Inúmeras vezes, no nosso quotidiano, somos invadidos por questões como “ela não me parece feliz, por que continua naquela relação?”.
As relações têm sido alvo de estudo da ciência psicológica e sabe-se que, para algumas pessoas, o processo de tomar a decisão de terminar uma relação pode ser mais doloroso ou desafiante do que a escolha de permanecer ao lado de uma pessoa que já não proporciona bem-estar, felicidade ou plenitude.
A literatura tem vindo a identificar alguns fatores para que a pessoa tome a decisão de se manter numa relação mesmo que não esteja feliz.
Tomem-se como exemplos:
- Esperança de que a outra pessoa mude os comportamentos que prejudicam o bem-estar da relação (por exemplo, pensar “ela vai mudar, só precisa de tempo”).
- Medo de ficar sozinho (isto é, não amar e/ou ser amado por outra pessoa).
- Investimento emocional na relação (por exemplo, pensar “vou deitar tudo a perder após tanto tempo juntos?”).
- Pressão social e familiar para continuar na relação.
- Medo do desconhecido (e não meramente de ficar sozinho). A pessoa é envolvida por uma sensação de insegurança em relação a tudo o que envolve iniciar uma vida sem o outro: novas rotinas, perda das dinâmicas de casal, dos planos e expectativas para o futuro.
- Sentido de responsabilidade pela rutura. Não raras vezes, a pessoa receia vir a vivenciar sentimentos de culpa e arrependimento por ter um papel ativo no término, adiando consecutivamente a decisão de terminar a relação.
- Experiências passadas de rutura. Ainda que a pessoa tenha sobrevivido no passado a uma rutura, sente-se assustada pelo quão dolorosa foi a experiência e não quer repetir a mesma.
- Este é um dos principais fatores que impede o ser humano de mudar e que se aplica também às relações interpessoais. Por vezes, o comodismo é facilitado pelas próprias comparações a relações de terceiros (como por exemplo, pensar que “a minha relação não é assim tão má, pior é o casamento da Ana” ou “pelo menos, ele nunca me traiu e agora não se pode confiar em ninguém, sinto-me mais segura nesta relação)”.
- Dependência emocional e/ou financeira.
Pode existir uma tendência para que, numa fase precoce da relação, a pessoa comece imediatamente a ignorar algumas pistas ou sinais de que a relação pode não resultar – as designadas “red flags”, comummente traduzidas para “bandeiras vermelhas”.
A decisão de se manter numa relação na qual não se sinta feliz não é, de todo, ausente de consequências para ambas as pessoas envolvidas no relacionamento. Tomem-se como exemplos:
- Saúde física: maior risco de doenças cardiovasculares, cancro, fadiga e um sistema imunitário tendencialmente mais frágil.
- Saúde mental: sintomas de ansiedade, depressão (sensação de vazio, baixa autoestima), uma baixa tolerância à frustração (explosões de raiva, irritabilidade) e uma potencial reduzida disponibilidade emocional e mental para cumprir com outros papéis importantes para a identidade (papel parental, desempenho laboral).
Caso se identifique com alguns destes medos, inseguranças ou sinais, é importante recordar que não está sozinho(a). A terapia permite uma maior reflexão e consequente segurança associada à tomada de decisão de terminar a relação, assim como um maior apoio, aquando do processo de luto da relação perdida e respetiva caminhada de crescimento e desenvolvimento pessoal (por exemplo, trabalhar a autoestima). Por oposição, com a ajuda especializada, pode encontrar as ferramentas certas para retomar a sua relação, com novos limites, expectativas, estratégias de diálogo, entre outros.
Independentemente de qual seja a decisão final, pode sempre beneficiar de acompanhamento psicológico, tendo em consideração que a saúde mental e o bem-estar são a sua prioridade.
As explicações são de Sofia Gabriel e Mauro Paulino da MIND – Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
Comentários