"Em casos muito graves, o burnout pode levar ao suicídio mas, nestas situações, há invariavelmente uma concomitância de outras patologias, como a depressão, que escurece o passado, o presente e o futuro, deixando o doente sem qualquer sinal de esperança", começa por explicar Fernando Almeida, médico psiquiatra no Hospital Lusíadas Porto.
A síndrome de burnout foi pela primeira vez descrita pelo psiquiatra e psicoterapeuta americano Herbert Freudenberger, em 1974. Este médico constatou que alguns dos seus colaboradores numa clínica para toxicodependentes apresentavam, após um ano de atividade, desmotivação, queixas somáticas - como dores nas costas, problemas gastrointestinais e dores de cabeça - e problemas de humor. Para além destes sintomas, mostravam-se totalmente intolerantes a situações de stress.
"O burnout pode afetar indivíduos normais, no sentido de não terem uma depressão ou qualquer outra patologia prévia, mas pode cursar juntamente com uma depressão", alerta o especialista.
"Se a sintomatologia caraterística da síndrome depressiva – da qual se destacam o humor triste, a lentificação psicomotora, pouca autoestima, abulia, apatia, a falta de prazer ou o desinteresse por atividades que eram agradáveis – ocorrer previamente a qualquer situação de burnout, é relativamente fácil efetuar o diagnóstico diferencial" e detetar se se trata de burnout, depressão ou as duas coisas, indica o especialista.
Segundo o médico, quando um quadro clínico de burnout surge em simultâneo com uma depressão, é muito provável que a pessoa continue a estar depressiva apesar da inibição da situação que causa essa exaustão emocional (burnout).
1 em cada 5 trabalhadores sofre de burnout
Estudos recentes indicam que cerca de um quinto dos trabalhadores portugueses são afetados pelo burnout. Mas o "burnout sempre existiu embora não fosse como tal identificado", comenta o psiquiatra.
A evolução das sociedades tende a preocupar-se progressivamente com as condições de trabalho. A implementação de regras de segurança no emprego, o combate ao assédio sexual, a obrigatoriedade em ter médico em algumas empresas são algumas das muitas medidas que têm contribuído para melhorar essas condições laborais.
"Porém, uma maior competitividade pela manutenção do posto de trabalho, o não cumprimento das regras impostas pela legislação, a crise económica e as consequências daí advenientes são, entre outros, fatores que podem contribuir para uma maior probabilidade de os trabalhadores portugueses serem vítimas de burnout", alerta o especialista.
Tradicionalmente considera-se que os profissionais que estariam mais suscetíveis a desenvolverem esta síndrome seriam aqueles cujas profissões exigem muito envolvimento direto e intenso, como os profissionais de saúde e os polícias. "A nossa prática clínica leva-nos a considerar que profissionais da educação e todos aqueles cuja atividade seja muito intensa, sujeita a risco ou a avaliação e desconsideração injusta, são particularmente propensos a sofrerem de burnout", acrescenta Fernando Almeida.
A prática de exercício físico ou de atividades relaxantes é outra das formas de aliviar o burnout
Qual é o tratamento?
"O tratamento implica melhorar as circunstâncias e condições que originaram o burnout, das quais se destacam a melhoria das condições de trabalho, a melhoria das relações profissionais com diminuição do isolamento e uma melhor integração do profissional", explica.
Por vezes, o tratamento implica a retirada temporária – ou até definitiva – do trabalhador daquele local de trabalho. Em casos mais flexíveis, a reorganização das tarefas ou um maior convívio com a família e amigos podem ajudar.
"A prática de exercício físico ou de atividades relaxantes é outra das formas de aliviar o burnout", sugere o médico.
"Mas, não raramente, o tratamento do burnout implica o recurso a ajuda médica, nomeadamente, quando a pessoa tem sintomas (depressão, ansiedade, etc.) que justificam farmacoterapia", esclarece este psiquiatra.
Comentários