A “doença mental” ou mais corretamente a perturbação mental, ou a perturbação psíquica, ou emocional, tal com é definida nos sistemas internacionais de diagnóstico e classificação (conhecidos pelas siglas DSM e ICD), é a resposta adaptativa da pessoa, à sua perceção de situações, potencialmente, traumatizantes no seu meio ambiente.

Quando o embrião, o bebé, a criança, o jovem ou o adulto se sentem ameaçados e ignorados, tal perceção pode alterar o seu desenvolvimento normal e, por conseguinte, o seu funcionamento. Por exemplo, o nosso sistema imunitário pode ser perturbado (adulterado) pela presença, continuada, de uma quantidade anormal de "hormonas de stress" (principalmente o cortisol) ou um enorme aumento, repentino, destas hormonas, que tudo influenciam no nosso corpo.

Felizmente que, geralmente, as emoções que sentimos no nosso dia-a-dia, consciente e inconscientemente, desde o estado de embrião, são agradáveis, ou pelo menos, não demasiado desagradáveis ou ameaçadoras e não nos provocam, neste caso, danos graves.

Por vezes ouvimos falar de “perturbações psiquiátricas”, sem que se compreenda muito bem o que seja. Mais parece uma tentativa de apropriação, por parte de uma especialidade médica, de algo que não é, na sua essência, uma situação médica. Este pensamento e comportamento é conhecido como medicalização.

“Perturbação psiquiátrica”, é um conceito antiquado, talvez corporativista, muito usado nos séculos XIX e XX e que seria conveniente abandonar. Em todo o mundo, médicos, psicólogos, investigadores, cidadãos comuns, etc. vêm expondo os motivos, de ordem científica e social, pela qual são de opinião que temos de desmedicalizar muitas situações e comportamentos na saúde e na sociedade, particularmente quando se trata de perturbações psíquicas em crianças e jovens. Um outro exemplo muito comum é a gravidez e o parto. Mas há muitos, muitos mais exemplos.

A ajuda psicológica e os cuidados de saúde mental (no caso de ter sido diagnosticada uma perturbação psíquica), quando contextualizados (integrados na história e no meio ambiente da pessoa) e postos, realmente, ao serviço da criança, do jovem e do cidadão, podem corrigir o desenvolvimento emocional, quando este foi perturbado, e ser efetivos na construção de automatismos, saudáveis, de adaptação.

O grau de satisfação da criança, do jovem e do cidadão, é o parâmetro que tem de definir a qualidade da intervenção e a sua remuneração.

Um artigo do psicólogo Manuel Fernando Menezes e Cunha.