Na vida de Vanessa Andrade, os verbos Ir e Fazer foram, desde sempre, de boa conjugação. Dois verbos de ação que, no início de 2019, ajudaram Vanessa, de 31 anos, a corporizar num projeto seu aquilo que era um caminho de mudança que já trazia, na época, perto de um ano percorrido. Vanessa dava corpo à sua página digital, Green Smiles. “Green por alusão ao verde, ao crescimento, à semente que vai germinar. Para mais, é a minha cor preferida. Smiles, porque sou conhecida pela minha gargalhada, genuína, entenda-se”. É Vanessa, na primeira pessoa e sempre de sorriso firme, que nos explica os porquês do apadrinhamento do projeto que criou onde nos dá mostra da sua mudança de vida mas que também pretende ser “um contributo para mudar os hábitos de vida de outras pessoas”.

Vamos por partes, foquemo-nos no percurso de Vanessa Andrade para percebermos o que motiva uma mulher, consultora de comunicação, diretora numa agência de marketing digital, a abdicar de parte desse percurso e a revolver o seu quotidiano.

Vanessa Andrade e a estória de quem com sorrisos verdes está a mudar estilos de vida
Vanessa Andrade e a estória de quem com sorrisos verdes está a mudar estilos de vida Viagem ao Sri Lanka.

“Tinha uma atividade profissional muito exigente, com longas jornadas de trabalho e a coordenação de equipas. Toda esta pressão é-nos devolvida e o corpo ressente-se. Surgiram-me alguns problemas de saúde. Entretanto, próximo aos 30 anos, foi-me diagnosticado um problema de hipertiroidismo. Fiquei chocada. Pensei, ´o que me está a acontecer?` Ninguém, de bata branca, me dizia o que se estava a passar, só me prescreviam mais comprimidos. Vi-me impedida de viajar, algo que adoro fazer”.

10 alimentos amigos de boas emoções e de uma vida mais positiva
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Para Vanessa não fazia sentido. Em agosto de 2017, decidiu subtrair à sua alimentação os produtos processados, o açúcar refinado, os lacticínios, quase tudo com origem animal. “Vou fazer um teste ao meu corpo”, foi a minha decisão, “sempre trabalhei o setor alimentar, nomeadamente marcas e alimentação em geral, estava a par dos contextos”. Na prática, “ajustei o meu estilo de vida ao que o meu corpo me dizia. Subtraí tudo aquilo que é inflamatório”. Um caminho que Vanessa admite ter sido “solitário, baseado em tudo o que já tinha investigado” e apoiado no gosto que sempre teve por cozinhar: “Quanto mais stressada estava mais ia para a cozinha. Mas sempre como um escape”. Dois meses após a sua decisão de mudança alimentar, Vanessa sente os primeiros sintomas abonatórios. “O acne melhorou, a má circulação atenuou-se substancialmente”.

Para Vanessa foi um processo de descoberta, embora sem a ditadura desta ou daquela dieta. “Paleo, crudivorismo, não entrei por nenhum desses caminhos, são dietas restritivas, diabolizam sempre algum alimento. Tão pouco basta encher o prato com alimentos de todas as cores. Temos de ter consciência dos nutrientes, do que é uma dieta equilibrada”. Para Vanessa foi, também, um processo de resistência e resiliência. Contrariar a opinião de quem lhe dizia, “não vais consumir proteína animal, vais ficar anémica. Só vais comer saladas com alface?”. “É mentira, há centenas de ingredientes. Temos muitos vegetais, muitas leguminosas, um mundo de alimentos”.

Uma senda que, para a nossa interlocutora, obrigava a juntar outras dimensões: “Mudei o meu padrão de pensamento, apliquei-me na atividade física e repensei o relacionamento com quem está à minha volta”.

Vanessa queria ganhar uma nova qualidade de vida, ajustar a alimentação ao seu quotidiano. “Descobri a Macrobiótica, que me fez sentido. Foi a única que não foi restritiva. Há uma alimentação padrão que se ajusta ao estado de saúde, a época do ano e a região onde vivemos. Fazia sentido, no verão tenho de comer diferente do inverno. A terra também nos dá diversidade a cada estação do ano”.

