No dia 25 de janeiro de 2004, em Guimarães, milhares de espetadores assistiram ao vivo à queda em campo de Miklós Fehér. Durante um jogo entre o Vitória SC e o SL Benfica, que estava a ser transmitido em direto, o futebolista húngaro caiu inanimado. A paragem cardíaca na origem da morte do desportista de 24 anos deveu-se a uma cardiomiopatia hipertrófica. No dia 7 de abril de 2021, Jorge Coelho, empresário e gestor, ex-ministro, sofreu um ataque cardíaco fulminante em casa. Morreu de imediato. Tinha 66 anos.
Miklós Fehér e Jorge Coelho são apenas dois dos casos mais mediáticos de morte súbita de causa cardíaca. Estão, no entanto, longe de serem as únicas vítimas mortais. "Corresponde a cerca de 20% de todas as mortes", alerta João Lopes Gomes, cardiologista na Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC). "A morte súbita de causa cardíaca tem uma incidência de cerca de um por cada mil habitantes/ano", esclarece o médico no artigo que escreveu para o Cardio 365º, um projeto multiplataforma.
"Além disso, sabe-se que em dois terços das situações é provocada por doença coronária, contribuindo para a mortalidade desta população em mais de 50% dos casos", revela o especialista. "A morte súbita cardíaca tem uma mortalidade superior à provocada pela sida, pelo cancro da mama e pelo cancro do pulmão em conjunto", afirma João Lopes Gomes. "É definida como sendo uma morte de causa natural, devida a uma doença cardíaca. Caracteriza-se por uma perda súbita de consciência que ocorre dentro de uma hora após o início dos sintomas agudos", explica o cardiologista.
"A doença cardíaca subjacente pode ou não existir previamente, mas o momento e o modo da morte são sempre inesperados", refere ainda. "Na grande maioria dos doentes, a morte súbita é a primeira manifestação de doença cardiovascular", adverte. Este grupo de patologias inclui doenças como as cardiomiopatias, a displasia arritmogénea do ventrículo direito e as doenças valvulares. "Com menor incidência, entre 5% a 10%, podem também ocorrer algumas das chamadas doenças elétricas", refere.
A lista inclui o síndrome de Brugada, os bloqueios cardíacos completos e o síndrome de QT longo. "Há ainda casos de morte súbita cardíaca familiar e até mesmo uma pancada forte numa pequena área do tórax pode levar à paragem cardíaca. É o chamado commotio cordis, que pode ocorrer em desportos como o hóquei, o basebol ou o golfe", esclarece João Lopes Gomes. "Também o consumo de determinados fármacos ou de determinadas drogas pede levar à morte súbita", acrescenta ainda o cardiologista.
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