Na prática clínica de muitos psicólogos é bastante frequente as pessoas manifestarem resistência à toma de medicação, mesmo havendo um diagnóstico aferido, e comprovação de um mal-estar geral na vida da pessoa. Para muitos, o recurso à medicação psiquiátrica para o tratamento de perturbações como depressão, ansiedade, perturbação bipolar, ou outras, é um entrave muito grande, gerando resistência e receios. Na maioria das vezes, essa relutância pode estar enraizada em mitos, crenças ou até mesmo em experiências prévias negativas.

Deixo-lhe abaixo as principais razões pelas quais algumas pessoas hesitam em tomar medicação psiquiátrica.

1. O Estigma Social em Relação à Saúde Mental. Muitas pessoas temem que ao tomar medicação psiquiátrica sejam vistas como "fracas" ou "incapazes de lidar com os seus problemas sozinhas". Este estigma leva ao sofrimento silencioso e à resistência ao tratamento adequado. Diferente do que muitos pensam, tomar medicação para perturbações mentais não significa fraqueza, mas sim uma atitude responsável e necessária. Se, por exemplo, o uso de insulina para diabetes ou anti-hipertensivos para controlo da pressão arterial não é questionável pelas pessoas, então por que razão a medicação para doenças mentais parece assumir um papel mais assustador?

2. O Medo da Dependência. Um dos mitos mais comuns é a crença de que todas as medicações psiquiátricas causam dependência. Embora existam classes de medicamentos, como as benzodiazepinas, que podem gerar tolerância e necessidade de controlo rigoroso, a maioria dos antidepressivos e estabilizadores de humor não causa dependência química. Todavia, o acompanhamento profissional é essencial para garantir o uso correto e seguro da medicação.

3. Preocupação com os Efeitos Secundários. Esta é uma preocupação legítima e varia de pessoa para pessoa. No entanto, com o avanço da psiquiatria, existem inúmeras opções de medicamentos com diferentes perfis de efeitos colaterais. O diálogo aberto com o psiquiatra é fundamental para encontrar a melhor opção, ajustar a dose ou até mudar a medicação, se necessário. Mas nem todas as pessoas têm efeitos secundários intensos ou durante muito tempo, pelo que há um período de adaptação que deve ser explicado à pessoa.

4. A Crença de que "Apenas a Terapia Basta". Embora a psicoterapia seja uma ferramenta poderosa e absolutamente fundamental no tratamento de perturbações mentais, em muitos casos a combinação de terapia e medicação é a abordagem mais correta e eficaz.

5. Medo de Perda da Identidade ou Alteração da Personalidade. Algumas pessoas acreditam que a medicação psiquiátrica pode "mudar quem elas são" ou "anestesiar" as suas emoções, retirando-lhes a identidade. Quando bem ajustada, a medicação não tira a essência do indivíduo, mas alivia sintomas debilitantes, permitindo que a pessoa tenha mais controlo sobre a sua vida emocional e mental. Além da regulação sintomatológica, a pessoa estará mais recetiva ao processo psicoterapêutico, beneficiando mais do mesmo.

6. A Influência de Informações Enganosas na Internet. Com a disseminação de informações na internet, muitas pessoas são expostas a opiniões baseadas em desinformação, experiências individuais e pseudociência. Isto pode reforçar o medo e a resistência ao tratamento médico adequado. É sempre recomendável procurar orientação com profissionais de saúde qualificados e não usar o Google ou a Inteligência Artificial (IA) para autodiagnósticos e autoterapias que agravam a condição da pessoa.

7. Experiências Anteriores Negativas. Algumas pessoas que tiveram efeitos secundários adversos ou que não perceberam melhora com determinada medicação podem sentir-se desmotivadas a tentar novamente. Contudo, a resposta a medicamentos varia e podem ser feitos ajustes para encontrar a opção mais adequada. É um processo que requer paciência e confiança nos profissionais. Ademais, é aconselhável a que haja comunicação e articulação entre psicólogo e psiquiatra para que o processo orientado para o cliente esteja, de facto, a beneficiá-lo.

Na prática dos psicólogos é importante que se faça um trabalho de psicoeducação com os clientes que estão resistentes à toma de medicação e que tenham a consciência de encaminhá-los para psiquiatras que possam avaliar e prescrever a medicação ajustada. Da mesma forma, será expectável que o psiquiatra encaminhe os clientes que podem beneficiar da psicoterapia.

Superar mitos e resistências é essencial para garantir um tratamento eficaz e melhorar a qualidade de vida da pessoa. A medicação não deve ser vista como um último recurso, mas como uma ferramenta valiosa (não exclusiva) para promover o bem-estar mental e emocional.

Se está em sofrimento, tem diagnóstico clínico, mas tem dúvidas ou resistência sobre a toma de medicação, fale abertamente com o seu psiquiatra e o seu psicólogo, que irão ajudá-lo/a a perceber os custos-benefícios da mesma e a trabalhar consigo as crenças que possam estar a impedi-lo/a de tomar uma decisão que poderá melhorar a sua qualidade de vida e o seu progresso terapêutico. Não está sozinho(a).

Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND - Psicologia Clínica e Forense.