O rosto da menina de sete anos foi dado a conhecer na semana passada pelo jornal "The New York Times", numa reportagem intitulada "A menina iemenita que abriu os olhos para a fome no Iémen", o mesmo jornal que esta sexta-feira anunciou a sua morte.

Aqui um Tweet do editor-chefe do gabinete do The New York Times no Cairo, Egito:

O rosto de Amal Hussain tornou-se o símbolo da fome que afeta 1,8 milhões de crianças no Iémen. Ao telefone com jornalistas do The New York Times, a mãe disse entre um choro compulsivo estar com "o coração destroçado" e mostrou-se preocupada com o futuro dos outros filhos.

Mariam Ali recordou Amal como uma menina "sempre a sorrir". Amal significa "esperança" em árabe.

A menina de sete anos estava deitada na cama de um hospital em Aslam, no norte do Iémen, quando o fotojornalista Tyler Hicks a fotografou. "Não há carne. Só pele e osso", disse a médica responsável ao jornalista do referido jornal.

O conflito no Iémen está a provocar a "pior crise humanitária do mundo", segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), com sucessivos alertas a serem lançados pelo risco de proliferação da fome e doenças.

As imagens de uma guerra esquecida

O Iémen vive assolado por uma guerra sectária entre houthis e salafistas, na qual a vizinha Arábia Saudita apoiada pelos Estados Unidos toma papel ativo no bombardeamento dos rebeldes houthis. 

Cerca de 14 milhões de pessoas estão já em "situação de pré-fome", anunciou recentemente a ONU. Por outro lado, uma grave epidemia de cólera está a provocar milhares de mortes em todo o país.

O português João Martins, chefe da missão dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Iémen, refere que o conflito tem atingido particularmente a população civil, com uma epidemia de cólera e uma crise humanitária já definida pela ONU como a mais grave das últimas décadas e que atinge pelo menos metade dos 23 milhões de habitantes.

Os MSF estão "dos dois lados da linha da frente" no Iémen e a organização tem atualmente no país cerca de 100 colaboradores estrangeiros, para além de mais de 1.000 iemenitas integrados nas suas estruturas de apoio.

"Sei que esta guerra tem sido feita de uma maneira, pelas duas partes, sem consideração pelo que são as pessoas, pelo que é a população no seu geral, pelo bem-estar da população civil que nada tem a ver com esta guerra", denuncia João Martins.