Diz o adágio que “o que é doce nunca amargou”. Não obstante a candura do dito, que tão bem nos cai na hora de nos lançarmos à guloseima, sabemos que o doce pode trazer alguns amargos e não são só de boca. Em si, não vem mal ao mundo por nos deliciarmos com um doce, sendo este a exceção num quadro de alimentação equilibrada. Uma constatação o que é tão válida para a Bola de Berlim, como aqui vimos, como o é, nesta estação mais quente, para os gelados.

Gelado versus sorvete, o que distingue os dois primos amigos do verão?
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Sobem as temperaturas e no pódio dos mais desejados da estação estão os gelados. São frescos e proporcionam-nos uma sensação de arrefecimento corporal. Um efeito que beneficiaria com o consumo de água fresca. Mas, quis a natureza, e bem, não a dotar de açúcares. E, como bem sabemos, os açúcares são sedutores na hora de nos cativarem.

Acresce que os gelados para nos conquistarem as papilas gustativas (depois hão de conquistar outros territórios corporais que não desejaríamos ver conquistados, como o perímetro abdominal), são normalmente produzidos com uma base de leite ou natas, existindo uma versão “alternativa” sem estes elementos, o sorvete.

Sublinhe-se que qualquer uma destas opções é, normalmente, rica em açúcar. Mesmo que estejamos a falar de um gelado à base de fruta (ou açúcar da fruta) o processamento que lhe está associado concorre, sempre, para que estes açúcares atinjam a corrente sanguínea com alguma rapidez, não fazendo destes produtos, substitutos da fruta do ponto de vista nutricional.

Se “o que é doce nunca amargou” porque não podemos comer gelados todos os dias?

Em relação aos gelados com base de leite ou natas, para além de açúcar possuem gordura, o que contribui para aumentar o seu valor energético. Ou seja, as calorias.

Um gelado sem açúcar terá normalmente adoçantes, sobre os quais já aqui falamos, mantendo o seu conteúdo em gordura. Uma vez mais, há o contributo para o valor energético.

Em suma, qualquer que seja a opção, um gelado representa sempre um excesso alimentar. Escolher um gelado porque tem menos calorias, comparativamente com outro, pode não ser a melhor opção. Os excessos alimentares, os pequenos pecados ou prazeres a que nos rendemos, devem constituir isso mesmo, fonte de prazer e, muitas vezes as versões light ou alternativas não nos deixam verdadeiramente satisfeitos.

No momento de escolher tudo depende, mais vale comer pontualmente o gelado que realmente nos apetece, do que beliscar constantemente naquele que nos deixa com aquela sensação de “falta qualquer coisa”.

Em alternativa, porque não fazer o controlo do excesso através de uma gestão por dose. Como? Simples, coma todos os dias, mas uma porção miniatura. As suas papilas gustativas pularão de alegria.

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Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik.


Cláudia Viegas é Professora Adjunta na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa. Os seus principais interesses de investigação estão relacionados com Alimentação em contexto de Hotelaria e Restauração na relação com a Saúde Pública, Promoção e Proteção da Saúde e Estilos de Vida.