Como é que o livro "Torne o seu filho inteligente emocionalmente", que acaba de chegar às livrarias, pode ajudar os pais a lidar com as emoções das crianças?
Este livro é um guia prático. Foca-se em tudo aquilo que as crianças vivenciam emocionalmente e nos desafios que são colocados aos pais perante as experiências emocionais de uma família. Ao longo deste livro, mais do que teorias, passamos estratégias práticas e passíveis de aplicar de forma simples no dia a dia. Neste livro, há espaço para que os pais se coloquem em questão, para explorar a dinâmica familiar, as emoções, a autoestima e as relações. No fundo, este é um livro que permite aos pais aprender a facilitar o correto desenvolvimento emocional das crianças e a estabelecer uma relação saudável e feliz com os seus filhos.
Qual é o papel das emoções na infância?
As emoções são extremamente poderosas e têm o poder de bloquear ou de impulsionar todas as conquistas de uma criança. A verdade é que, muitas vezes, somos — e muito bem! — muito cuidadosos e preocupados com todo o desenvolvimento físico de uma criança e acabamos por descurar o seu desenvolvimento emocional. Aquilo que nos esquecemos é que sempre que não ensinamos uma criança a lidar com as suas emoções, estamos a colocar um travão ao seu pleno desenvolvimento e a reunir condições propícias ao adoecer psicológico.
No fundo, as emoções são absolutamente fundamentais e funcionam como sinais de alerta perante os diversos acontecimentos de vida que vão surgindo. O objetivo principal das emoções é levar-nos a direcionar a nossa ação. Para percebermos melhor este mecanismo, podemos olhar a título de exemplo para o medo, que surge na sequência de um perigo e procura levar-nos à ação de nos protegermos. As emoções são, assim, guias e levam-nos a agir. É indiscutível que se as crianças aprenderem a expressar e a gerir as suas emoções na infância, vão crescer mais capazes e sentir-se mais seguras de si próprias.
Qual a importância da inteligência emocional?
A inteligência cognitiva permite-nos, muitas vezes, atingir mais rapidamente os nossos objetivos, mas é a inteligência emocional que permite que perante a falha, a frustração ou o insucesso consigamos reunir os recursos necessários para persistir, para ganhar clareza sobre a situação problema e para encontrar uma solução que nos permita ‘sair vencedores’.
A inteligência emocional implica que consigamos compreender as nossas emoções e as emoções dos outros, para além disso, implica autoconhecimento, capacidade de estabelecer relações saudáveis e positivas, capacidade de ser empático e de manter os níveis necessários de automotivação. Perante isto, é inequívoco que é a inteligência emocional que, muitas vezes, determina a nossa capacidade de atingir, ou não, o sucesso nos mais variados desafios da nossa vida.
Porque é que é fundamental desenvolvermos a inteligência emocional desde criança?
Quanto mais cedo o contexto promover a inteligência emocional de uma criança, mais essa aprendizagem será robusta e sólida por todo o seu crescimento e por toda a sua vida. E, por entre o crescimento de uma criança, não nos podemos distanciar da importância do papel dos pais neste processo, uma vez que os pais são os principais modelos de uma criança e, por isso, podem e devem estimular a inteligência emocional de uma criança desde cedo. Esta estimulação acontece, por exemplo, nas coisas mais simples, pelas interações entre o bebé e as figuras paternas, pela forma como os pais vão respondendo aos apelos do bebé e, à medida que as crianças vão crescendo, através da qualidade das suas interações e dos exemplos que os pais vão transmitindo, nomeadamente na forma como lidam com as suas próprias emoções.
Uma criança inteligente emocionalmente será sempre mais capaz de tolerar a frustração, de persistir perante o insucesso ou de obter um bom rendimento escolar, por exemplo. É muito claro que a inteligência emocional tem um impacto muito significativo no desempenho e bem-estar das crianças, e são as famílias emocionalmente inteligentes que se tornam famílias mais sintónicas e felizes!
Crianças com inteligência emocional desenvolvida tornam-se adultos mais felizes?
Toda a nossa infância terá impacto na nossa vida adulta e somos sempre o resultado das nossas histórias, da forma como fomos cuidados, amados e da forma como sentimos que as pessoas importantes para nós foram, ou não, estando sintonizados connosco e com as nossas necessidades. Uma criança que cresça capacitada de inteligência emocional será sempre um adulto com as ferramentas necessárias para lidar em tempo real com tudo aquilo que vai experienciando. Ou seja, será mais eficiente a lidar com os imprevistos, a lidar com um insucesso ou com uma perda, da mesma forma que será também mais capaz de se manter motivada para atingir uma conquista, para valorizar o seu próprio sucesso. Será sempre um adulto com uma bagagem mais poderosa que o ajudará e impulsionará no seu dia a dia. Por isso, é tão importante não deixarmos para segundo plano a forma como cuidamos das emoções das crianças, porque seguramente uma criança que cresça no contexto que promova a sua inteligência emocional, será sempre um adulto mais feliz, mais competente, com mais equilíbrio no dia a dia e com relações mais equilibradas.
