A raiva é uma emoção universal e é também considera uma “emoção intimista” porque, regra geral, costumamos manifestá-la com pessoas que nos são próximas. Em casos extremos, pode-se desenvolver a Perturbação Explosiva Intermitente, atualmente categorizada no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais (DSM-5), e que é caracterizada por explosões de raiva e violência, que são desproporcionais a qualquer provocação, real ou percebida.
Como identificar problemas de controlo da raiva
O primeiro passo é tentar identificar se você ou algum membro da família tem um problema de controlo da raiva. As seguintes questões podem ajudá-lo(a) a determinar a resposta:
- Sente raiva muitas vezes?
- Sente que sua raiva foge do seu controlo e escala rapidamente?
- A sua raiva afeta negativamente os seus relacionamentos?
- A sua raiva magoa outras pessoas?
- Os níveis de raiva que sente no momento faz com que você diga ou faça algo que mais tarde se arrepende?
- Quanto está com raiva, torna-se fisicamente abusivo(a) ou violento(a)?
- Tem dificuldade em expressar emoções de forma calma?
- As pessoas à sua volta acusam-no(a) de gritar ou têm medo de suas explosões de raiva?
O tratamento de controlo da raiva pode ser realizado com Terapia Cognitivo-Comportamental, individualmente ou em grupo. Se sente que está a ter dificuldades em gerir a raiva, o primeiro passo é procurar ajuda profissional. No entanto, deixo-lhe algumas técnicas preventivas que pode tentar aplicar sozinho(a).
1. Exercícios de respiração. A respiração é uma das primeiras alterações fisiológicas a ser notada em qualquer estado emocional. Assim sendo, o seu controlo, seja preventivo e/ou em momentos críticos, ajuda a acalmar e a diminuir os níveis de cortisol (responsável pelo stress e pela ansiedade). Mediante a existência de alguma dificuldade respiratória, os exercícios devem ser adequados à sua condição.
2. Identificar gatilhos, reações e consequências. Reconhecer os estímulos que lhe ativam a emoção raiva, as reações que tem automaticamente e as consequências diretas e indiretas da sua manifestação de raiva permite ter consciência deles e ajudá-lo-á, em terapia, a fazer um plano de ação ajustado às suas necessidades. O primeiro passo para sair do “piloto automático” é ter consciência do que lhe ativa esse estado emocional.
3. Refutar crenças. Temos maneiras de interpretar as situações de forma agressiva ou não agressiva. Considere interpretações não agressivas de situações, despersonalizando-as, ou seja, como se estivesse a ver a situação de fora como um observador e não como um participante ativo. Isso ajudará a controlar as reações de raiva e prepara-o para o passo seguinte.
4. Treino de assertividade e pensamento antecipatório. Existem várias técnicas de assertividade, que incluem a afirmação empática, a desconstrução de narrativas e os monólogos guiados. Ao treinar a assertividade, também treina o pensamento antecipatório, que é a colocação de hipóteses de algo que pode acontecer e as respostas adaptativas que se podem ter nesses cenários. O que nos leva para o último passo.
5. Resolução de problemas. Para se resolver qualquer problema, é necessário identificá-lo primeiro (ponto 2 deste artigo). Posteriormente, é necessário pensar em soluções alternativas para criar maior flexibilidade cognitiva e desconstruir as crenças enraizadas. No final, é necessário fazer-se uma autoavaliação sobre o que funcionou, de que forma, e o que pode ser ajustado.
A existência de outras psicopatologias também podem causar desafios no controlo da raiva. Se sofre de algum dessas perturbações ou experimentou as técnicas citadas acima com consistência por um período de alguns meses com pouco ou nenhum sucesso, entre em contato com um profissional de saúde mental credenciado para obter um acompanhamento ajustado. Não se sinta envergonhado(a) por pedir ajuda, porque a melhoria da sua qualidade de vida pode incrementar consideravelmente. A saúde mental é a base de tudo o resto.
Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Psicologia Clínica e Forense.
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