O problema que Madonna interpretava em «Material girl», onde gritava a plenos plumões que era uma rapariga materialista a viver num mundo ainda mais materialista, não é propriamente novo mas tem vindo paradoxalmente a agravar-se, apesar da crise económica dos últimos anos.
A compulsão por compras, designada também de oniomania, pertence ao grupo das perturbações do controlo dos impulsos.
Um estudo recente, realizado na União Europeia, revelou que, na Escócia, em Itália e em Espanha, mais de metade das raparigas (entre os 14 e os 18 anos) apresentava sintomas de vício em compras e oito por cento revelava mesmo sinais de uma compulsão patológica. O aumento exponencial de oferta de bens de consumo, o crédito fácil e o aumento dos casos de depressão e ansiedade criaram as condições ideais para o desenvolvimento deste comportamento compulsivo.
Afinal são carências afetivas
A compulsão por compras pode esconder problemas mais profundos como uma depressão ou um quadro de ansiedade ou pode estar relacionado com carências emocionais, atuais ou vividas na infância. Para Ana Cristina Almeida, psicóloga, esta «é uma forma da pessoa lidar com a frustração e o tédio, com a satisfação imediata de adquirir um bem que proporciona uma sensação de satisfação».
«Mas também uma forma desadequada da pessoa lidar com sentimentos interiores de carência emocional e baixa auto-estima. Por vezes, as pessoas confundem ter valor e ter bens valiosos e gastar dinheiro, com o serem ricas emocionalmente e como pessoas», sublinha a especialista.
Controlar o impulso na hora certa
«Os comportamentos compulsivos como este são alimentados pelo próprio ato de realizar a compulsão. Quanto mais se permitir a satisfazer o impulso, mais ele vai crescer», alerta a psicóloga Ana Cristina Almeida. «Não deixe que o hábito se instale e procure outras formas de autossatisfação e compensação e evite centros comerciais, sempre que estiver nervosa, entediada ou angustiada», aconselha a especialista.
É uma shopaholic?
Sete sinais que denunciam um comportamento compulsivo:
1. Olhar para a conta bancária e compreender que gastou para além do seu orçamento.
2. Olhar para a sua casa e identificar imensos objectos (nomeadamente roupa, acessórios, bijuteria, sapatos, livros e/ou revistas, entre outros) que sabe que nunca usou ou leu e que apenas se tornaram interessantes para si no momento da compra.
3. Chegar a casa depois de um dia de compras (e isto acontecer-lhe várias vezes) e sentir que fez más compras, não gosta da roupa, dos acessórios ou de outras aquisições a outros níveis e vai emprateleirando-os.
4. Estar numa loja e sentir um bichinho que a empurra e estimula à compra e a sensação de que tudo parece ser mais fantástico e melhor na loja do que em casa.
5. Sair de casa decidida a não gastar dinheiro e chegar a casa tendo gasto muito mais do que aquilo que podia e devia.
6. Sonhar acordada com a ida às compras.
7. Sentir-se nervosa por qualquer assunto (discussões em casa e no trabalho e/ou preocupações de saúde, entre outras outras) e a primeira (ou segunda) coisa em que pensa é ir às compras para se distrair e compensar.
Texto: Sofia Cardoso com Ana Cristina Almeida (psicóloga clínica e diretora clínica da Clínica Psicronos em Lisboa), Cláudia Sousa (psicóloga clínica no Instituto Cuf) e Fernando Mesquita (psicólogo clínico e sexólogo)
Edição internet: Luis Batista Gonçalves
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