À semelhança do que sucede com as outras variedades de uvas, a uva-morangueira é, também ela, um fruto rico em substâncias antioxidantes. A fibra, contida na pele e nas pevides deste alimento, combate a prisão de ventre e regula o trânsito intestinal. Esta fruta, muito apreciada pelos portugueses, contém potássio, magnésio, ácido fólico e vitamina B6, para além de flavonoides e resveratrol, substâncias que atuam contra as doenças cardiovasculares e o cancro, prevenindo estas patologias.
Ainda é possível encontrar a uva-morangueira, além das vinhas, em muitos jardins portugueses. O final de novembro é uma boa altura para fazer estacas, pois é raro encontrar estas vinhas nos centros de jardinagem. Para as fazer, utilize um ramo do ano corrente conservando de cada lado dois centímetros. Para o conseguir, faça um T com dois pequenos braços num corte de 25 centímetros, cortando após o quarto olho. Enterre, seguidamente, a barra do T e deixe sair um olho.
Falo da uva-morangueira como uma fruta de mesa, porque é um fruto excelente nas nossas latitudes. Doce e saborosa quando atinge a maturidade. Como não se encontra no supermercado, merece ser cultivada. Estas vinhas são híbridos de vinhas americanas com as nossas vinhas europeias. A história do género Vitis é incrivelmente complicada. A vinha é uma planta que data do Pleistoceno, tem mais de dois milhões de anos e é uma das mais antigas plantas cultivadas. Há 140 anos, os cientistas de Montpellier selecionaram nos EUA e no Japão vinhas resistentes aos insetos phylloxera e tolerantes ao calcário. Seguiram-se depois numerosas hibridações.
E, entre elas, as uvas-morangueiras. Esses híbridos foram concebidos, em muitos casos, como porta-enxerto no caso da Jacquez, para vinho no caso da York Madeira e da Herbemont ou para vinho a destilar no caso de Baco. Com bagos pequenos, deve ser vindimada muito madura. Aceita bem solos calcários, tem soberbas parras vermelhas no outono e, com elas, faz-se uma tisana para a circulação do sangue. Resistente a todas as doenças de vinificação autorizadas, a uva-morangueira pode ser rosé.
As variedades mais cultivadas no Alentejo
Eu cultivo seis variedades no Alentejo mas é difícil dizer qual é a melhor porque a qualidade varia de ano para ano. As indispensáveis são Isabel ou Isabela, com sabor de framboesa. Sem nenhum tratamento, é uma uva negra em pequenos cachos, vigorosa, numa videira que pode medir ate 10 metros. Pode ser utilizada para cobrir um terraço mas evite colocá-las a cobrir zonas de estacionamento de veículos automóveis, pois as uvas caiem facilmente quando estão maduras, manchando-os.
A Fragola ou Isabela Rosé, cultivada em Itália, apresenta um bago médio e rosa. É uma maravilha de sabor a morango, irresistível, assim como a Jacquez ou a Black Spanish. Presente na Madeira, as parras assemelham-se às folhas das figueiras. Grandes cachos de bagos negros, suculentos, esta variedade dá um bom sumo colorido e com sabor a groselha, picante. Por vezes, é sensível ao míldio. Na lista das dispensáveis está a Noah Blanc. Com uma boa produção habitualmente. Tardia. Muita gente não gosta do sabor, como também sucede com a Herbemont, que não serve como uva de mesa. A Clinton é incrivelmente vigorosa. Trepa pelas árvores.
Pode cobrir todo um edifício. Precipitada, é, por vezes, sensível ao oídio. A França interditou a vinificação de Isabel, de Noah, de Jacquez, de Clinton, de Herbemont e de Othelo, uma uva canadiana tardia que não é plantada em Portugal, em 1934, para limitar a sua produção em demasia na Argélia, no norte de África. Esta interdição existe ainda hoje, sem justificação demonstrada, em direito europeu. Estas vinhas são plantas fáceis, generosas. Produzem muitas uvas com sabor a frutos do bosque.
Estas uvas, além dos benefícios nutricionais, são também decorativas. Podem ser armadas e cultivadas em vasos. Sem tratamentos, podem ser plantadas em qualquer lado, junto a uma habitação para cobrir muros ou nas hortas para trepar às árvores. Não interessam às aves e não precisam de ser enxertadas. No entanto, é necessário proteger as uvas com um saco, porque atraem as abelhas e as vespas. E será necessário podar, podar e podar. A Clinton e Noah são usadas para destilação direta.
Texto: J.P. Brigand
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