Observa-se atualmente uma mudança de paradigma em vários setores, e o da saúde não é exceção, com a implementação de novas tecnologias e dispositivos médicos. Especificamente no que diz respeito à diabetes, assistimos a uma ‘epidemia’ à escala global que afeta mais de 500 milhões de pessoas. Uma percentagem significativa destas ainda não está diagnosticada e a cada cinco segundos, a diabetes e as complicações dela resultantes, reivindicam mais uma vida, de acordo com o IDF Diabetes Atlas. O estudo “Diabetes in America” conclui ainda que o encargo económico é igualmente impressionante, com milhares de milhões de euros em despesas de saúde. Contudo, a interação  entre uma pessoa com diabetes e o seu médico é desproporcionalmente mínima, de acordo com o British Journal of General Practice.

Além da pressão destes números, a indústria de dispositivos médicos para a diabetes enfrenta uma série de outros desafios. Assistimos a uma crescente pressão para reduzir os preços em produtos que são cada vez mais complexos e sofisticados, enquanto a adoção de modelos de comparticipação value based exige uma constante demonstração do valor acrescentado destes dispositivos. Finalmente, vê-se a braços com a necessidade de estabelecer uma comunicação eficaz com vários - stakeholders, incluindo doentes, prestadores, pagadores e a sociedade em geral.

Para superar esses desafios, as empresas estão a concentrar-se em estratégias de capacitação de doentes, prestadores e colaboradores, onde integram tecnologia em processos-chave e adotam uma abordagem omnicanal, para ir ao encontro dos mesmos nos seus canais de preferência.

As expetativas do setor estão a mudar. Agora, os pacientes procuram experiências personalizadas, semelhantes às oferecidas pelas principais indústrias de serviços. Isto inclui o processamento digital da burocracia relacionada com os cuidados de saúde, o apoio omnicanal e os serviços remotos. A personalização da comunicação paciente-profissional já não é considerada um luxo, mas sim uma necessidade.

Os avanços tecnológicos são os impulsionadores desta transformação. A adoção de tecnologias como a IA, IoT e monitorização remota foi acelerada pela pandemia e transformou a forma como os cuidados são prestados. Estas tecnologias permitem diagnósticos em casa, soluções de autocuidado e monitorização contínua através de dispositivos (wearables), que promovem uma mudança para cuidados de saúde preventivos e personalizados.

Depois há toda a temática da gestão personalizada da doença. No caso da diabetes, trata-se de compreender que fatores como a composição genética de cada paciente, o seu estilo de vida e outras características pessoais, são únicas. Os dispositivos médicos e as plataformas digitais tendem a tornar-se os repositórios destes dados, possibilitando que os prestadores de saúde possam dispensar cuidados tão individuais como o próprio paciente. O desafio, nesta vertente, prende-se com as questões relacionadas com a privacidade dos dados e o elevado custo da tecnologia.

Inteligência artificial (IA): um fator de mudança na precisão dos dispositivos e na análise de dados

Assim, a IA surge como um aliado fundamental e transformador na saúde, e, claro, no tratamento da diabetes. Os algoritmos de IA estão a melhorar a precisão e a eficiência da monitorização da glucose e permitem ajustes em tempo real e recomendações de tratamento personalizadas, de acordo com um estudo da National Library of Medicine. As informações preditivas geradas pela IA são cruciais para antecipar e gerir as flutuações da glucose e melhoram a segurança e a experiência do doente. Por isso, a integração da IA no apoio ao doente está a começar a ganhar forma, através do envio de sugestões personalizadas e da automatização de tarefas de rotina, elevando a qualidade dos cuidados.

O caminho a seguir: Adotar a tecnologia para um ecossistema de apoio

Posto isto, qual o caminho a seguir? A resposta passa, claro, pela adoção da tecnologia como aliado no atendimento cada vez mais personalizado às pessoas com diabetes. Existem desafios, e o cenário competitivo exige não só a diminuição do encargo para os sistemas de saúde, mas também uma utilização inteligente dos dispositivos e dos seus dados para melhorar a autonomia dos doentes. No entanto, a formação para a interpretação de dados e apoio proactivo é fundamental. A adoção da IA e de outras tecnologias, com a garantia simultânea da conformidade, da transparência e da utilização responsável, é o equilíbrio de que o setor necessita.

A indústria de dispositivos médicos para a diabetes precisa de traçar caminho em diversas áreas, nomeadamente na inovação estratégica, adoção de tecnologias de ponta e fomentação de modelos de cuidados centrados no doente. À medida que avança, o setor deve manter-se aberto, ágil, reativo e empenhado na capacitação dos doentes, e garantir que o futuro dos cuidados com a diabetes não seja apenas tecnologicamente avançado, mas também humano e acessível.

A integração estratégica da IA e das estratégias de gestão personalizada é crucial para que o setor satisfaça as expetativas tanto dos doentes como dos profissionais de saúde. O futuro dos cuidados com a diabetes será definido pela capacidade do setor de tirar partido destas tecnologias de forma responsável, com conformidade,  transparência e um maior apoio e autonomia dos doentes.

Um artigo de Manuel Lacerda Cabral (VP Healthcare Solutions – EMEA ML Region na Teleperformace).