Se um grupo é um olhar sobre uma casa (o luto) através de diferentes janelas (perspetivas de cada elemento do grupo), num grupo de intervenção terapêutica no luto há janelas largas e estreitas, pequenas e grandes, com e sem grades. No entanto, mesmo com tantas formas diferentes de pensar, sentir e viver o luto, todas elas acarretam dor, sendo essencial um espaço seguro onde esta possa ser expressa.
Perante o sofrimento e dor emocional, como aquele que pode acontecer aquando de uma perda significativa, o ser humano tende a procurar apoio, suporte e carinho, junto daqueles que lhe são próximos. Contudo, nas situações de luto, as pessoas mais próximas, a quem normalmente se recorre em situações difíceis, estão possivelmente também elas em sofrimento. Deste modo, seja para proteger o outro de um tema doloroso, seja porque o outro também se quer proteger e evitar a dor, esse recurso pode acabar por não se concretizar. Podem resultar situações de sofrimento solitário, isolado, pautado por incompreensões mútuas.
Apesar de algumas pessoas se protegerem da dor, evitando o tema, muitas outras sentem a necessidade de contar a sua história e a de quem perderam, de serem ouvidas, escutadas e validadas. Os grupos de pessoas em luto podem ser uma resposta muito efetiva e o testemunho de quem já os experienciou, ou dos profissionais que os moderam, evidenciam os ganhos que podem resultar de um caminho partilhado.
É natural que existam medos, por exemplo de a dor do outro pesar demasiado, e é certo que existem riscos quando estes grupos não são moderados por psicoterapeutas especializados e experientes, tais como a falta de apoio especializado e recursos adequados, assim como a gestão ineficaz da dinâmica do grupo. Contudo, os grupos oferecem várias possibilidades que podem ser reconfortantes e atenuar a solidão: de se ser verdadeiramente escutado, de receber e fornecer reciprocidade, de perceber que há outros a sentirem o mesmo. Com as palavras do outro também é possível desafiar pré-conceitos, melhor compreender e tolerar outras formas de viver o luto e aprender a estar na e com a dor do outro. Acresce a isto o valor de também poder fazer a diferença na vida de outra pessoa do grupo, acolhendo a dor do outro, através do respeito, da escuta, do não julgamento, da presença.
Quando o sofrimento e a dor emocional são vividos pelos mais pequenos, é igualmente verdadeiro o poder de um espaço seguro de expressão, compreensão, brincadeira e de aquisição de recursos. Respeitando o ritmo de cada criança, quando descobrimos e integramos em conjunto pode ser menos assustador e doloroso.
“Não estás sozinho, eu também me sinto assim”, “Não te vais sentir assim para sempre”: duas mensagens tão marcantes que os grupos de luto podem fornecer a crianças enlutadas. A sensação de isolamento ou de diferença que por vezes a criança sente nos seus contextos sociais, pode ser atenuada quando conhece outras que também sentem tristeza, zanga, medo e tudo o que implica o processo de luto, mesmo que o possam manifestar de formas tão distintas. Da mesma forma, quando a criança encontra no grupo uma outra criança com um processo de luto integrado, testemunha que o sofrimento não será insuportável para sempre e que pode ser possível voltar a divertir-se na rotina do dia a dia, mesmo continuando a sentir saudades da pessoa que perdeu. Pode ser então uma fonte de esperança.
Um artigo dos psicólogos Pedro Frade, Susana Esteves, Margarida Teixeira e Sara Albuquerque, da Consulta do Luto.
Na Consulta do Luto do PIN, adultos e crianças/adolescentes podem encontrar este espaço seguro, agora também em grupo. Para questões sobre inscrição, funcionamento ou valores, contactar sara.albuquerque@pin.com.pt.
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