No campo do sono, uma rotina adequada pode desenvolver a existência de estabilidade no ritmo circadiano, o que permite um melhor desenvolvimento do bebé a todos os níveis – físico, intelectual e emocional. Num bebé, este campo é o melhor avaliador do ajuste da rotina (face à idade, peso e mesmo temperamento do bebé). O sono é dos primeiros campos a dar sinais de perturbação quando a rotina, ou conjunto de rotinas, não são apropriadas. Uma rotina desadequada afeta também padrões alimentares, o comportamento geral, e quando arrastadas para depois da primeira infância, pode mesmo ter um impacto negativo no temperamento da criança.
Estabelecer rotinas consistentes e adequadas permite ao bebé criar um sentimento de confiança e segurança no mundo, e uma organização cognitiva das vivências do dia-a-dia que optimiza a sua aprendizagem – ao acordar, fazer as refeições, brincar, fazer as sestas e no fim do dia tomar banho e ir para a cama todos os dias às mesmas horas, e com a mesma cadência, o bebé vai conseguir prever o que vai acontecer a seguir. Esta capacidade de antecipar ajuda-o a perceber o que esperar e a confiar que os seus cuidadores vão conseguir satisfazer as suas necessidades, o que lhe transmite um sentimento profundo de segurança.
Quando são ligeiramente mais velhos, uma rotina adequada tem também a vantagem de diminuir os conflitos na relação pais-filhos. Será natural, e até desejável, que as crianças pequenas confrontem os pais na procura de poder, que tentem fazer as coisas à sua maneira. No entanto, embora existam muitas escolhas que possam ser feitas pela criança – com que brinquedo prefere brincar, a cor do prato onde vai comer, ou que roupa lhe apetece vestir (desde que não sejam chinelos no Inverno), existem decisões que competem aos pais. Apesar de ser expectável que algumas crianças a partir de certa idade achem preferível brincar a ir dormir, questões como a hora de deitar não devem ser questionadas pelas crianças, embora logicamente o tentem fazer. Existindo uma rotina ajustada, uma consistência diária, a probabilidade de existirem conflitos diminui porque a criança sabe com o que conta e percebe que “vai ser sempre assim”. A rotina dita a lei e diminui a “insistência” dos pais.
As rotinas ensinam comportamentos positivos e responsáveis, que promovem a saúde e a segurança das crianças. Através delas aprendem, por exemplo que se deve lavar sempre as mãos antes das refeições ou que se deve dar a mão a um adulto quando se atravessa a estrada. Assumem também um papel crucial no processo de retirar a fralda, seja durante o dia ou mesmo à noite, pois além da iniciativa funcional, permitem regular fisiologicamente o organismo.
As rotinas ajudam a desenvolver competências sociais. O bebé rapidamente começa a observar os ambientes em que se encontra e os padrões específicos de cada contexto, as pessoas com quem vai interagindo (ou com quem vê os pais a interagir). Vai captando os sinais e as rotinas sociais, como por exemplo, dizer “Olá” e “Adeus”, as circunstâncias para diferentes posturas, ou até mesmo algo tão simples como ter que esperar pela sua vez de falar.
Importa, ainda assim, que o bom senso predomine, pois o excesso de rotinas se associado a um funcionamento rígido, inflexível e pouco empático por parte dos pais, pode anular estes benefícios.
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Ana Amaro Trindade - Psicóloga Clínica
Carolina Albino - Especialista em Ritmos de Sono do Bebé
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