Sente que a tristeza é uma constante na sua vida, como uma sombra persistente que dificulta o seu dia a dia? Talvez já se tenha apercebido que não é algo passageiro, mas constante ao longo do tempo e, por muito que se esforce no seu dia a dia para ter uma vida plena, o humor mantém-se inalterado.

A distimia, atualmente conhecida como Perturbação Depressiva Persistente (segundo o DSM-5-TR), é definida como uma perturbação do humor crónica e de intensidade geralmente leve a moderada, caracterizada por um humor deprimido que persiste durante grande parte do dia, na maioria dos dias, por um período mínimo de dois anos em adultos (ou pelo menos um ano em crianças e adolescentes). Imagine viver com um humor deprimido quase todos os dias, durante anos a fio. É esta a realidade de muitas pessoas que sofrem desta condição.

A distimia pode parecer menos intensa que uma depressão "clássica", mas os seus efeitos são profundos e duradouros. As pessoas que sofrem com esta perturbação têm constantemente baixa autoestima, sentem-se inadequadas sem motivo aparente, vivem com uma fadiga que não desaparece ou têm dificuldades em focar-se e tomar decisões simples. Estes são apenas alguns dos sintomas que corroem a energia e a alegria de viver, impactando as relações, o trabalho e a vida familiar.

Cerca de 1,5% a 2% da população mundial enfrenta a distimia em algum momento da vida, sendo mais comum em mulheres. Mas o que leva alguém a desenvolver esta perturbação? A resposta é complexa e envolve uma combinação de fatores:

  • História familiar: Tal como outras condições, a distimia pode ter uma predisposição genética.
  • Stress crónico e traumas: Experiências difíceis e prolongadas podem aumentar a vulnerabilidade.
  • Desequilíbrios químicos no cérebro: Os neurotransmissores, mensageiros químicos do cérebro, podem estar desregulados.

A boa notícia é que a distimia tem tratamento e é possível recuperar a qualidade de vida. A abordagem mais eficaz combina duas frentes principais: a psicoterapia e a psicofarmacologia (antidepressivos adequados a cada caso).

Falar com um profissional de saúde mental é um passo crucial, sendo recomendada a articulação entre a psicologia e a psiquiatria.
Diferentes tipos de psicoterapia podem ajudar:

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Aprenda a identificar e a desafiar os pensamentos negativos que alimentam a tristeza e a mudar comportamentos que não são úteis.
  • Terapia Interpessoal (TIP): Melhore as suas relações, aprenda a comunicar melhor e a resolver conflitos que podem piorar a depressão.
  • Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT): Aceite as emoções difíceis como parte da vida e concentre-se em viver de acordo com os seus valores.

Nas consultas com o seu psicólogo, pode ser elaborado um plano diário que reúna atividades e rituais de autocuidado que se sabe terem impacto positivo no bem-estar geral da pessoa, como por exemplo:

  • Exercício físico regular: Mexer o corpo libera endorfinas, substâncias que melhoram o humor.
  • Mindfulness e meditação: Aprenda a acalmar a mente e a reduzir a ruminação de pensamentos negativos.
  • Estilo de vida equilibrado: Durma bem, alimente-se de forma saudável e evite álcool e drogas, que podem piorar os sintomas.

Embora a distimia seja uma condição persistente, com o tratamento certo e acompanhamento contínuo, é possível gerir os sintomas e viver uma vida mais plena e feliz. Estudos recentes comprovam a eficácia da combinação de terapia e medicação, e mostram que procurar ajuda cedo e ter apoio social são fatores chave para uma recuperação mais eficaz.

Se se identifica com os sintomas descritos, lembre-se: não está sozinho. Reconhecer o problema e procurar ajuda profissional são os primeiros passos para sair da sombra da distimia e encontrar a luz novamente. Não hesite em dar esse passo!

Não sofra em silêncio: a ajuda está disponível.

Um artigo da psicóloga Laura Alho, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.