A queixa é por demais frequente: “Tenho andado a dormir pessimamente”. Mas nem só de stresse ou excesso de estímulos e cafeína se fala quando o problema é o cansaço e a sensação de falta de descanso noturno – a escolha da posição para dormir também pode ter influência.
“Existem muitas causas para se dormir mal e para algumas a posição pode ser determinante”, confirma a médica pneumologista Susana Moreira.
Passar a noite de costas não é o mesmo que deitar-se de lado ou de barriga para baixo, mas cada uma das opções tem vantagens e desvantagens que se revelam diferentes para cada pessoa. Qual é a melhor posição para dormir? “Não existe uma resposta universal”, afirma a médica.
Deitado de lado
Prós
Facilita a respiração e diminui o ressonar.
Contras
Dormir para o lado direito agrava o refluxo gastroesofágico; pessoas com insuficiência cardíaca devem evitar deitar-se para o lado esquerdo.
É a posição para dormir mais habitual, facilita a respiração, evita o ressonar (ou suaviza, pelo menos), mas não serve a todos. Colocar uma almofada entre os joelhos pode até ajudar a manter as ancas alinhadas, aliviando a pressão na coluna, mas dormir virado de lado interfere com outros problemas de saúde e é sobretudo importante saber que é relevante o lado que se escolhe.
“Em pessoas com refluxo gastroesofágico, dormir em decúbito lateral direito agrava o refluxo porque aumenta o relaxamento do esfíncter gastroesofágico e facilita a passagem do conteúdo alimentar e do ácido gástrico do estômago para o esófago”, explica a coordenadora da Unidade de Pneumologia do Hospital Lusíadas Lisboa.
Nestes casos, é benéfico dormir para o lado esquerdo. Já as pessoas com insuficiência cardíaca, por exemplo, dormem melhor viradas para o lado inverso. A ciência descobriu que a sensação de incómodo que há muito estas pessoas referiam como justificação para preferir dormir sobre o lado direito tem uma fundamentação clínica.
“Ocorrem, de facto, alterações do funcionamento cardíaco e hemodinâmica nestas pessoas com decúbito lateral esquerdo durante o sono”, confirma Susana Moreira.
Deitado de costas
Prós
Permite o alinhamento da coluna, aliviando a tensão na cervical e as dores nas costas.
Contras
Dificulta a respiração, aumenta o ressonar e o risco de apneia do sono.
Deitado de barriga para cima, com a cabeça e os ombros ligeiramente elevados, o corpo fica numa posição neutra, de relaxamento. A posição de decúbito dorsal, o termo médico que designa a posição em que a pessoa está deitada de barriga para cima, favorece um bom posicionamento da coluna, sendo por isso “uma opção de conforto para várias alterações osteoarticulares”, explica Susana Moreira.
O alívio da tensão na zona do pescoço e cabeça ajuda a atenuar as dores na área cervical e/ou lombar (podendo ser aconselhada a colocação de uma almofada por baixo dos joelhos para melhores resultados).
Em termos respiratórios, no entanto, esta é a posição para dormir com maiores riscos, que agrava o ressonar e aumenta o perigo de apneia do sono, lembra a médica. Isto acontece porque “é uma posição de maior fragilidade anatómica, que deixa a via aérea em desvantagem em relação ao efeito da gravidade”, propiciando o estreitamento.
“Como a via aérea superior tem apenas uma estrutura óssea de sustentação posterior (na coluna), o relaxamento muscular próprio do sono diminui naturalmente o seu diâmetro”, explica Susana Moreira. O movimento do diafragma contra o volume abdominal, em especial nas pessoas obesas, também é dificultado.
“Nos doentes com diagnóstico de apneia, o número de apneias duplica quando estão em decúbito dorsal”, acrescenta. Na gravidez, à medida que a gestação progride, o peso do útero nos vasos abdominais ganha importância e dormir de costas também não é recomendado.
Virado para baixo
Prós
Não interfere com a respiração.
Contras
Favorece o desalinhamento da coluna e aumenta a tensão na zona do pescoço.
O que está em causa é sobretudo o desconforto. Para a maioria das pessoas, dormir na posição de decúbito ventral, de barriga para baixo, é desagradável e muitas vezes causa dores na zona cervical ou sensação de dormência na zona do pescoço. “É uma posição incomodativa mas sem riscos significativos”, resume a especialista em Medicina do Sono.
A via aérea não fica comprometida e também não existe perturbação da circulação. “A dormência ocorre por compressão de nervos periféricos”, conclui Susana Moreira.
Comentários