“Foi uma viagem de crescimento. Entrei no curso anual de Macrobiótica e culinária, do Instituto Macrobiótico de Portugal”, salienta Vanessa, uma viajante por natureza que passou a olhar para os seus périplos globais, pelo Sri Lanka, Indonésia, Cuba, entre outras paragens, de uma nova forma: “Cada cozinha está adaptada aos seus contextos. Adoro descobrir os mercados, perceber os porquês. A cozinha em África e Ásia é diferente. O meu corpo vai-se adaptar a esse clima, nos climas quentes e húmidos o picante permite arrefecer a temperatura corporal”. Vanessa recorda uma refeição partilhada com uma família no Sri Lanka. “Cozinhámos juntos diferentes tipos de caril, com ingredientes diferentes, incluindo folhas de bananeira. Foi uma experiência incrível”.

No último semestre de 2018, o meu caminho nas agências deixou de fazer sentido. Continuo a dar aulas de marketing digital, sou formadora, mas criei um espaço substancial para a área alimentar e todas as emoções e psicologia existentes entre o alimento e o nosso corpo.

vanessa andrade
vanessa andrade Em Bali, na Indonésia.

Vanessa criava a sua página, a Green Smiles e corporizava a sua paixão. “Um prazer, literal. Quis mais tempo para investir na alimentação, embora sem abdicar do gosto pelo marketing e comunicação. No início de 2019, fiz a grande mudança. Deixei uma vida relativamente segura e bem-sucedida e enfrentei este novo desafio”.

Para Vanessa, a Green Smiles, não destitui a componente da alimentação das emoções. “O que podemos tirar dos alimentos, os seus benefícios. Apresento receitas, algumas tradicionais, adaptadas a um estilo de vida mais equilibrado. Valorizo a parte emocional, a relação dos órgãos com os alimentos. Se estou mais efusiva, cansada ou mesmo exausta, se preciso de concentração, que alimentos devo procurar e ingerir”.

Tarte de cacau
Tarte de cacau
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Vanessa quer transmitir conhecimento. Algo que assume como um propósito de vida, de despertar consciência. Que os seus leitores percebam a relação de causa-efeito entre o que comem e o que sentem. Transmitir a minha experiência e, com ela, passar essa força. Aprendi a respeitar o meu corpo, o autoconhecimento alimentar”. Vanessa junta-lhe a preocupação com o ambiente: “A Macrobiótica é um estilo de vida, em respeito com o meio. Como abdicar de toda esta proteína animal? Não há água para ´alimentar` toda a carne que consumimos. Um bife exige cinco mil litros de água, um quilo de batata, 50 quilos. Faz sentido? Não fomos feitos, quer pela dimensão do nosso intestino, dos nossos dentes, para consumir tanta proteína animal”.

vanessa andrade
vanessa andrade Vanessa não dispensa uma visita aos mercados. Aqui, no Sri Lanka, na Ásia.

O percurso de Vanessa tem a companhia de quem lhe está próximo.  “Primeiro estranha-se, depois percebe-se o sentido de tudo isto. Por exemplo, à laia de teste, há uns tempos, apresentei à minha família uma maionese vegana, sem ovos. Uma prova cega. Adoraram a maionese. Pode imaginar o espanto quando lhes revelei a receita”, sublinha Vanessa alegremente.

“Não vivemos numa gruta, mas sim em sociedade. Não podemos ser radicais. Se num certo dia não temos, por exemplo, o arroz integral, os picles, a sopa miso, no dia seguinte contrabalançamos, e equilibramos a componente emocional. Ou seja, não advogo regimes alimentares restritivos”.

Para o seu Green Smiles a nossa interlocutora sonha: “Vejo-o como um sítio onde as pessoas possam partilhar novas experiências, em livro, em viagens, em workshops, em retiros”.

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