Provavelmente, a última vez que ouviu falar de Alopecia foi na noite dos Óscares (ou quiçá a primeira vez em que teve conhecimento desta doença), quando Will Smith esbofeteou Chris Rock após uma piada sobre a doença da sua esposa, Jada Pinkett Smith. 

A Alopécia é uma doença autoimune, crónica (e sem cura) que envolve a queda de cabelo constante e exacerbada durante um período superior a 06 meses, a qual provoca uma diminuição da densidade capilar e que, por vezes, integra as designadas “falhas” e “peladas” no couro cabeludo. Esta doença integra dois tipos: alopécia areata e alopécia androgenética. 

A primeira diz respeito a uma doença autoimune em que o sistema “ataca” a produção de novos fios de cabelo e, simultaneamente, provoca a queda. 

Por sua vez, a segunda tem origem em causas genéticas, associadas a outros fatores como as hormonas e a idade (por exemplo, as hormonas da menopausa e o envelhecimento das células podem desencadear esta doença, quando existe predisposição genética). Contudo, para algumas pessoas, a predisposição genética pode ser suficiente para em situações de crise, consideradas de “stress agudo”, como a perda de uma pessoa próxima, término de uma relação, mudanças laborais, a doença ser “imediatamente” ativada.  

Esta doença afeta homens e mulheres, de diferentes faixas etárias e com um impacto único e altamente individualizado para cada pessoa, mas com um elemento em comum: o prejuízo (não raras vezes) avassalador na autoestima. 

As investigações sobre o impacto da alopecia na saúde mental apontam para sintomas de depressão, de ansiedade e, em alguns casos, de ideação suicida. 

Na verdade, é um círculo vicioso. Se, por um lado, a pessoa quer travar a queda de cabelo, a ansiedade vivenciada no dia-a-dia aumenta a própria queda. Momentos considerados banais são dolorosos para as pessoas com alopecia: lavar o cabelo, pentear o cabelo, ver os cabelos perdidos pelas diferentes divisões da casa (no chão, no sofá, na cama, na almofada), ver-se ao espelho (e a própria ansiedade em relação ao futuro, “vou ficar assim para sempre?”, “vou piorar ou recuperar algum cabelo?”). 

O suporte emocional tende a ser reduzido (“é só cabelo”, “a mim também cai, mas depois logo cresce”, “vais chorar por causa disso? Olha as pessoas com doenças mais graves”) e, por vezes, podem surgir verbalizações negativas, que fragilizam a pessoa, ainda que não fosse essa a intenção do outro lado (“estás péssima, tens de tratar disso”, “és tão nova e já estás assim”). 

Peça ajuda

Se tem sintomas de depressão ou tem pensamentos de suicídio, utilize o Serviço de Aconselhamento Psicológico, integrado na linha telefónica do SNS 24, através do 808 24 24 24.

Pode ainda recorrer às linhas de apoio em baixo

SOS VOZ AMIGA

Horário: Diariamente das 15:30 às 00:30
Contacto Telefónico: 213 544 545 | 912 802 669 | 963 524 660

CONVERSA AMIGA

Horário: 15:00 – 22:00
Contacto Telefónico: 808 237 327 | 210 027 159

VOZES AMIGAS DE ESPERANÇA DE PORTUGAL

Horário: 16:00 – 22:00
Contacto Telefónico: 222 030 707

TELEFONE DA AMIZADE  

Horário: 16:00 – 23:00
Contacto Telefónico: 222 080 707

VOZ DE APOIO

Horário: 21:00 – 24:00
Contacto Telefónico: 225 506 070
Email: sos@vozdeapoio.pt

Para algumas pessoas, é como se existisse uma sensação de fragmentação da própria identidade, pensamentos como “eu tenho queda de cabelo” ou “eu tenho alopecia” são substituídos por “eu sou careca” ou “eu sou horrível”, como se a doença definisse a pessoa, a sua identidade, quem ela é. 

Naturalmente que a baixa autoestima pode afetar os diferentes domínios do funcionamento da pessoa, desde o domínio social (por exemplo, isolamento social, sensação de incompreensão), ao domínio laboral (por exemplo, desconforto em reuniões, momentos de exposição associados a ansiedade e constrangimento) e interpessoal (por exemplo, a existência de crenças como “eu não sou suficiente”, “eu sou feio” que colocam inseguranças nas relações amorosas). 

Apesar do impacto positivo dos tratamentos que tem vindo a ser desenvolvidos para a alopecia, de natureza oral (suplementos alimentares), sistémica (sérum) ou cirúrgica (transplante capilar), o processo tende a ser moroso. Em alguns momentos, a impotência face à queda pode desencadear momentos de raiva, verdadeiras “explosões emocionais” (gritar, chorar, autoagressões). 

O mencionado isolamento é também facilitado pela sensação de estar a ser observado pelos indivíduos que rodeiam a pessoa com alopecia e pelo consequente medo do julgamento social, que causa desconforto e alimenta as fragilidades na autoestima. 

Recorrer a ajuda psicológica especializada pode ser um passo importante para encontrar ferramentas de regulação emocional, alcançar um discurso interno mais positivo, definir uma rotina de autocuidado, (re)investir na vida social e, por conseguinte, facilitar uma potencial maior eficácia da terapêutica (a qual deve ser prescrita por um tricologista, isto é, um dermatologista especializado em doenças capilares). 

Procure ajuda, não se encontra sozinho(a)! 

As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.