Como é que se trabalham as emoções nas crianças?
As emoções exigem cuidado diário, exigem atenção e exigem um colo. Assim, se olharmos na perspetiva dos pais, eles precisam de acolher todas as emoções das crianças, precisam de as validar e só depois podem desejar que a criança seja capaz de gerir as suas emoções. É inquestionável que no dia a dia temos um terreno fértil para o desenvolvimento da inteligência emocional, pelo que, se diariamente, aplicarmos uma linguagem com emoções, temos uma ótima alavanca para uma criança se desenvolver emocionalmente. Desta forma, os pais estão na primeira linha enquanto educadores emocionais dos seus filhos.
Numa perspetiva clínica, as emoções de uma criança continuam a precisar de tudo isto, mas o trabalho é direcionado e cirúrgico, e baseia-se essencialmente no brincar. O brincar surge de forma simbólica e permite que enquanto uma criança brinca ou entra em competição, elabore tudo aquilo que vivencia emocionalmente, se fragilize e, só depois, exista espaço para organizar o pensamento da criança ou para lhe facilitar estratégias para que lide de forma mais eficiente com todo o seu mundo emocional.
Nesta área, é ainda importante termos presente que, antes de podermos pensar em ajudar a criança a gerir emoções mais concretas como, por exemplo, o medo ou raiva, há pilares fundamentais que pais e educadores devem seguir, para garantir um caminho propício ao desenvolvimento da inteligência emocional e ao bem-estar de uma criança, todos esses pilares são explorados no desenrolar no livro.
Podem dar-nos 3 dicas para sermos emocionalmente mais inteligentes?
Para se ter inteligência emocional há vários passos que precisam de ser adquiridos, mas, podemos destacar três deles.
Um dos pontos essenciais é sermos capazes de nos conhecer a nós próprios. O autoconhecimento deve ser desenvolvido desde cedo e permite que uma criança consiga, por exemplo, ter consciência de quais são as situações em que fica mais ansiosa ou que a deixa mais triste. Ao ter esta capacidade desenvolvida, saberá também como agir perante essas situações.
Outro ponto absolutamente fundamental é conseguirmos lidar com as nossas emoções que se divide em três fases: identificar, expressar e gerir. No fundo, para uma criança — ou um adulto — ser emocionalmente inteligente, precisa de ser capaz de identificar emoções, isto é, conseguir reconhecer aquilo que está a experienciar, conseguir dar um nome à emoção, alegria, raiva ou medo, por exemplo. Posteriormente, é importante deixar que essa emoção se possa expressar, sair de dentro de si, seja através da palavra, das artes ou do desporto, por exemplo. Apenas após estes dois passos, se pode gerir as emoções, esta fase implica a capacidade de integrar as emoções no seu interior e atribuir-lhes um significado na sua própria história.
Outra questão fundamental prende-se com a capacidade de estabelecer relações positivas e duradouras. As relações assumem um papel de suporte muito importante para o nosso dia a dia e para a nossa vida. A nossa capacidade de mantermos essas relações, de cuidarmos delas e as utilizarmos se necessário como rede de suporte, começa também a ser desenvolvida desde a primeira infância, o sentimento de pertença a uma família, a um grupo de amigos, precisa de existir e dá-nos a segurança de que precisamos para prosseguir e crescer de forma saudável.
Perante tudo isto, só pode existir uma inteligência emocional sólida se formos capazes de ter autoconhecimento, de lidar com as nossas emoções e de estabelecer relações positivas e duradouras.
Quais são os objetivos do lançamento deste livro?
Após vários anos de experiência clínica e de contacto direto com muitos pais e muitas crianças, percebemos que faltava um livro que, de forma simples, permitisse aos pais adquirir estratégias para compreender como funciona o mundo emocional das crianças e para facilitar o desenvolvimento da sua inteligência emocional.
Este livro surge perante esta necessidade e pretende chegar ao coração de todos os pais e de todos aqueles que lidam com crianças. Para que, gradualmente, cada vez mais famílias consigam promover um crescimento emocional saudável a cada vez mais crianças.
Sendo que, o grande objetivo deste livro — repleto de estratégias práticas — , é levar os pais a agir, para que, passo a passo, enquanto o lêem, gerem transformações no seu interior e ganhem as ferramentas necessárias para tornar os seus filhos inteligentes emocionalmente.
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