Este é um tema grave e relevante que é frequentemente negligenciado. O Suicídio é um grave problema de saúde pública a nível mundial. Os números falam por si: a cada 40 segundos morre uma pessoa num mundo vítima de suicídio, o que corresponde a cerca de 800.000 mortes anuais no mundo por esta causa.
Cada suicídio é não só uma tragédia para quem perde a vida, mas também para os familiares, colegas, amigos e comunidade onde aqueles que cometem suicido se inserem, frequentemente sem terem assistência de que necessitam. Nos últimos anos o suicídio tem aumentado nos mais jovens, sendo que na faixa etária entre os 15 e os 29 anos esta é, a seguir aos acidentes, a segunda causa de morte.
As tentativas de suicídio ocorrem cerca de 20-30 vezes mais do que os suicídios consumados. Uma tentativa prévia de suicídio é considerada como um dos mais importantes fatores de risco para o suicídio. Assim especial cuidado deve ser tomado com aqueles que sobrevivem a uma tentativa de suicídio, no sentido de terem os cuidados e seguimento de que necessitam. No geral, o suicídio predomina nos homens, com uma proporção de 3:1 em relação ao sexo feminino.
O suicídio é um problema universal, podendo afetar todos, em qualquer lugar. Ao contrário do que se pensa, o suicídio não é um problema apenas dos países desenvolvidos. Quase 80% dos suicídios ocorrem em países com baixo ou médio rendimentos, onde os recursos para identificar e apoiar aqueles que necessitam são escassos. A melhoria de todos os sistemas de saúde mental é imperativa para reduzir os números trágicos do suicídio.
Felizmente uma parte significativa dos suicídios pode ser prevenida. Temos que garantir que todos têm o apoio de que necessitam quando necessitam. O falar-se deste tema, como neste Dia Mundial da Saúde Mental, é fundamental para reduzir o estigma associado, permitindo que aqueles que necessitam falem sobre este assunto e procurem ajuda. Restringir acesso aos meios letais, estimular os média a divulgarem histórias de esperança e identificar aqueles em risco de suicídio o mais precoce possível, para poderem ter o suporte de que necessitam, são aspetos importantes na prevenção do suicídio.
Os estudos indicam que 90-98% dos suicídios ocorrem em contexto de doença psiquiátrica, as mais prevalentes são as perturbações afetivas, que inclui a depressão e doença bipolar (cerca de 30%) e o uso de substâncias (como o álcool) (18%).
Assim o tratamento efetivo das doenças mentais são aspetos chave para assegurar que os doentes recebem os cuidados que necessitam.
Por outro lado, a sociedade tem um papel importante na prevenção do suicídio, podendo providenciar o suporte social aos indivíduos vulneráveis e empenhar-se no seguimento dos doentes, combater o estigma e apoiar aqueles que ficam enlutados pelo suicídio de um familiar ou amigo.
Todos somos responsáveis pela identificação daqueles que pensamos que poderão estar em risco: amigos, familiares, colegas ou conhecidos.
Aqueles que se pensa que estão em risco devem ser avaliados por profissionais de saúde e orientados para assegurar o seu tratamento e seguimento efetivos.
Um artigo de opinião do médico Ricardo Coentre, especialista em Psiquiatria no Hospital Lusíadas Lisboa.
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