dos quais 05 segredos não são partilhados com terceiros.
Neste sentido, a literatura da especialidade tem vindo a identificar as principais consequências para a saúde mental da exigente e, por vezes, dolorosa tarefa de “guardar um segredo”, nomeadamente um risco elevado de sintomatologia depressiva, de ansiedade ou alterações do sono (por exemplo, insónias, pesadelos). Por sua vez, existe também um risco de deteorização da saúde física, como é exemplo uma maior progressão e evolução de doenças e/ou um aumento da dor crónica.
Por acréscimo, a libertação de hormonas do stress que tende a acontecer no processo de “guardar um segredo”, fomenta a probabilidade de a pessoa recorrer a comportamentos de risco, como o consumo de álcool e/ou drogas.
Mas porque guardar um segredo é tão difícil? Como pode um segredo causar tanto dano ao nosso bem-estar?
A principal explicação é o enorme cansaço que envolve guardar um segredo, dado envolver diversos elementos como são exemplo: pensar rigorosamente e constantemente no diálogo com terceiros, no sentido de evitar contar o segredo ou providenciar pistas acerca do mesmo; sentir medo e ansiedade durante a maior parte do tempo; a tendencial atitude de vigilância ao comportamento dos outros, identificando pistas e sinais que são interpretadas como provas de que terceiros descobriram o segredo (sensação de estar “paranoico”); pensamentos constantes acerca do segredo, tendencialmente associados a emoções de culpa e vergonha que tendem a impactar a concentração e a produtividade.
Não raras vezes, para evitar a adoção desta postura de suspeita, medo e elevada irritabilidade em relação a terceiros, as pessoas recorrem ao isolamento social – e a própria investigação aponta para a existência de uma relação entre os segredos e a degradação das relações interpessoais.
Naturalmente que a natureza de um segredo e as respetivas emoções que são experienciadas influenciam as consequências de viver com essa mesma informação. Tome-se como exemplo, uma traição. Este é um segredo que tende a envolver sentimentos de culpa e vergonha, um enorme medo da revelação da verdade e uma sensação de “sufoco” pelos pensamentos constantes acerca da potencial rutura que poderia ser provocada pela descoberta da traição.
Nos estudos, tem vindo a ser identificado um conjunto de problemáticas como aquelas que tendem a ser os segredos mais comuns (e também os mais pesados de suportar), nomeadamente: adoção, aborto, orientação sexual, interesses sexuais, infidelidade e relações extraconjugais, consumo de drogas, pobreza financeira, doenças mentais.
Ainda assim, do leque de segredos mencionado, os segredos nas relações interpessoais são considerados os mais destrutivos. Tendo em conta a premissa de que “a comunicação é a chave”, guardar um segredo pode levar ao distanciamento entre o casal e, na maioria das vezes, à rutura. A própria tentativa de, durante semanas, meses ou anos, guardar o segredo tende a ser interpretada, por si só, como uma traição, particularmente quando a pessoa consegue guardar esse segredo durante um longo período de tempo (“Porque demoraste tanto tempo a contar-me a verdade? Só isso já é uma traição!”).
Uma das estratégias a que as pessoas recorrem para aliviar o sofrimento é contar o segredo a alguém de confiança. Tendo em consideração que a autorrevelação é uma necessidade básica, o alívio provocado pela partilha do fardo de um segredo pode ser imenso. As vantagens da partilha remetem para, por exemplo, conseguir refletir sobre o próprio segredo de forma mais ponderada e racional, obter algum alívio e paz mental, diminuir a sensação de culpa, medo e solidão. Ou seja, existe um alívio imediato/a curto-prazo (suporte emocional) e a longo prazo (novas perspetivas, nova forma de olhar para o segredo).
A identificação de estratégias para gerir as emoções, a antecipação de potenciais consequências associadas à revelação do segredo e como lidar com as mesmas, o planear do potencial momento de revelação e das ferramentas de comunicação mais adequadas são alguns dos objetivos terapêuticos que tendem a ser definidos aquando de um pedido de ajuda motivado pelo enorme fardo emocional que é guardar um segredo. Peça ajuda, não se encontra sozinho(a)!
As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino, psicólogos na MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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