Se observarmos a maior parte das crianças permite-se a sonhar, atirando respostas como “astronauta”, “futebolista” ou “youtuber”, por exemplo, que rapidamente os adultos pensam que não serão atingíveis, por uma série de motivos ou, por outro lado, que não são compatíveis com aquela família ou com aquela criança.

A verdade é que fazemos esta pergunta com tanta frequência, porque a componente profissional, por norma, ocupa um espaço significativo na vida de alguém e, por isso, acreditamos que define - pelo menos em parte - essa pessoa.

No entanto, criamos também uma carga muito forte nesta área e, quando passamos para a adolescência, as respostas a esta pergunta passam a ser ou menos concretas, menos sonhadoras ou simplesmente resumidas a um “não sei”.

Se observarmos bem, às crianças permitimos-lhe sonhar as profissões, mas aos adolescentes, temos por hábito começar a condicionar os sonhos e a direcioná-los em determinadas direções que consideramos - na nossa perspectiva - mais adequadas. Fazemo-lo apenas porque acreditamos ser o melhor para um adolescente, mas será mesmo assim?

Ora é verdade que há profissões que se matizam com a personalidade da pessoa, mas também é verdade que na adolescência, muitas vezes, não se está plenamente preparado para tomar uma decisão profissional consciente e segura. Assim, muitas vezes, as decisões são tomadas com base no estatuto social associado às profissões, com base nas expectativas da família, com base nos ordenados e, à custa disso, fica muitas vezes para trás o real interesse e as reais competências de cada um.

Este cenário, leva mais tarde na fase adulta a uma frequente insatisfação com a vida profissional. Neste contexto, não é raro vermos, por exemplo, pessoas com excelentes condições de trabalho e que, mesmo assim, se sentem incompletas e permanentemente insatisfeitas com a sua profissão. Como se, por muito que pudessem evoluir na carreira, nunca sentissem que estão efetivamente no lugar que deveriam estar.

É, por tudo isto tão importante que, quer na adolescência, quer na fase a adulta nos permitamos a sonhar profissionalmente, nos permitamos a olhar para tudo aquilo que somos, para as nossas competências, para os nossos interesses e, a partir daí, tomar uma decisão académica e profissional sustentada e segura.

Não que uma profissão tenha que ficar para a vida toda, mas sim porque as profissões que exercemos nos devem acrescentar, nos devem, completar. No fundo, uma profissão ocupa uma parte tão significativa da nossa vida que não deve ser exercida apenas porque fomos direcionados para ela, sem pensarmos muito em todas as nossas competências, em tudo aquilo que somos e sentimos.

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.