A diabetes, uma doença silenciosa, muitas vezes assintomática, que mata 12 pessoas por dia em Portugal, é um problema de saúde que não afeta apenas os diabéticos. Uma vez que também interfere com a saúde mental dos que sofrem desta patologia, acaba por afetar também a vida dos que os rodeiam. Muitas das investigações científicas levadas a cabo nos últimos anos indiciam que esta doença pode levá-los a estados depressivos e até a agravá-los, mas o inverso também é uma possibilidade efetiva, alertam especialistas.

"Um estudo sobre diabetes e depressão publicado pelo Journal of Medicine and Life veio mostrar que a incidência desta última doença pode ser até duas vezes maior em doentes com diabetes tipo 2 e até três vezes superior nos com diabetes tipo 1, em comparação com a população em geral", refere o Diabetes 365º, o projeto de literacia que pretende auxiliar os portugueses a viver com esta patologia. A probabilidade de um diabético vir ou não a desenvolver depressão vai depender de vários de fatores.

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"O tipo de tratamentos a que está sujeito, o estilo de vida, a evolução e as complicações associadas à própria doença estão entre eles", enumera o site do projeto. No entanto, os diabéticos que têm maior suscetibilidade para desenvolver depressão são "mulheres, pessoas com diabetes diagnosticada em idades jovens, [indivíduos] com mau controlo metabólico, com obesidade e/ou com complicações da doença ou [ainda cidadãos] em situação social vulnerável", afirma Raquel Carvalho, endocrinologista no Hospital CUF Infante Santo, em Lisboa, habituada a lidar com o problema. O diagnóstico de uma doença crónica pode ser um catalizador.

Esse fator pode ser o suficiente para impactar a saúde psicológica do doente diabético. A aplicação da insulina, ainda tabu e sinónimo de inibição e/ou desconforto para muitos, pode ser outra das causas. "Há mecanismos fisiopatológicos subjacentes comuns a ambas as doenças. A desregulação do eixo hipotálamo hipofisário com aumento dos níveis de cortisol, a ativação do sistema imunitário com aumento de produção de citocinas pró-inflamatórias e fatores ambientais e genéticos são exemplos", refere.

"Por outro lado, flutuações grandes de glicemia podem produzir alterações estruturais a nível cerebral, interferindo com o humor e a condição psicológica", explica ainda Raquel Carvalho. Ovidiu Popa-Velea, um dos autores do estudo publicado pelo Journal of Medicine and Life, defende o recurso a uma abordagem psicológica da diabetes que tenha em conta os sintomas comportamentais do diabético "desde cedo" e que contemple a implementação de "intervenções psicoterapêuticas efetivas", sugere.

"Uma gestão correta da diabetes deve envolver uma ação conjunta entre o paciente, o seu médico e um psicólogo, que implique a definição de um tratamento mais prolongado, com um ganho substancial para o doente", sublinha o investigador do departamento de psicologia médica da Universidade de Medicina e de Farmácia Carol Davia, em Bucareste, na Roménia, um dos quatro autores do estudo. Nas últimas décadas, foram vários os trabalhos científicos a alertar para a relação entre a diabetes e a depressão.

Um estudo de uma universidade norte-americana, tornado público nos primeiros meses de 2020, garante que as pessoas que sofrem de retinopatia diabética, uma das várias complicações da diabetes, têm uma maior propensão para a doença. Uma outra investigação, levada a cabo por um organismo de saúde público de Taiwan, na Ásia, divulgada pela publicação especializada Epidemiology and Psychiatric Sciences, também alerta para a correlação entre os transtornos depressivos comórbidos e a diabetes.