São muitas as questões que o novo coronavírus veio suscitar. Aplicar água do mar no nariz previne a infeção? O vírus SARS-CoV-2 pode ser transmitido através dos alimentos? Devemos lavar tudo com lixívia para prevenir a COVID-19? Em tempo de pandemia e de confinamento, continuam a ser muitas as interrogações. Maria Espírito Santo, especialista em medicina geral e familiar, responde a estas e a muitas outras dúvidas num artigo da revista Saber Viver.
1. As crianças não são infetadas pela COVID-19?
Os dados epidemiológicos, que vamos retirando da China, de Itália e de Espanha, têm demonstrado que as crianças também são infetadas pelo novo coronavírus. Contudo, o que parece acontecer é que a maioria tem sintomas ligeiros e recuperam completamente. Têm sido ainda descritos alguns casos de crianças infetadas pelo coronavírus, mas assintomáticas. Apesar de não terem queixas, podem transmitir o vírus.
2. As luvas e as máscaras protegem-nos eficazmente do novo coronavírus?
A máscara deve ser usada apenas quando indicada e, tendo em conta as recomendações das autoridades de saúde, em pessoas com sintomas de infeção respiratória, nomeadamente tosse, espirros, congestão nasal. As pessoas que prestem cuidados a suspeitos de infeção por COVID-19 também devem usar máscara. Para a máscara ser eficaz, é importante que seja bem colocada.
É importante tapar a boca e o nariz e confirmar que não existem espaço abertos entre cara e máscara. A máscara deve ser acompanhada da higiene das mãos frequente, nomeadamente antes de colocar a máscara e de cada vez que tocar na máscara. Caso contrário, a máscara pode contribuir para uma falsa sensação de segurança e aumentar o risco de contaminação. Usar luvas parece ser menos eficaz do que a correta lavagem das mãos. As luvas podem também elas dar uma falsa sensação de segurança, pois temos as mãos, que sabemos ser o local potencialmente mais contaminado do nosso corpo, cobertas.
Mas esquecemo-nos que os vírus também se alojam na superfície das luvas e que, depois, levamos as mãos com as luvas à cara, aumentando o risco de contaminação. Como tal, o uso de luvas não está recomendado para a população em geral. A regra mais importante para todos é a lavagem frequente das mãos com sabão ou a desinfeção com solução alcoólica a pelo menos 70%.
3. Comer alho previne a infeção causada pelo novo coronavírus?
O alho é um alimento saudável e parece ter algumas propriedades antimicrobianas. No entanto, não há evidência científica, até à data, que sustente que comer alho proteja as pessoas desta infeção.
4. A suplementação com vitaminas pode prevenir a transmissão ou tratar a COVID-19?
Apesar de, nas redes sociais, se encontrarem inúmeros produtos adequados para reforço do sistema imunitário, nenhum suplemento demonstrou até à data uma proteção contra o vírus responsável pela COVID-19. No entanto, há outras medidas que sabemos serem potenciadoras do sistema imunitário e que também estão associadas a um melhor prognóstico dos doentes afetados pela doença, como é o caso de deixar de fumar.
O tabaco aumenta em grande escala a probabilidade de infeções respiratórias. Devemos praticar exercício físico regularmente. A perda de peso e ter hábitos de sono saudáveis é boa, pois, para além do défice de horas de sono parecer aumentar a suscetibilidade para infeções, um bom regime de sono tem um impacto altamente positivo no bem estar psicológico, fundamental para atravessarmos o momento que vivemos.
5. A vacina da gripe previne a infeção por COVID-19 e os antibióticos tratam a infeção?
Ainda não existe nenhum tratamento ou vacina dirigidos para o coronavírus, estando preconizadas aquilo a que nós médicos chamamos de medidas de suporte, que são várias ações terapêuticas no sentido de controlar os sintomas e permitir a estabilidade dos doentes. Os antibióticos, como o nome indica, têm como alvo terapêutico as bactérias.
Não os vírus. A vacina da gripe é uma vacina que muda todos os anos, de acordo com os vírus mais comuns que causaram doenças respiratórias no ano anterior. Uma vez que esta estirpe de coronavírus é nova, ainda não foi contemplada na vacina, pelo que a vacina da gripe hoje disponível no nosso mercado não previne a COVID-19.
6. Não devemos tomar ibuprofeno para combater a COVID-19?
Esta questão surgiu após alguns estudos que pareciam demonstrar haver algum malefício para os doentes infetados com COVID-19 que se encontravam a tomar ibuprofeno. No entanto, estes estudos são poucos e não permitem chegar a uma conclusão definitiva.
O Infarmed - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde emitiu um comunicado reforçando que, havendo indicação médica para a toma de ibuprofeno, este não deve ser suspendido. O mais importante é que se aconselhe com o seu médico antes de iniciar qualquer medicação.
7. Aplicar água do mar no nariz previne a infeção causada pelo SARS-CoV-2?
A lavagem nasal recorrente com água do mar é frequentemente recomendada no tratamento das infeções respiratórias comuns. No entanto, até à data, não há evidência de que a lavagem nasal recorrente com água do mar proteja de infeção pelo coronavírus.
8. O novo coronavírus pode ser transmitido através dos alimentos?
O vírus não parece ser transmitido pela via digestiva, nomeadamente através dos alimentos. As portas de entrada que conhecemos para o vírus no nosso organismo são a boca e o nariz e, potencialmente, os olhos. Ainda assim, antes da preparação das refeições, é importante realizar a higiene correta das mãos. Surgem também muitas dúvidas relativamente às idas aos supermercados.
O que sabemos, para já, é que o tempo de vida do vírus nas superfícies é de cerca de seis a oito horas no plástico e de pouquíssimas horas no cartão. Não há qualquer problema em carregar sacos de plástico nem em pegar nas coisas no supermercado, desde que não toque na cara enquanto arruma as compras. Independentemente de o fazer ou não, assim que acabar de as manipular, lave logo as mãos.
9. Os animais domésticos podem transmitir COVID-19?
De acordo com a informação da Organização Mundial de Saúde, não há evidência de que os animas de estimação, nomeadamente os cães e os gatos, sejam infetados e possam transmitir a doença.
10. Lavar tudo com lixívia é uma forma segura de prevenir o surto de COVID-19?
A lavagem da roupa, contrariamente ao que se pensava, não precisa de ser feita a 60º C, uma vez que o detergente, por si só, inativa o vírus, tal como acontece quando lavamos as mãos. O que mata o vírus é o sabão e não a temperatura da água. Assim, a lavagem das superfícies e dos objetos também pode ser com detergente normal, não precisa de ser com lixívia. O álcool é um bom desinfetante e pode ser usado na desinfeção de objetos como teclados e telemóveis.
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