Enquanto seres humanos experienciamos uma grande variedade de emoções. Embora exista alguma discordância acerca de quais são as emoções humanas básicas, parece existir um certo consenso, entre os especialistas, acerca de nove emoções: amor, alegria, curiosidade, medo, raiva, choque, tristeza, nojo e culpa.

Comecemos então com uma experiência: das nove emoções acima mencionadas, quais considera serem boas ou positivas? Agora, quais das emoções considera serem más ou negativas? Tendencialmente, classificamos as três primeiras emoções como sendo boas ou positivas e as restantes como sendo más ou negativas, situação que, estatisticamente, nos deixa numa situação emocional desvantajosa. Isto acontece porque, culturalmente e de forma transversal, somos ensinados desde tenra idade que as emoções desagradáveis são más e que as emoções agradáveis são boas, e a partir do momento que rotulamos algo ou alguém como mau, passamos a lutar contra o que está para lá do rótulo, aumentamos as nossas defesas e deixamos pouco espaço disponível para avaliar de forma pragmática o conteúdo rotulado.

As emoções não fogem à regra. A partir do momento em que as julgamos e as rotulamos como más ou negativas, começamos a combatê-las. Paradoxalmente, quanto mais lutamos, maior o impacto e a influência dessas emoções na nossa vida. E o problema é que até podemos dizer que todas as emoções são boas pois, quando ativadas, permitem-nos aumentar a perceção, a atenção, a aprendizagem e a memória, ou definir e priorizar objetivos, agir física e mentalmente de acordo com as necessidades, principalmente aquelas que nos preparam para sobreviver.

Imagine como seria a vida sem o medo a ajudar-nos a preservar a nossa integridade física? Como poderíamos corrigir erros sem culpa? Neste sentido, aprender a abandonar esta luta e criar um novo hábito face às emoções, aceitar que temos de sentir e experienciar as emoções independentemente de serem agradáveis ou desagradáveis, pode tornar-se poderoso, embora difícil de aprender.

Imagine-se numa praia em que as emoções são representadas pelas ondas. Talvez consiga opor-se ou fugir a ondas pequenas sem sofrer o seu impacto, mas durante quanto tempo consegue fazê-lo? E se as ondas forem grandes? Certamente será uma luta com um desfecho desagradável. Mas, e se quando a onda vier, mergulhar atravessando-a, mesmo sentido a sua força? A probabilidade de chegar ao outro lado em segurança é bastante maior. Da mesma maneira, mergulhar nas emoções sem evitamento ou luta, permitir-lhe-á sair do outro lado sem sofrer o seu impacto de forma devastadora.

Se quisermos viver uma vida plena e com significado - seja construir uma carreira, relações próximas e ricas com familiares, amigos, companheiros, pais, uma vida social ou mantermo-nos saudáveis - isso implica experienciar a totalidade do espetro das emoções, podendo ser benéfico categorizá-las como agradáveis e desagradáveis em detrimento de boas e más ou positivas e negativas. Naturalmente que isto implica aprendizagem e a criação de um espaço de consciência que nos permita saber o que estamos a sentir, porque estamos a senti-lo e, independentemente da emoção sentida, agirmos no sentido que nos possibilite aproximarmo-nos dos nossos objetivos.

Aqui surge, muitas das vezes, a comum expressão “controla as tuas emoções”, sublinhando a influência cultural do nosso posicionamento de oposição (ou fuga) face às emoções. Na realidade, não podemos fazê-lo, e teremos mais sucesso se nos focarmos em conseguir controlar as nossas ações decorrentes das emoções que sentimos.

Viva plenamente com as suas emoções.

João Ferreira da Silva - Psicólogo clínico