“Só consegui isto porque tive muita sorte e conheço as pessoas certas. Enganei-as bem. Eles um dia vão descobrir quem eu sou e vão perceber que na verdade não sou capaz de fazer nada!”

A Síndrome do Impostor é um fenómeno psicológico em que as pessoas têm a sensação persistente de que são fraudes ou impostores apesar todas as evidências mais objetivas irem no sentido oposto.

Sentimentos de inadequação e de “eu não pertenço aqui”, o medo paralisante de ser descoberto como uma fraude, a constante busca pela validação dos outros, a autodepreciação e autocrítica sempre lá são os sintomas mais comuns. Não mereço elogios ou reconhecimento pelo meu trabalho e atribuo todo o meu sucesso à sorte ou acaso. Um perfecionismo que é mais que um traço e me leva a evitar todos os desafios com medo de fracassar.

E isto vai ter um impacto enorme: mais stress, sintomas (de ansiedade, tristeza, alterações do sono), baixa auto-estima e muitos. Evitam oportunidades de carreira, promoções ou novos desafios ou trabalham compulsivamente para provar o seu valor. O stress, o esforço continuado e a dificuldade em desfrutar do sucesso alcançado pode levar a um esgotamento – estão reunidas as condições para que haja uma única saída - uma Síndrome de Burn-Out.

Apesar da prevalência desta síndrome ser difícil de calcular, estudos sugerem que 20% e 70% das pessoas sente este tipo de sintomas pelo menos uma vez na vida.

Mas para algumas pessoas estes sintomas acompanham-nas a vida inteira. E porquê?

Quando falamos em doença mental a resposta é sempre a mesma. Juntam-se uma vulnerabilidade genética e um ambiente pouco favorável.

Pais exigentes, que fazem críticas duras ou frequentes, história de múltiplas rejeições (na escola, por exemplo) ou um ambiente em que há uma grande pressão externa para o sucesso na infância aumentam este problema. Surge uma pessoa com um caráter marcado por baixa auto-estima, autocrítica e perfecionismo.

Mais tarde, estudar ou trabalhar num ambiente exigente ou competitivo onde há muitos objetivos a serem cumpridos favorece o surgimento destes sintomas quando há uma vulnerabilidade. As redes sociais também podem aumentar a pressão para parecer bem-sucedido ou perfeito, levando as pessoas a comparar a sua vida com a dos outros e a sentir-se inadequadas.

Então como podemos combater isto?

Ponto um - Prevenir. Ao longo do crescimento, é importante que pais e professores elogiem o esforço das crianças nas tarefas e não apenas os resultados, que o façam de modo frequente mas não exagerado, da mesma forma que as críticas possam estar presentes mas não sempre e novamente de modo adequado. Ajudar as crianças a compreender de forma realista quais são os seus pontos fortes e as suas fraquezas. Explicar que errar faz parte.

Quando existe um problema. Reconhecer a Síndrome do Impostor é o primeiro passo para superá-la. Entender que muitas pessoas partilham estes sentimentos e que há maneiras de lidar com eles.

O tratamento inclui a maioria das vezes psicoterapia, cognitivo-comportamental por exemplo.

Querem aprender-se técnicas de relaxamento e mindfullness para gerir o stress.

Querem identificar, desafiar e modificar-se padrões de pensamento disfuncionais, automáticos e distorcidos, que levam a emoções negativas.

Melhorar a auto-estima. E para isso: definir metas realistas, pedir feedback construtivo, reconhecer e internalizar conquistas, aceitar o fracasso também.

Por vezes, é preciso também medicação sempre que já existe doença mental, secundária a esta maneira de pensar e às consequências que isso tem na vida da pessoa. A única forma de perceber se este é o caso é uma avaliação capaz em consulta de Psiquiatria.

Mas hoje, quero que se levem pelo menos uma mensagem deste artigo. O verdadeiro sucesso não é igual à ausência de erros ou falhas. Quem tenta, falha. E os verdadeiros impostores não sofrem da Síndrome do Impostor!

Um artigo da médica Maria Moreno, Psiquiatra na Clínica Cognilab.