Embora noutros países as consultas online de Psicologia já existissem e fossem uma modalidade presente no quotidiano das pessoas, em Portugal, esta prática não era levada a cabo pela maioria dos profissionais. Foi na pandemia COVID-19 que se assistiu a um crescimento da procura e da oferta desta modalidade de consultas.

As sessões de psicologia online, também conhecidas como teleterapia ou e-terapia, tornaram-se cada vez mais populares devido à sua acessibilidade e flexibilidade.

Embora limitada, existe uma quantidade crescente de investigação científica que demonstra a eficácia de intervenções psicológicas mediadas pelas novas tecnologias. As evidências são particularmente robustas no caso de programas online dirigidos a condições como ansiedade e depressão. Vários estudos indicam que a terapia online pode ser tão eficiente quanto a terapia presencial, e de entre os diferentes modelos terapêuticos, a Terapia Cognitivo-Comportamental é a mais amplamente estudada e com o maior suporte científico.

Todavia, os resultados sugerem que as intervenções psicológicas online não são igualmente eficazes para todas as pessoas nem para todos os tipos de problemas. Assim, é essencial aprofundar a investigação, particularmente no que diz respeito à relação custo-benefício, à aplicação em diferentes condições de saúde mental e à avaliação de outras abordagens terapêuticas.

Seguem abaixo as principais vantagens e desvantagens da e-terapia.

Vantagens

1. Acessibilidade e conveniência. A terapia online permite que as pessoas acedam a apoio psicológico a partir do conforto das suas casas. Isto é especialmente benéfico para pessoas em áreas isoladas, com mobilidade reduzida ou agendas ocupadas que possam impedir a deslocação física.

2. Redução do estigma e menor exposição. Para as pessoas que têm alguns estigmas relacionados com a saúde mental, as consultas online podem ser menos intimidantes do que as consultas presenciais, encorajando mais pessoas a procurarem apoio. Embora o evitamento da exposição em espaços físicos possa ser benéfico numa primeira fase, deverá ser avaliado o seu impacto na vida da pessoa.

3. Flexibilidade. A e-terapia oferece, à partida, mais opções de agendamento, incluindo horários noturnos ou fins de semana, acomodando as necessidades dos clientes. Será sempre necessário fazer uma pesquisa, pois nem todos os profissionais dispõem de horários mais alargados, mas podem apresentar outras alternativas igualmente viáveis.

4. Custo-benefício. As sessões online podem ser mais económicas para os clientes, uma vez que poupam nos custos de deslocação.

5. Continuidade dos cuidados. As consultas online asseguram a continuidade do apoio durante situações disruptivas, como pandemias, doenças prolongadas, viagens ou mudanças de residência, permitindo que os clientes mantenham o progresso alcançado.

Desvantagens

1. Barreiras tecnológicas. O acesso a uma ligação estável à internet e o domínio das tecnologias são requisitos necessários. Alguns problemas técnicos podem interromper as sessões e dificultar a comunicação, pelo que é necessário garantir estratégias e alternativas a serem combinadas com os clientes (especialmente os que tenham mais dificuldades em manusear com as tecnologias).

2. Questões de privacidade. É essencial garantir a confidencialidade e estando o cliente em casa ou num espaço partilhado, isso pode tornar-se um desafio e uma dificuldade. É também importante utilizar plataformas seguras para proteger os dados sensíveis.

3. Redução das pistas não-verbais. A linguagem corporal e expressões faciais podem ser mais difíceis de perceber online, afetando a capacidade do psicólogo de interpretar plenamente as emoções e experiências do cliente. Esta situação pode comprometer algumas componentes da avaliação e intervenção psicológica.

4. Não é adequada a casos graves. A terapia online pode não ser ideal para pessoas com problemas de saúde mental graves ou em crise, uma vez que as sessões presenciais oferecem suporte mais imediato e seguro, além de existirem mecanismos de emergência que podem ser acionados de forma mais célere e eficiente. É necessário que o profissional, depois da sua avaliação, e mediante a existência de morbilidade e/ou comorbilidade (presença simultânea de mais do que uma doença), analise se a e-terapia faz sentido para o seu cliente ou não.

5. Relação terapêutica. Um dos principais pilares e preditores do sucesso da intervenção psicológica é a relação terapêutica. Criar esta ligação entre terapeuta e cliente pode parecer menos natural num ambiente virtual, pelo que precisam de fazer um esforço extra para estabelecer confiança e empatia. Para algumas pessoas parece ser mais fácil, uma vez que o contacto face-a-face pode ser um desafio, mas, para outras, pode ser menos natural levando a que possa existir menos compromisso.

A verdade é que as consultas online de Psicologia transformaram a prestação de serviços de saúde mental, oferecendo conveniência e ampliando o acesso. Contudo, não são uma solução universal, e a sua eficácia depende das circunstâncias individuais, da natureza das questões abordadas e da qualidade da relação terapêutica.

A este respeito, a Ordem dos Psicólogos Portugueses tem documentos com linhas de orientação para esta prática, sendo que uma muito importante é que o Psicólogo deve obter um consentimento informado, onde discute as limitações do processo de intervenção psicológica online, quando comparado com a intervenção presencial. Do mesmo modo, deverão ser discutidas com o cliente as particularidades e constrangimentos do canal de comunicação escolhido, assim como as evidências científicas disponíveis sobre a intervenção em causa.

Se o profissional lhe explicar que não beneficiará de consultas online, entenda que poderá ter mais desvantagens nessa modalidade.

Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.