
Marcar uma consulta de Psicologia pela primeira vez pode ser um ato de coragem que gera ansiedade pelas expectativas que se criam. Para muitos, é um salto no desconhecido. “Será que vou ter de contar tudo?”, “E se não souber por onde começar?”, “E se não me sair nada no momento por estar demasiado nervoso/a?”, “E se não gostar do/a profissional?” — estas são algumas das dúvidas mais comuns.
Tendo em consideração o quão difícil pode ser para algumas pessoas procurarem ajuda profissional, o presente artigo pretende responder a estas dúvidas e, acima de tudo, tranquilizar quem está a considerar dar este primeiro passo.
Irei focar-me na abordagem que pratico, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que é uma das abordagens mais utilizadas atualmente e que tem vindo a mostrar grande eficácia não só em quadros clínicos, como também no ganho de competências individuais e pró-sociais.
O que é a Terapia Cognitivo-Comportamental?
Antes de me focar na primeira consulta, importa referir que a TCC parte de uma premissa simples, mas preponderante: os nossos pensamentos influenciam as nossas emoções e comportamentos. Muitas vezes, aquilo que pensamos sobre uma determinada situação pode intensificar o sofrimento que sentimos — mesmo que estes pensamentos nem sempre sejam factualmente verdadeiros – e pode levar-nos a ter comportamentos de autossabotagem, fuga ou punição.
Na prática, a TCC ajuda-nos a identificar pensamentos automáticos, compreender o seu impacto nas nossas emoções e comportamentos, e substituí-los por formas de pensar mais equilibradas, realistas e úteis. É uma abordagem prática, estruturada e orientada para objetivos terapêuticos, mas sempre com espaço para a história e ritmo de cada pessoa.
O que acontece na primeira sessão?
Se está a imaginar um monólogo emocional ou um interrogatório exaustivo, respire fundo: nada disso acontece. A primeira sessão é, sobretudo, um diálogo, um encontro onde se começa a construir uma relação de confiança. Eis o que normalmente ocorre:
1. Conhecer quem é e o que o/a trouxe até ali. O profissional irá querer saber um pouco sobre si: o seu contexto atual, os principais desafios que está a viver e o que espera da terapia. Não é preciso que conte tudo de imediato — a partilha acontece ao seu ritmo e o/a psicólogo/a vai orientando a sessão, elaborando perguntas-chave. Por isso, se estiver nervoso/a ou não souber por onde começar, terá sempre ajuda.
2. Explicar como funciona a TCC. Nesta primeira consulta, é comum que o/a psicólogo explique o modelo cognitivo-comportamental, como serão estruturadas as sessões e o tipo de trabalho que poderá ser feito. É também o momento para esclarecer as suas dúvidas e perceber como se processa a confidencialidade e o acompanhamento.
3. Começar a construir um vínculo terapêutico. A primeira sessão também serve para avaliar se se sente à vontade com aquele(a) profissional. O vínculo entre terapeuta e cliente é fundamental — é nele que se constrói um espaço seguro para a mudança. Se não se sentir confortável com o profissional nesta primeira consulta, tem toda a legitimidade para procurar um novo profissional com quem possa criar uma conexão.
E depois da primeira sessão?
Depois deste primeiro contacto, inicia-se um processo mais estruturado: é feita uma avaliação sobre diferentes dimensões, identificam-se padrões de pensamento, emoções e comportamentos que possam estar a contribuir para o seu sofrimento emocional e estabelece-se um plano concordante com os objetivos que forem estabelecidos.
A TCC envolve exercícios práticos, registos e pequenas tarefas para fazer entre consultas, sempre adaptadas a si, ao seu contexto e às suas necessidades, para que comece a criar espaço para escolhas mais conscientes.
Ir à terapia não é sinal de fraqueza — é um ato de autocuidado e de amor-próprio. A primeira sessão pode ser o início de uma transformação profunda. Um espaço onde, pela primeira vez, se pode ouvir com clareza e ser escutado com empatia e sem julgamentos.
Se está a pensar procurar apoio psicológico, lembre-se disto: não precisa de estar no “fundo do poço” para pedir ajuda. Basta sentir que merece viver com mais leveza, clareza e conexão contigo mesmo/a. A terapia é um processo de autoconhecimento profundo. E tudo começa com este primeiro passo.
Um artigo da psicóloga clínica e forense Laura Alho.
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